E foi numa pergunta sobre Portugal que Francisco disse o perfil que deseja para o próximo Papa

6 set 2022, 08:00
Papa na viagem de regresso do Canadá

João XXIV: eis um Papa que não existe. Mas eis um Papa nomeado por Francisco na entrevista à TVI/ CNN Portugal. Há muito significado nisto

A possível resignação do Papa tem sido objeto de rumores mas também de análise e comentário, à medida que são conhecidas notícias sobre o estado de saúde de Francisco. No regresso da recente viagem ao Canadá, já foi avisando que não tinha condições de saúde para se aventurar em viagens como a que acabara de fazer. Na entrevista à TVI e à CNN Portugal, deu uma resposta que também já está a ser encarada como um aviso de que a resignação pode ser um cenário.

Questionado por Maria João Avilez sobre se contava deslocar-se a Portugal no próximo ano para as Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ), respondeu: “Eu penso ir. O Papa vai. Ou vai o Francisco ou vai o João XXIV, mas vai o Papa”.

Teólogos e especialistas ouvidos pela CNN Portugal são unânimes a olhar para estas palavras, que encaram como um ato de humildade - e, mais do que ver nelas uma sugestão de uma possível resignação, alertam para a maneira como o Papa deu pistas sobre o perfil que gostava que o seu sucessor tivesse.

“João XXIII foi o Papa da abertura da Igreja ao mundo. Ao sugerir o nome João XXIV, Francisco está a dizer que gostava que esse caminho de abertura, de diálogo, que também ele traçou, seja continuado. João XXIII foi o Papa da reforma global e Francisco quer a continuação dessa reforma”, analisa o teólogo Henrique Pinto.

O jornalista da TVI Joaquim Franco, especialista em assuntos religiosos e autor de livros sobre o Papa, encara estas palavras não como um recado, porque “o Papa não precisa de mandar recados”, mas como a manifestação de um desejo. “Ele não precisa de mandar recados aos cardeais. Ele diz o que pensa. No fundo, ele está a dizer ao sucessor e aos cardeais que o elegem que tem de ter a coragem de João XXIII para operar as reformas que ele próprio procurou operar e continuar o caminho de diálogo que ele próprio traçou.”.

“Consciente da sua condição e da sua missão”

O padre e teólogo Paulo Coelho sublinha que estamos perante “o Papa certo para a altura certa” e considera que as declarações que fez à TVI e à CNN Portugal são reveladoras de um homem “consciente da sua condição mas também da sua missão”. “Sem especulações e sem prognósticos”, Paulo Coelho lembra a importância que o nome de um Papa assume nas diversas dimensões: “Cada nome que cada Papa assume traz toda uma carga não só emotiva e histórica, mas também um programa para toda a Igreja. Que saibamos acolher as palavras do Papa com muita humildade, com muita fé e com grande abertura. Que tomemos como exemplo esta simplicidade de quem está a servir, de quem não está ‘assenhoreado’, de quem não está agarrado a nada”.

Tanto Paulo Coelho como Henrique Pinto lembram que a Igreja “continuará a fazer-se como sempre se fez, com este Papa ou com outro”. “Nós não estamos é habituados a que um Papa se afaste. Estamos habituados a que um Papa morra e seja substituído. Mas já Bento XVI e Gregório XII o fizeram e foram substituídos e a Igreja continuou o seu trabalho”, diz Henrique Pinto.

Paulo Coelho defende que o Papa Francisco tem “a grandeza dos humildes, daqueles que olham para si e reconhecem as suas fragilidades e que, por isso, são capazes de colocar as suas funções nas mãos de quem decide”.

“Haverá JMJ com o Papa”

Duarte Ricciardi, secretário executivo das Jornadas Mundiais da Juventude 2023, assume o “carinho muito grande” que os jovens portugueses têm por Francisco e admite que gostaria que fosse ele a visitar Portugal no próximo ano, mas desdramatiza a frase do Papa na entrevista à TVI e à CNN Portugal.

“Temos muita esperança de que seja com o Papa Francisco, temos um carinho muito grande pelo Papa Francisco e gostávamos muito que fosse com ele. Mas, se não for, as JMJ vão realizar-se e terão com certeza muito sucesso. O Papa será na mesma a figura central das JMJ”, sublinha.

O responsável assegura ainda que acolheu com bom grado os conselhos do Papa aos jovens portugueses e garante que as JMJ estão a ser preparadas com o empenho e a criatividade que o Francisco pediu.

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