Apresentava um currículo que nunca se confirmou, mas que lhe valeu constantes subidas na carreira
Foi durante décadas uma das professoras mais respeitadas na margem sul, onde começou a dar aulas ainda na década de 1980, então no Barreiro. Agora sabe-se que Paula Pinto Pereira não tinha, nem de perto, o currículo que defendia, e que lhe valeu uma posição elevada no sistema de ensino.
Dois colegas da docente falaram à CNN Portugal em condição de anonimato, explicando que já há muito que naquele agrupamento se falava da situação.
"Conheço-a há muitos anos. Gosta de cargos e de popularidade, mas afinal viveu uma mentira, uma mentira bem forjada", diz um dos colegas.
É que Paula Pinto Pereira dizia ter um mestrado em Cambridge, uma das faculdades mais reputadas do mundo, e um doutoramento na Madeira. Tudo isto "sem sair da Sobreda", localidade no concelho de Almada, onde a docente passou grande parte da carreira, até ter sido desmascarada no início deste ano letivo, ela que ainda no ano passado participou em manifestações da classe.
"Dizia a toda a gente que tinha um mestrado em Cambridge, também tinha feito um doutoramento na Madeira... isto tudo sem nunca ter saído da Sobreda", acrescenta o mesmo docente. Além disso, tinha também todas as licenças necessárias para lecionar, nomeadamente o exigido certificado com selo branco.
Em Almada, além de dar aulas de Matemática, tinha ainda outras responsabilidades. "Desempenhou vários cargos: chefiava departamentos, era avaliadora de professores... era uma das avaliadoras mais conhecidas do concelho de Almada. Avaliava professores, dava-lhes notas. Orientou dezenas de estágios de docentes em início de carreira", sublinha outro docente, referindo que Paula Pinto Pereira era escolhida para estas funções pela experiência que dizia ter.
Lembrada como alguém que "criticava muito o trabalho dos outros", era também conhecida como co-autora de vários manuais de Matemática, alguns ainda hoje a uso, e que foram publicados pela Raiz Editora.
Para não levantar suspeitas sobre a sua atividade, diz um colega, ajudava os seus alunos a terem boas notas. "Antes dos testes fornecia fichas parecidas com o teste verdadeiro, daí alguns pais continuarem a gostar dela", explica um dos docentes, garantindo que a situação nem será única na escola, onde haverá mais docentes numa situação semelhante.
Além de ter sido impedida de lecionar, a professora tem sobre si um processo em que o Ministério da Educação pede uma indemnização por suspeitas de fraude qualificada, que o jornal Público diz ser de 350 mil euros.