“Um sacerdote não pode continuar a ser sacerdote se for um abusador”: Papa Francisco com “tolerância zero” para abusos sexuais na igreja

4 set 2022, 21:00

Sem se referir ao caso concreto português - numa altura em que foi revelado que o cardeal patriarca Manuel Clemente não comunicou às autoridades uma denúncia -, o Papa sublinhou que “ainda bem” que agora os casos são conhecidos. Entrevista exclusiva TVI/CNN Portugal a Francisco para ver esta segunda-feira à noite na íntegra

“Uma monstruosidade.” É assim que o Papa Francisco vê os abusos sexuais praticados por membros da igreja católica. E ainda que veja uma “cultura abusadora” generalizada na sociedade - nos filmes pornográficos, no seio das famílias - e que recuse relacioná-los com o celibato dos padres, garante ser “responsável de que não volte a acontecer”.

“Um sacerdote não pode continuar a ser sacerdote se é abusador. Não pode. Porque é doente ou um criminoso, não sei. O sacerdote existe para encaminhar os homens para Deus e não para destruir os homens em nome de Deus. Tolerância zero. E tem de continuar a ser assim”, afirmou, em entrevista à TVI/CNN Portugal.

Sem se referir ao caso concreto português - numa altura em que a Comissão Independente criada pela igreja recolhe denúncias de abusos sexuais e em que foi revelado que o cardeal patriarca Manuel Clemente não comunicou às autoridades uma denúncia -, o Papa Francisco sublinhou que “ainda bem” que agora os casos são conhecidos.

“Mas o que não se sabe, porque ainda se esconde, é o abuso no seio da família. Não me lembro bem da percentagem, mas penso que são 42% ou 46% dos abusos que ocorrem na família ou no bairro. E isso esconde-se”, completou.

Família, desporto, escolas. O Papa enumerou os locais onde diz haver mais casos de abusos sexuais do que na igreja, mas não desvalorizou estes: “Nem que fosse 1%, é uma monstruosidade. (...) Tudo isto existe mas fixo-me nestes e sou responsável de que isso não volte a acontecer.”

O Para Francisco defendeu que “a cultura do abuso está muito disseminada” e que vivemos numa “cultura abusadora”, dando o exemplo dos filmes pornográficos. 

“Quando falamos de abuso, eu diria que é preciso ter esta visão de conjunto. Procurar que não se escondam as coisas, porque nalguns sectores, como na família, tende-se a ocultar”, disse, sem referir os casos também ocultados por membros da igreja. Mas prometeu: “Agarremos na percentagem que nos diz respeito e vamos ao combate”.

Quanto a quem acredita que o celibato dos padres motiva os abusos, o Papa Francisco rejeita essa visão: “Não é o celibato. O abuso é uma coisa destrutiva, humanamente diabólica. Nas famílias não há celibato e também ocorre. Portanto, é simplesmente a monstruosidade de um homem ou de uma mulher da igreja que está doente em termos psicológicos ou é malévolo e usa a sua posição para sua satisfação pessoal. É diabólico”.

“Eu sofro com casos de abuso que me apresentam. Sofro mas é preciso enfrentar isso”, conclui.

A entrevista completa ao Papa Francisco é transmitida segunda-feira à noite na CNN Portugal.

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