"Nunca esperei que um Papa me colocasse esse tipo de questões": o outro lado da vinda de Francisco a Lisboa

22 abr, 20:41

Carlos Moedas recorda os históricos dias da visita a Portugal para a Jornada Mundial da Juventude. Entre os preparativos e a humanidade, houve algo que aconteceu e que o autarca da capital não esperava

Houve seis dias que “mudaram Lisboa”. O sentimento é do presidente da Câmara Municipal da capital portuguesa, um dos principais rostos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), em 2023, num evento que parou o país para trazer centenas de nacionalidades e o Papa Francisco a Portugal.

É, de longe, a maior recordação que Carlos Moedas leva do homem que morreu esta segunda-feira e que deixa em Lisboa muita saudade, ao ponto de o autarca já querer que o Parque Tejo, onde mais de um milhão de pessoas se juntaram para celebrar uma missa, se transforme no Parque Papa Francisco.

“Penso que todos nós sentimos esse agradecimento profundo. Seis dias que mudaram Lisboa, seis dias em que nós sentimos uma força incrível, em que sentimos uma partilha”, lembra o autarca em declarações à CNN Portugal.

Carlos Moedas recorda como o Papa Francisco via Lisboa como “a cidade dos sonhos”. Quando esteve com o líder da Igreja Católica, em abril desse mesmo ano, estava longe de imaginar o impacto do evento.

“Marcou-me muito, porque eu estive com ele em abril desse ano. Não fui eu, foram os lisboetas - fui lá em nome dos lisboetas - e primeiro era aquela simplicidade desarmante daquele homem”, aponta, lembrando o contraste entre a figura do Papa e um Vaticano “muito impressionante” onde foi preciso passar cinco ou seis portas até chegar a Francisco.

“Há uma altura em que lhe peço um vídeo para os lisboetas e ele manda pegar no meu iPhone, no meu telefone, e diz: ‘Bom, eu já sei, tu queres o que o Américo [Aguiar] também quer, que também queria vídeos’”, refere Carlos Moedas.

Para o presidente da Câmara Municipal de Lisboa fica, acima de tudo, a simplicidade, humanidade e mensagem que aquele homem trouxe à cidade. Algo que “nos encheu de orgulho e confiança”, com vários países unidos dentro do mesmo em nome da juventude.

Sobre a parte mais logística, Carlos Moedas tem lembranças curiosas da interação com o Papa, que lhe perguntou “pelos outros”. “Ao princípio pensei ‘a quem é que ele se refere’?”.

“Referia-se à multiculturalidade de Lisboa, às outras religiões”, recorda o autarca, lembrando uma conversa “completamente diferente” do que estava à espera, ele que se preparou, mas não para aquilo.

“Onde é que estavam os judeus? Onde é que estavam os muçulmanos? Como é que ele os podia encontrar? E eu achei aquilo tão belo, no mundo em que vivemos, que o chefe máximo da Igreja começasse por perguntar pelos outros”, continua, explicando que também foi daí que surgiu a ideia de visitar alguns bairros na cidade, como o da Serafina, onde o Papa Francisco esteve “só com as pessoas” e não com entidades ou políticos.

É nessa capacidade de união que Carlos Moedas vê uma das caraterísticas ímpares do homem que liderou a Igreja Católica por 12 anos e que em Lisboa cimentou a ideia “todos, todos, todos”.

“Eu sabia que aquela palavra era verdadeira, porque ele falou-me daqueles que não tinham a religião. Por exemplo, podemos falar de outras religiões, mas também perguntou sobre os que não têm a religião: ‘Eu também os quero ver, eu também quero estar com eles’.”

Uma dimensão que deixou o presidente da Câmara Municipal de Lisboa surpreendido. “Eu nunca esperei na minha vida que um Papa me colocasse esse tipo de questões ou que se interessasse dessa maneira”, frisa, garantindo que esses encontros o mudaram também.

Ainda sobre a presença do Papa Francisco na capital, Carlos Moedas garante que “Lisboa e os lisboetas deram tudo o que tinham” num evento que acabou, em grande parte por causa do líder da Igreja Católica, por unir povos e até pessoas que não comungavam da mesma crença.

“E ele tinha essa ideia de que, quando cá chegasse, queria estar com todos, realmente todos, todos. E esteve”, completa.

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