A prevenção da doença de Parkinson pode "começar na mesa de jantar"

CNN , Sandee LaMotte
21 jun, 12:00
Refeição

Comer cerca de uma dúzia de porções de alimentos ultraprocessados ​​por dia pode mais que duplicar o risco de desenvolver doença de Parkinson, segundo revela um novo estudo, que classificou como uma porção 226 ml de refrigerante light ou adoçado com açúcar, um único cachorro-quente, uma fatia de bolo de pacote, uma mera colher de sopa de ketchup ou 28 gramas de batatas fritas (um pequeno  pacote típico de batata frita tem 42 gramas).

“A nossa investigação mostra que comer muitos alimentos processados, como refrigerantes açucarados e snacks salgados de pacote, pode estar a acelerar os primeiros sinais da doença de Parkinson”, começa por dizer Xiang Gao, autor sénior do estudo e um distinto professor e reitor do Instituto de Nutrição da Universidade Fudan em Xangai, China,

Este último estudo faz parte da já “crescente evidência de que a dieta pode influenciar o desenvolvimento da doença de Parkinson”, assegura Gao.

Embora o estudo em causa tenha constatado que as pessoas que consumiram mais alimentos ultraprocessados ​​tenderam a relatar mais sintomas precoces, não encontrou um aumento direto no risco da doença de Parkinson em si, como explica Daniel van Wamelen, professor clínico de neurociência no King's College London. van Wamelen não participou nesta nova investigação.

“O estudo não acompanhou se os participantes foram diagnosticados com Parkinson posteriormente”, continua van Wamelen num comunicado. “Dito isso, apresentar mais desses sintomas sugere um risco maior ao longo do tempo”.

A saúde do cérebro começa “na mesa de jantar”

O estudo analisou anos de dados de saúde e dieta de quase 43.000 participantes do Nurses' Health Study e do Health Professionals Follow-Up Study, dois estudos nos Estados Unidos que recolhem, há várias décadas, informações sobre comportamentos de saúde. A idade média dos participantes do estudo era de 48 anos e nenhum deles tinha doença de Parkinson no início da investigação. Todos os participantes relataram o que comiam a cada poucos anos - uma limitação deste estudo, pois os participantes podem não se lembrar com precisão da ingestão alimentar.

Os alimentos ultraprocessados ​​medidos pelo estudo incluíram bebidas adoçadas artificialmente ou com açúcar adicionado; condimentos, molhos e pastas condimentadas; doces, snacks salgados ou sobremesas embaladas; iogurtes ou sobremesas à base de laticínios; pães e cereais.

O estudo encontrou uma ligação entre os primeiros sinais da doença de Parkinson e todos os tipos de alimentos ultraprocessados, exceto pães e cereais - uma descoberta que indica uma característica subjacente entre a maioria das classes de alimentos ultraprocessados ​​que pode explicar os resultados, revelam os autores da investigação.

Um dos motivos pode ser o facto de os alimentos ultraprocessados, por norma, conterem menos fibras alimentares, proteínas e micronutrientes - mas contêm açúcar, sal e gorduras saturadas ou trans adicionados, segundo indica esta investigação, que adianta ainda que os alimentos ultraprocessados ​​também podem afetar o equilíbrio da flora intestinal, enquanto os aditivos que a eles são adicionados podem aumentar a inflamação, os radicais livres e a morte neuronal.

“Com um tamanho de amostra superior a 42.800 participantes e um longo período de acompanhamento de até 26 anos, este estudo destaca-se não apenas pelo seu poder, mas também por seu rigor metodológico”, escreveram os autores de um editorial publicado com o estudo.

O editorial foi coautorado pelo Nikolaos Scarmeas, professor associado de Neurologia Clínica na Universidade Columbia, em Nova Iorque, e pela nutricionista Maria Maraki, professora assistente de Medicina Desportiva e Biologia do Exercício na Universidade Nacional e Capodistriana de Atenas, na Grécia. Nenhum destes dois profissionais de saúde esteve envolvido nesta nova investigação.

“A prevenção de doenças neurodegenerativas pode começar na mesa de jantar”, escreveram. “O consumo excessivo de alimentos ultra-processados não só é um fator de risco para doenças metabólicas, como também pode acelerar processos neurodegenerativos e os sintomas associados”, acrescentam.

Os primeiros sintomas aparecem anos antes do declínio da função motora

No novo estudo, publicado na revista científica Neurology, os investigadores analisaram o estágio prodrómico da doença de Parkinson - no qual se dão sinais precoces que aparecem anos ou décadas antes dos tremores, rigidez muscular, marcha lenta e mudanças na postura, que são sintomas característicos da doença de Parkinson.

Dor no corpo, obstipação, sinais de depressão, alterações na capacidade de sentir cheiros ou ver cores e sonolência diurna excessiva podem ser sinais precoces da doença de Parkinson, de acordo com a informação do Parkinson's Foundation.

Um distúrbio do sono extremamente incomum, no qual as pessoas conseguem mover-se durante o sono REM, ou fase de movimento rápido dos olhos, também é um sinal precoce importante, de acordo com outros estudos já realizados sobre esta doença. O corpo normalmente fica paralisado durante o sono REM, impedindo-o de se levantar e realizar sonhos.

Mas este novo estudo descobriu que pessoas que consumiam cerca de 11 porções diárias de alimentos ultraprocessados ​​- em comparação com pessoas que consumiam apenas três - tinham 2,5 vezes mais probabilidade de apresentar três ou mais dos primeiros sinais do Parkinson. Além disso, segundo o estudo, consumir mais alimentos ultraprocessados ​​foi associado a um risco aumentado de quase todos os sintomas, exceto a obstipação. Esta descoberta manteve-se mesmo após os cientistas levarem em conta outros fatores, como idade, atividade física e tabagismo, que poderiam impactar os resultados.

“O Parkinson é uma doença incurável”, atesta Gao, numa resposta enviada à CNN por e-mail. Mas, ainda assim, é possível atuar: “No nosso estudo anterior, baseado nas mesmas populações usadas na análise atual, descobrimos que um padrão alimentar saudável e atividade física podem retardar a progressão da doença”, diz.

“Optar por comer menos alimentos processados ​​e mais alimentos integrais e nutritivos pode ser uma boa estratégia para manter a saúde do cérebro”, conclui o investigador.

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