"Paris recebe bem os turistas mas preferimos que eles fiquem em hotéis em vez de apartamentos": cidade anuncia medidas para evitar perda de população

14 fev 2023, 19:54
Ciclovia em Paris

Município francês está a considerar quais as medidas a tomar para impedir a população de sair da cidade, onde os preços das casas são cada vez mais elevados. E podem ser introduzidos impostos no âmbito das novas medidas

As autoridades de Paris querem combater a fuga de população da capital francesa impondo impostos mais altos para os proprietários de segundas habitações e introduzindo moradias sociais mais acessíveis para as famílias trabalhadoras e de classe média.

Na última década, Paris perdeu pelo menos 123 mil habitantes, segundo dados oficiais. A agência de estatísticas da França, INSEE, afirma que Paris está a perder cerca de 12.400 pessoas por ano e a população da cidade – agora em cerca de 2,1 milhões – está no seu nível mais baixo em 20 anos.

A pandemia de covid-19 e os confinamentos foram um fator importante. Muitas pessoas saem de Paris porque querem morar em locais com mais espaços verdes e uma melhor qualidade de vida. Mas a motivação fundamental é mesmo o preço das habitações: um metro quadrado em Paris custa, em média, cerca de dez mil euros. Muitos dos que deixaram a capital mudaram-se para os arredores, onde os imóveis e as rendas são mais acessíveis.

“As saídas da capital são motivadas principalmente pelo preço elevado das moradias, pela reduzida oferta de casas amplas para as famílias e pela procura de um estilo de vida diferente”, relatou o INSEE.

Com espaço limitado para construir novas casas, o vice-presidente da câmara, Emmanuel Grégoire, diz que as únicas maneiras de as autoridades municipais e o governo tomarem medidas proativas é, por um lado, comprando prédios e, por outro, forçando os proprietários de grandes edifícios a reservar espaço para moradias públicas de renda controlada. Além disso, seria importante haver controlos rígidos sobre rendas de longa curta duração e aumentar os impostos sobre casas de férias.

Paris já exige que os proprietários do Airbnb registem as propriedades e limita o número de noites que podem arrendar a turistas. “As pessoas que usam os seus imóveis para turismo e para segunda habitação agravam a pressão sobre a habitação disponível. Não queremos apartamentos dedicados ao arrendamento turístico. Compreendemos que pode ser um rendimento complementar para as pessoas, mas a principal função de um apartamento deve ser a de moradia para a população local”, explicou Grégoire ao The Guardian.

“Paris recebe bem os turistas, mas preferimos que os visitantes venham para cá e fiquem em hotéis e não em apartamentos. Gostaríamos que o governo introduzisse regras mais rígidas. Seria absurdo impedir os estrangeiros de comprar propriedades em Paris. Mas se o que queremos é Paris cheia de gente que mora em Paris, a tributação é a forma de fazer isso e afastar os investidores", disse Grégoire, que propõem uma sobretaxa de residência secundária de 60%. "Temos que desencorajar as pessoas que veem a série 'Emily em Paris' e que por isso decidem vir comprar uma casa cá. 'Emily em Paris' é ótima para estimular o turismo em Paris, mas queremos pessoas a morar aqui como residentes permanentes. Se quiserem visitar, podem ficar com amigos ou em hotéis.”

Em novembro, a autarquia, que pretende ter 40% de habitação popular até 2035, apresentou um plano – previsto para ser aprovado em abril – para adaptar os edifícios existentes para criar milhares de habitações de custo acessível, convertendo escritórios, garagens, hotéis e outros edifícios.

Grégoire garante que esta é uma aposta essencial porque deixar as forças do mercado controlarem a disponibilidade de propriedades na capital “destruiria a cidade”, deixando-a cheia de escritórios, casas de férias e habitações só para os muito ricos. “Queremos uma cidade onde aqueles que varrem as ruas e cuidam das pessoas, as enfermeiras e os empregados domésticos consigam morar”, disse Grégoire.

Ian Brossat, responsável municipal pela habitação, afirma que está determinado em acabar com a especulação imobiliária. “Queremos proteger o maior número possível de parisienses da especulação imobiliária”, disse ao Le Monde. “Queremos garantir que quem trabalha em Paris possa morar lá, já que a cidade perde moradores todos os anos porque eles não podem ficar.”

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