"Precisei de muito tempo para perceber que se tratava de uma violação". Antigo pivô da televisão francesa acusado por 20 mulheres de abusos sexuais

12 mai 2022, 17:00
Patrick Poivre d'Arvor (Foto: Vianney Le Caer/Invision/AP)

Patrick Poivre D'Arvor tornou-se conhecido em horário nobre, a apresentar noticiários no canal TF1. Esta semana, um grupo de mulheres deu a cara e acusou-o publicamente de assédio sexual e violação, tendo a maioria dos casos acontecido, segundo as alegadas vítimas, no escritório do antigo jornalista

Jornalistas, escritoras, lojistas, bibliotecárias. Duas dezenas de mulheres, com idades entre os 28 e os 63 anos, algumas dando a cara pela primeira vez, acusam o jornalista e autor francês Patrick Poivre d’Arvor de assédio sexual e violação. Poivre d’Arvor, de 74 anos, é conhecido em França pelas iniciais PPDA e foi pivô do canal de televisão público Antenne 2 de 1976 a 1983, e da TF1 entre 1987 e 2008, onde se tornou célebre.

Não é a primeira vez que o jornalista é alvo deste tipo de acusação: em fevereiro do ano passado, a escritora e jornalista Florence Porcel, de 38 anos, apresentou queixa na polícia por duas violações, em 2004 e 2009. A investigação acabaria por ser arquivada quatro meses depois, por o juiz considerar que não havia provas suficientes para seguir com a acusação e também porque já tinha prescrito o prazo legal para apresentar queixa-crime.

Na terça-feira, o site francês de investigação Mediapart difundiu o especial "PPDA: 30 Anos de Silêncio" numa tradução literal, no qual um grupo de 16 mulheres - muitas não se conheciam até ali - deu a cara para denunciar o jornalista por abusos sexuais; outras duas mulheres optaram por esconder o rosto, mas também apresentaram denúncias, bem como outras duas alegadas vítimas que, mostrando a face, decidiram falar em separado.

Ao todo, 20 mulheres acusam PPDA de abusos, que terão começado na década de 1980, pelo que estão agora fora dos prazos legais para serem levados à justiça. Duas das denunciantes eram menores na altura dos abusos, que na maioria terão acontecido no escritório do apresentador e jornalista, na estação de televisão onde trabalhava. 

Três casos já em investigação

Já no seguimento da denúncia de Florence Porcel, 22 mulheres falaram com a polícia para denunciar PPDA e 17 chegaram mesmo a apresentar queixas-crime, apesar de os casos já não poderem ser levados a tribunal devido à prescrição dos prazos legais - oito das denúncias falavam em violação. Nesta altura, há três casos contra PPDA em investigação pelas autoridades, refere a imprensa francesa

"Pareceu-me importante vir. Hoje formamos um grupo, queremos mostrar que estamos unidas, formamos um bloco, Patrick Poivre D'Arvor já não nos mete medo", diz no programa da Mediapart Florence Porcel, citada no site da revista L'Obs.

 

A antiga jornalista Justine Ducharne foi uma das que denunciaram publicamente os abusos de PPDA pela primeira vez, tomando a palavra para falar sobre "este horror que ele me fez passar".

"Na altura, pensava que estava sozinha, nunca imaginei que isto poderia acontecer com outras pessoas", desabafou. 

Margot Cauquil-Gleizes, hoje professora, contou que, em maio de 1985, quando era uma aspirante a romancista de 17 anos, enviou os seus escritos a PPDA e a Marguerite Duras. O jornalista contactou os seus pais e propôs-lhe um encontro num hotel. Cauquil-Gleizes foi depois convidada a subir ao quarto do jornalista, que acabaria por atirá-la para cima da cama, despindo-a e violando-a.

"Naquela altura fiquei paralisada, precisei de muito tempo para perceber que se tratava de uma violação de surpresa", recorda a alegada vítima.

O antigo pivô nega todas as acusações e, no ano passado, na sequência das várias queixas apresentadas na polícia após o testemunho de Florence Porcel, contra-atacou e processou por denúncia caluniosa as 16 mulheres que o quiseram levar à justiça, acusando-as de vingança por "não terem recebido mais consideração, ou apenas um olhar, de um homem que antes admiravam".

A jornalista Marine Turchi, do site Mediapart, diz que as mulheres não tinham denunciado antes PPDA por receio de prejudicarem os seus percursos profissionais e garantiu que o ex-apresentador foi contactado para falar no especial, em pé de igualdade com as mulheres que o acusam, mas recusou. 

Nonce Paolini, que dirigia a TF1 quando Poivre d'Arvor ali trabalhava, admitiu a sua "revolta" com as denúncias, garantindo que nada soube durante o período em que esteve na estação. "Espero que [estas mulheres] possam ter os seus casos revistos pelo tribunal", sublinhou.

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