Jess viaja de mota pelo mundo com a sua cadela. "Todos querem tirar uma foto, é hilariante"

CNN , Tamara Hardingham-Gill
22 jan 2023, 09:00

Não é todos os dias que se vê um motociclista na estrada com um cão à pendura.

Por isso, não é de estranhar que ver a criadora de conteúdos Jess Stone e a sua amada cadela Moxie a passear juntas levem as pessoas a olhar duas vezes.

"Todos os que passam de carro por nós agarram nos telemóveis, quase provocando acidentes, só para conseguirem uma foto", conta à CNN. "É hilariante."

Stone e Moxie, que pesa cerca de 34 quilos, iniciaram há 10 meses uma épica viagem de mota que as levará a viajar por cerca de 90 países da América Central, América do Norte e do Sul, África, Europa e Ásia.

A dupla anda na estrada desde março, juntamente com Greg, marido de Stone, que segue atrás delas.

"Vou sempre à frente", explica Stone. "Quero atravessar os obstáculos primeiro."

Condução desafiante

Jess Stone e a sua pastora alemã Moxie andam juntas por todo o mundo. Oriunda do Canadá, Stone aprendeu a andar de mota há mais de uma década, nas ruas secundárias da Libéria, onde ela e Greg viviam na altura e admite que não foi um processo fácil

"Ter o meu parceiro a ensinar-me a andar de mota não foi o melhor", acrescenta. "Ele não era muito paciente comigo."

Quando finalmente se sentiu à vontade numa mota, o casal, junto há oito anos, embarcou numa longa viagem de mota de oito meses, entre a América do Norte e a América do Sul. Alguns anos após o seu regresso, mudaram-se para a Guatemala e Moxie entrou nas suas vidas.

"Ela escolheu-me", diz Stone, contando o momento em que a viu pela primeira vez enquanto observava uma ninhada de cachorros pastores alemães numa das cidades vizinhas. "Ela estava lá apenas à espera que eu a amasse."

Embora Stone e o seu marido estivessem determinados a incluir Moxie nas suas viagens, a motociclista explica que depois de se sentir confortável a conduzir uma mota "não queria ter um sidecar ou um reboque ou algo que alterasse a dinâmica da condução".

Rapidamente começaram a desenvolver o que mais tarde se tornaria o K9 Moto Cockpit, um transporte para cães fabricado na Guatemala, juntamente com uma gama de equipamentos para cães ao ar livre, através da sua empresa Ruffly.

"Toda a gente me pergunta quanto tempo demora a ensinar um cão a andar de mota", diz Stone. "Na verdade, Moxie aprendeu num fim de semana.”

"Demorei mais tempo a sentir-me confortável por ter tanto peso na parte traseira, porque nunca tinha conduzido com passageiro."

Depois de decidir que estava pronta para outra grande aventura, desta vez com a Moxie, Stone contactou a organização sem fins lucrativos Girl Up global - uma iniciativa de desenvolvimento da liderança centrada em jovens - e assim nasceu a aventura GoRUFFLY Around the World.

"Obviamente, eu queria viajar pelo mundo", diz Stone, que pretende angariar 100.000 dólares (92.000 euros) para projetos de capacitação global da Girl Up. "Mas eu também queria mostrar às pessoas que é possível fazê-lo com um cão grande."

Esta viagem tornou-se ainda mais especial para Stone por poder levar a Moxie.

Companhia constante

A dupla, fotografada na Guatemala, percorrerá cerca de 90 países durante a longa viagem 

"É como se vivêssemos a aventura duas vezes", explica. "Eu vejo-a o tempo todo através do espelho. A cabeça dela está mesmo próxima de mim. Por vezes até descansa o seu grande focinho no meu ombro com o queixo levantado.”

"Fico tão feliz por sentir que ela está realmente a viver tudo. Há sempre novas vistas, sons e cheiros e ela está a ver e a experimentar."

É claro que viajar com um cão tem as suas desvantagens. Enquanto viajam, estão em grande parte limitados a lugares amigos de cães e dependentes de acampamentos selvagens ou ocasionais Airbnbs, para que Moxie possa andar livremente.

"Tens de se ser o tipo de pessoa que gosta de natureza e ar livre", acrescenta Stone. "Porque são estes os locais onde a podemos levar. Se pretendes estar na cidade e ir a restaurantes chiques, viajar com um cão torna-se mais desafiante."

Embora inicialmente tenham planeado viajar da Guatemala até ao Ártico, atravessando o Canadá, antes de voarem para Espanha e rumarem a África, o aumento significativo dos custos, devido a uma série de fatores, incluindo o aumento dos preços do petróleo e a escassez da oferta, levou-os a alterar a sua rota.

Stone refere que Moxie tem de ser transportada como carga, numa caixa de tamanho gigante devido ao seu tamanho.

Isto significava que o custo total só para ela, de Toronto para Espanha, seria de cerca de 6.500 dólares (6.000 euros), incluindo taxas veterinárias, transporte de carga e taxas internacionais de exportação de animais de estimação, caso tivessem mantido o plano original.

O preço do transporte das suas motas também tinha aumentado significativamente quando iniciaram a viagem.

"Ficou tudo muito caro", diz Stone, que está a documentar a viagem no Instagram e semanalmente no YouTube.

Acabaram por escolher viajar "de ponta a ponta e de cima a baixo", da Guatemala ao México, EUA, Canadá e continuar até ao Ártico.

A partir daqui, conduziram até ao topo da América do Norte, antes de darem meia volta e regressarem à América do Sul.

Condução desafiante

Segundo Stone, ter Moxie com ela tornou a viagem ainda mais especial

Antes de partir, Stone marcou algumas aulas privadas de condução todo-o-terreno, para garantir que tinha as competências necessárias para conduzir nalguns troços mais complicados do percurso.

"Obviamente, já tinha conduzido fora de estrada muitas vezes, mas nunca me tinha sentido à vontade. E eu precisava sentir-me confortável porque tenho a minha Moxie nas costas."

Admite que estava particularmente ansiosa por percorrer a remota Dempster Highway, uma longa estrada de cascalho no Canadá que leva até ao Ártico.

"Estava preocupada com a hipótese de ter um acidente e estragar a minha mota. É engraçado, nunca penso que posso ser eu a magoar-me. A minha mota é o que mais me preocupa."

Felizmente, conseguiram passar sem incidentes, mas Stone diz que é frequentemente atormentada por pensamentos de que algo pode correr mal durante a viagem.

"O meu maior medo é não poder continuar a viagem e algo acontecer com a mota nos troços fora de estrada", diz. "Felizmente, nada disso aconteceu."

Embora Stone saliente que as suas capacidades de condução estão sempre a melhorar, isso não a tem impedido de duvidar de si própria com regularidade.

"Se ainda me preocupo com as estradas de terra que aparecem? Sim. Se me preocupa que possamos cair e estragar a minha mota? Sim. Mas nunca é demais sublinhar a importância de praticar estas aptidões. Faz realmente diferença. Torna a experiência muito mais positiva." 

Embora as coisas estejam a correr relativamente bem até agora, Stone tem ocasionalmente perdido o seu equilíbrio enquanto conduz, tendo já caído.

Ter ao seu lado o seu marido, que ela descreve como "motor de engrenagem", tem sido sem dúvida uma grande fonte de conforto.

"Eu guio-nos e ele carrega o equipamento de campismo", acrescenta, antes de explicar que eles não andam necessariamente sempre juntos e que por vezes fazem percursos diferentes.

"Às vezes ele quer experimentar um caminho diferente ou eu quero seguir outro caminho e mais tarde encontramo-nos. Mas eu sou autossuficiente."

Até agora, o seu maior obstáculo foi ter de substituir a sua mota em maio. Depois de ter vários "problemas de fugas de óleo", Stone descobriu que a sua BMW G650GS 2013 exigiria uma reconstrução do motor extremamente cara. 

Acabou por comprar um modelo mais recente em segunda mão, aproximadamente pelo mesmo valor do arranjo.

"Foi uma despesa inesperada. Mas esta [nova] mota vai-me levar o resto do caminho".

Atração principal

Stone juntou-se à organização sem fins lucrativos Girl Up para a aventura GoRUFFLY Around the World

Entre os muitos pontos altos, Stone destaca a sua passagem pelos clubes Girl Up onde partilhou histórias e acampar no Ártico, onde se maravilharam com os alces a atravessar a estrada e avistaram um urso pardo.

"Moxie treme de ansiedade quando vê estas criaturas na berma da estrada", acrescenta. "Ela está tão animada. Fizemos algumas pescarias ao longo do caminho, o que foi realmente espetacular." 

Atualmente em Los Angeles, Stone prepara-se para a próxima etapa da viagem, que envolverá apanhar um ferry para Baja, no México, e depois descer para a Guatemala, Honduras, El Salvador, Costa Rica e Panamá.

Do Panamá, planeiam voar para a Colômbia e conduzir até à "ponta" da Argentina, e depois voar de novo para a África do Sul.

Quando chegarem à África do Sul, viajarão pela costa leste de África até ao Egipto e depois até à Grécia, antes de "darem a volta à Europa" e viajarem pela Turquia e pela Ásia Central.

A próxima etapa irá vê-los ir da Índia à Malásia, de onde irão enviar as suas motas e Moxie para a América do Norte, para depois voltarem ao seu primeiro e último destino, a Guatemala, que Stone descreve como o seu "lar adotivo".

Stone estima que deverão andar na estrada durante pelo menos mais dois anos e meio. Mas por enquanto ela está concentrada em chegar à fase seguinte da viagem e em melhorar constantemente os seus dotes de condução.

A sua companheira de quatro patas continua a ser uma fonte de inspiração, e Stone nunca se cansa de ver a forma como as pessoas reagem a Moxie, dizendo, em brincadeira, que cada visita a uma estação de serviço é como "uma festa de selfies".

"As pessoas saem dos carros", acrescenta. "E a primeira coisa que todos dizem é: 'Oh meu Deus, ela está a usar óculos de proteção.”

"Isto provoca gargalhadas. E é isso que eu adoro. A Moxie faz com que todos tenham um bom dia."
 

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