“Em teoria, um homem pode ser pai até ao limite da sua vida”. Mas da teoria é preciso ir à prática e há um senão - e quanto mais a idade avança, pior

3 jun 2023, 12:00
Pai (Pexels)

Primeiro o anúncio de que Robert De Niro foi pai aos 79 anos, depois a revelação de que Al Pacino prepara-se para o ser aos 83 anos. E eis que surge a questão: há um limite biológico para a capacidade reprodutiva do homem?

“Em teoria, um homem pode ser pai até ao limite da sua vida”. Pedro Xavier, professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina de Reprodução, diz que não há um limite biológico para a capacidade reprodutiva do homem, uma vez que este “produz espermatozoides até ao fim da sua vida”. Mas da teoria à prática é preciso mesmo chegar à prática. “Para ser progenitor biológico não significa ter apenas um esperma viável, é preciso ter as suas funções sexuais em condições”, explica.

Ana Meirinha é taxativa na hora de dizer que “não há” limite biológico para a capacidade reprodutiva do homem. “Parece injusto a mulher ter um prazo de validade e o homem não”, continua a médica especialista em Urologia na Clínica Lusíadas, em Almada. No entanto, apressa-se a dizer que, ainda assim, esta pode não ser uma realidade para todos os homens, pois, com o avançar da idade, “há uma degradação da qualidade do esperma, quer em número e qualidade”.

“Os homens, a partir de uma determinada idade, têm uma quebra progressiva da sua capacidade reprodutiva, não só porque têm menor performance do ponto de vista da sua sexualidade, mas também porque têm uma diminuição da qualidade espermática com a idade, sobretudo a partir dos 50 anos. É um processo progressivo”, esclarece o médico Pedro Xavier.

Mas, destaca a médica Ana Meirinha, “quanto mais saudável for uma pessoa, maior capacidade terá de manter a sua qualidade de vida em geral” e também sexual, contrariando o impacto da idade na fertilidade.

Os atores Robert De Niro e Al Pacino são os mais recentes casos mediáticos de pais em idade avançada: o primeiro foi pai recentemente aos 79 anos e o segundo anunciou que se prepara para o ser aos 83. Mas, apesar de o corpo masculino não tem um relógio biológico tão programado como o da mulher para a reprodução, a verdade é que há impactos na saúde do bebé, alguns deles já documentados, outros ainda a ser estudados - e o estudo nem sempre é fácil, pois, ao contrário da idade da mulher que é reportada para fins estatísticos e sociodemográficos, a do homem nem sempre o é, pelo menos em Portugal não há dados sobre a idade com que o homem português tem o primeiro filho.

Os atores Robert De Niro e Al Pacino na cerimónia dos Óscares em 2020. (Richard Shotwell/Invision/AP)

Idade do pai tem impacto na saúde do filho

Ana Meirinha diz que o maior risco num bebé cujo pai é já de uma idade avançada prende-se, sobretudo, com “a qualidade do património genético”, que é mais notória “por degradação das cópias” e que, por isso, há “mais propensão de doenças genéticas e de mutações”.

Tal como acontece com a mulher, em que a idade avançada traz riscos para a saúde do bebé - “está associada, a um aumento de risco de anomalias cromossómicas, como as trissomias 21, 18 e 16, que são 90% de origem materna e 10% paterna” -, Pedro Xavier afirma que o mesmo acontece com os homens, embora tal seja desconhecido para grande parte.

As mutações que ocorrem de novo, as que são herdadas pelos progenitores e que se dão “no momento da fecundação do óvulo, em que há um erro num determinado gene e este fica com uma anomalia”, são “frequentemente de origem paterna, sobretudo em idades superiores a 50 anos”. Além disso, adianta, “até se especula que as doenças do foro do autismo ou doenças com componentes de desenvolvimento cognitivo retardado possam estar mais frequentemente ligadas ao fator idade masculina”, tal como indica um estudo publicado em 2017 na revista Translational Psychiatry e outro em 2006 publicado na Archives Of General Psychiatry, ambos a relacionar a idade tardia do pai com o risco de autismo da criança. Há dez anos, um estudo publicado na revista científica JAMA Psychiatry já levantava a suspeita sobre a relação entre idade paternal tardia e o risco de morbilidade psiquiátrica.

Segundo o The New York Times, que levanta a questão dos riscos futuros da tendência cada vez mais global de os casais adiarem a parentalidade para idades mais tardias, um estudo de 2018, que analisou mais de 40,5 milhões de nascimentos nos Estados Unidos, revelou “efeitos potencialmente nocivos da idade paterna avançada” no risco de prematuridade, baixo peso no nascimento, baixo índice de Apgar (teste que avalia a respiração, frequência cardíaca, irritabilidade reflexa, tónus muscular e cordo bebé nos primeiros minutos de vida) e risco de convulsões.

“De um modo geral, quanto maior a idade do pai, maior o risco. Por exemplo, homens com 45 anos ou mais tinham 14% mais probabilidade de ter um filho nascido prematuramente, e homens com 50 anos ou mais tinham 28% mais probabilidade de ter um filho que exigia internamento na unidade de terapia intensiva neonatal”, lê-se no site da Universidade de Stanford, que levou a cabo este estudo.

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