Papa Francisco nega que esteja a planear renunciar em breve: "Por enquanto não..."

4 jul 2022, 10:04

Francisco falou sobre o joelho, os rumores de cancro e as viagens que pensa fazer: Canadá já no final de julho e depois Kiev e... Moscovo

O Papa Francisco negou, em entrevista exclusiva à Reuters, que esteja a planear renunciar em breve, negando ainda os rumores de que tem cancro. Na sua residência no Vaticano, Francisco afirmou que tem planeado visitar o Canadá ainda este mês e que espera conseguir visitar Moscovo e Kiev o mais cedo possível.

Ao longo de 90 minutos, o Sumo Pontífice falou sobre ainda sobre os problemas do joelho que o têm impedido de cumprir alguns agendamentos oficiais, como foi o caso da visita a África.

Terão sido, aliás, os constantes problemas de saúde que fizeram adensar os rumores de que uma renúncia estaria para breve e que estaria a ser planeado um conjunto de eventos já para agosto, incluindo encontros com cardeais, para discutir uma nova constituição do Vaticano, uma nova cerimónia para investir cardeais e uma visita à cidade de L'Aquila, associada à renúncia do Papa Celestino V e do Papa Bento XVI.

Quando questionado sobre a renúncia, Francisco, de 85 anos, riu-se da ideia, mas voltou a repetir a sua posição de que poderá acontecer se um dia a sua saúde impedir que dirija a igreja.

"Todas essas coincidências fizeram algumas pessoas pensarem que a mesma 'liturgia' aconteceria. Mas nunca passou pela minha cabeça. Por enquanto não, por enquanto não. De verdade!", afirmou, acrescentando que não sabe se renunciará: "Não sabemos. Deus dirá".

Cancro? "Não me disseram nada"

A entrevista aconteceu no dia em que Francisco deveria ter viajado para a República Democrática do Congo e para o Sudão do Sul, mas a viagem teve de ser cancelada, uma decisão que lhe causou "muito sofrimento". 

Os médicos alertam que a viagem ao Canadá, prevista para 24 a 30 de julho, poderá também não acontecer se o Papa não fizer mais 20 dias de terapia e descansar o joelho direito. 

Francisco, que se desloca apoiado numa bengala, revela pela primeira vez que sofreu "uma pequena fratura" no joelho quando deu um passo em falso enquanto um ligamento estava inflamado.

"Estou bem, a ficar bem aos poucos", revelou, acrescentando que a fratura foi cosida, com a ajuda de laser e terapia magnética.

No entanto, o Sumo Pontífice negou os rumores de que os médicos o tenham diagnosticado com cancro há cerca de um ano, altura em que foi submetido a uma operação de seis horas para remover parte do cólon por causa de diverticulite, uma condição comum em idosos.

"[A operação] foi um grande sucesso", afirmou, acrescentanto, a rir-se, que os médicos "não disseram nada" sobre o cancro, considerando os rumores como "conversa banal da corte". 

Sobre uma possível operação ao joelho, Francisco negou fazê-la porque a anestesia geral na cirurgia do ano passado teve efeitos colaterais negativos.

"A primeira coisa é ir à Rússia"

Apesar da visita a África ter sido cancelada, Francisco mantém-se otimista com as viagens que se seguem, como é o caso das possíveis visitas a Moscovo e a Kiev. O Papa diz que têm existido contactos entre o secretário de Estado do Vaticano, o cardeal Pietro Parolin, e o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov.

Lembrando que os sinais iniciais não foram positivos, até porque nenhum Papa visitou Moscovo, o Sumo Pontífice deu indícios de que a posição russa pode ter mudado, apesar de Francisco continuar a condenar a invasão da Ucrânia.

"Gostaria de ir (à Ucrânia) e quero ir a Moscovo primeiro. Trocámos mensagens sobre isso porque pensei que se o presidente russo me desse uma pequena janela para servir à causa da paz... E agora é possível, depois de voltar do Canadá, é possível que eu consiga ir à Ucrânia. A primeira coisa é ir à Rússia para tentar ajudar de alguma forma, mas gostaria de ir às duas capitais."

Sem ajudantes presentes, Francisco voltou ainda a condenar o aborto e disse respeitar a decisão do Supremo Tribunal dos Estados Unidos de anular a proteção do direito ao aborto, em vigor nos EUA desde 1973. Dizendo que não tem informação suficiente para falar sobre o assunto do ponto de vista jurídico, o Papa comparou o aborto a "contratar um assassino".

"Pergunto: é legítimo, é correto, eliminar uma vida humana para resolver um problema?", questionou.

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