Papa emérito é acusado de ter gerido de forma imprópria quatro casos de abuso sexual enquanto era arcebispo de Munique
O Papa Bento XVI pediu esta terça-feira perdão por eventuais “erros graves” que tenha cometido, mas recusou que tenha praticado algum delito. As afirmações surgem após um relatório independente ter apontado falhas à forma como Joseph Ratzinger geriu quatro casos de abuso sexual na arquidiocese de Munique enquanto era arcebispo da cidade.
“Já tive grandes responsabilidades dentro da Igreja Católica. Sinto uma grande dor pelos abusos e erros cometidos durante o meu mandato”, pode ler-se num comunicado emitido pelo Vaticano em resposta às alegações.
O relatório de que Bento XVI é alvo, redigido por uma firma de advogados alemã a pedido da Igreja Católica daquele país, acusa o Papa emérito de não restringir a atividade dos padres visados durante o seu mandato, de 1977 a 1982, mesmo daqueles que já tinham sido condenados em tribunal. Segundo a Associated Press, o relatório também aponta culpas aos antecessores e sucessores, estimando que tenha havido 497 vítimas de abuso sexual e 235 suspeitos.
Juntamente com o comunicado enviado pelo Vaticano, foi também divulgada uma resposta mais técnica dos advogados de Ratzinger, que concluíram, de forma sucinta, que o seu cliente, “enquanto arcebispo, não esteve envolvido no encobrimento de abusos sexuais”, criticando também os autores do relatório por “falhas na interpretação” e “falta de fornecimento de provas” que sustentem as acusações.
O tom de Bento XVI foi mais suave, admitindo o próprio que se tratava de uma “confissão”.
“Apercebi-me que somos puxados para esta culpa grave quando negligenciamos ou não confrontamos este assunto de forma assertiva e responsável, como aconteceu e acontece frequentemente. Mais uma vez, só consigo expressar a minha profunda vergonha a todas as vítimas, a minha profunda tristeza e o meu sincero pedido de perdão”, afirmou Ratzinger, agora com 94 anos.
Bento XVI aproveitou também para agradecer a “confiança, apoio e fé” que o Papa Francisco lhe expressou pessoalmente, e refletir no seu legado, agora que o fim da sua vida está mais próximo.
“Muito brevemente, encontrar-me-ei perante o juiz final da minha vida. Apesar de, ao olhar para trás, poder ter grandes motivos para ter medo, estou de ânimo leve, pois confio firmemente que o Senhor não é só o juiz justo, mas também o amigo e irmão que já sofreu pelos meus erros”, disse.