Potência do atletismo acumulou 34 medalhas, 14 de ouro, destacando-se à frente do Quénia
O atletismo dos Jogos Olímpicos Paris2024, que este domingo terminou, com a corrida feminina da maratona, na capital francesa, foi marcado por um domínio avassalador dos Estados Unidos como há muito não se via.
É preciso recuar a 1968 e ao México para se ter ecos de um «Team USA» tão açambarcador, com os 14 ouros e 34 medalhas, com o Quénia a ser um distante segundo, com apenas quatro títulos e 11 medalhas.
Em comparação com Tóquio2020, os EUA duplicam o número de vitórias, com as medalhas arrecadadas a passarem de 26 para 34, ou seja, um crescimento de um terço.
Com a pequena exceção da marcha atlética, a equipa norte-americana não tem pontos fracos, não deixando escapar bons resultados até nas provas de fundo, um «feudo» dos africanos que tem vindo a ser muito contestado também pelos britânicos.
O evidente bom trabalho de fundo dos Estados Unidos tem-se acentuado nos últimos anos, beneficiando primeiro com o desaparecimento da RDA, após a reunificação, com a Alemanha a deixar de ser potência de topo, e mais recentemente com o afastamento da Rússia, por doping organizado pelas próprias estruturas públicas, que mantém o maior sucessor da União Soviética fora do sistema há quase uma década.
Sem rivais a nível global, os norte-americanos ainda eram beliscados pela Jamaica, na velocidade e barreiras, mas agora nem isso. Na geração «herdeira» de Usain Bolt, apenas um ouro, em seis medalhas, o de Roja Stona, no lançamento do disco.
Atrás de Estados Unidos e Quénia, no quadro global de medalhas, fica o surpreendente Canadá, com três medalhas de ouro, duas em lançamentos e uma na estafeta masculina de 4x100 metros, no que terá sido o pior momento dos Estados Unidos.
Noah Lyles, campeão dos 100 metros (por cinco milésimos) mas batido nos 200, não foi à estafeta, por estar com covid-19. Pior fizeram Kenneth Bednarek e Christian Coleman, que passaram mal o testemunho, provocando a desclassificação do quarteto.
Lyles, que tentava a mais que prestigiante «dobradinha» 100 e 200, falha o encontro com a história e não terá certamente mais hipóteses, tal é a qualidade da nova geração.
Quem reforça o lugar no panteão dos grandes campeões é Sydney McLaughlin-Levrone, de novo a melhor nos 400 metros barreiras, e Armand Duplantis, sem qualquer rival em vista no salto com vara.
Ambos revalidaram os títulos com novos recordes mundiais - o que já não é raridade, em ambos os casos. A norte-americana tem agora 50,37 segundos e o sueco 6,25 metros, o que faz deles as grandes figuras dos Jogos, no plano individual.
Para o pequeno panteão dos «imortais» do atletismo entram também a queniana Faith Kipyegon, com terceira vitória nos 1.500 metros (e em Paris prata nos 5.000) e Ryan Crouse, também com «tri» mas no lançamento do peso.
Muito bom registo para a neerlandesa Siffan Hassan, que gosta de apostas fortes e inscreveu-se para 5.000 metros, 10.000 e maratona, com ideia de ganhar. O triplo ouro fica por fazer, já que na pista foi por duas vezes bronze, mas 'explodiu' na estrada no último dia, fechando com chave de ouro mais uns Jogos de muito de evidente saldo positivo.
Tal como há três anos, encerra com três medalhas, elevando para seis o total. Em Tóquio, só competiu na pista, sendo campeã de 10.000 metros e 5.000, terminando em terceiro nos 1.500 metros, uma distância para que já tinha perdido alguma velocidade de base.
Com sentimentos mistos vai sair de Paris o norueguês Jakob Ingebrigtsen: correu para ganhar nos 1.500 metros e ficou à porta do pódio, mas redimiu-se, depois, nos 5.000 metros, com novo sucesso olímpico.
Múltiplos medalhados, no setor masculino, são Letsile Tebogo, do Botswana (ouro nos 200 e prata nos 4x400), o britânico Matthew Hudson-Smith (prata nos 400 e bronze nos 4x400) e os norte-americanos Grant Fischer (bronze nos 5.000 e 10.000), Vernoon Norwood (ouro nos 4x400 e prata na estafeta mista) e Rai Benjamin (ouro nos 400 metros barreiras e nos 4x400).
A disputa da inédita estafeta de marcha também tornou duplos medalhados na mesma edição Álvaro Martín e María Pérez, o equatoriano Brian Pintado e a australiana Jemima Montag.