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Economista, Professor Associado e Coordenador na Universidade Europeia

Francisco foi a consciência ética da economia global

21 abr, 10:43

Num mundo marcado por tensões geopolíticas, desigualdades crescentes e crises energéticas e ecológicas, a voz do Papa Francisco foi, até ao fim, uma das mais corajosas e lúcidas do nosso tempo. O mundo, ao despedir-se deste líder espiritual e humano, não chora apenas a perda de um Papa. Perde um visionário da economia, um defensor incansável de uma nova ordem assente na dignidade humana, na justiça social e no amor como força transformadora.

O Papa Francisco acreditava que o verdadeiro desenvolvimento económico não podia ser separado da ética, da compaixão e da responsabilidade intergeracional. Na sua proposta da “Economia de Francesco” desafiou jovens economistas e líderes a repensar as estruturas económicas globais, a partir da periferia e não do centro do poder. Propunha uma economia que não visava acumular, mas cuidar.

Num tempo em que os BRICS consolidam o seu peso geopolítico, em que a OPEP+ dita o ritmo da transição energética, em que a guerra entre a Rússia e a Ucrânia e os conflitos no Médio Oriente interferem com a estabilidade global, Francisco apontava uma alternativa radical, que assentava no serviço em vez do domínio e na ternura em vez da força.

À primeira vista, a sua visão podia parecer ingénua, mas revelava um profundo realismo. Reconhecia os desafios do continente africano, a tensão estrutural entre os EUA e a China, a dificuldade europeia em equilibrar crescimento e coesão, e o impacto das mudanças climáticas sobre os países dependentes de hidrocarbonetos. Mas recusava o cinismo. Propunha uma economia de rosto humano, sem que os números se sobrepusessem às pessoas e em que a riqueza fosse distribuída com justiça e sentido prático.

“Não são os poderosos que mudam o mundo, mas o amor”, disse Francisco. E convocava os jovens a viverem os seus ideais com coerência, mesmo que isso pudesse parecer uma luta inglória.

Hoje, perante a sua partida, resta ao mundo ouvir com atenção o seu legado. Cabe a todas as partes, agora, continuar a obra. Pode parecer difícil transformar a economia segundo a visão do Papa Francisco. Mas nunca foi tão urgente avançar nesse sentido. Mais humanidade e amor nas decisões, era isso que propunha Francisco. Mostrou-nos o caminho. Que a sua memória inspire decisores. Que o seu exemplo nos guie. E que, no meio da turbulência do mundo, a sua mensagem continue a florescer na vida concreta das pessoas.

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