Covid-19: "Ómicron já está a ultrapassar a Delta", alerta especialista

20 dez 2021, 21:50
Covid-19 em Portugal. Foto: AP/Ana Brigida

Matemático Óscar Felgueiras diz que Natal e variante Ómicron vão fazer subir casos de covid-19 de forma exponencial e que o máximo de 16.000 casos diários do ano passado pode ser ultrapassado

Óscar Felgueiras, especialista em saúde pública e matemático da Universidade do Porto que faz parte de um dos grupos de trabalho que aconselham o Governo sobre a pandemia, admite que até ao final do ano o número de casos de covid-19 pode duplicar e que os números em janeiro podem mesmo ser superiores aos do ano passado. Recorde-se que foi no final do mês de janeiro de 2020 que Portugal ultrapassou os 16.000 casos diários e as três centenas de mortes por covid-19.

Para já, diz Óscar Felgueiras à CNN Portugal, o grau de incerteza é elevado e não é possível, sequer, "imaginar qual será o teto" a que vão chegar as infeções nas próximas semanas. "O máximo do ano passado é possível que seja ultrapassado", refere o especialista, pela conjugação de dois factores: o Natal e Ano Novo, altura de convívios familiares, e a disseminação da variante Ómicron, muito mais transmissível do que a variante Delta. 

"Já estamos com a Ómicron a ultrapassar a Delta", revela. "O factor Natal vai dar um aumento substancial, isso é claríssimo". 

Óscar Felgueiras sublinha que, no ano passado, "com o efeito do Natal, o Rt disparou", o que será agravado pela alta transmissibilidade da Ómicron, cujo efeito já se faz sentir noutros países. "Há alguma incerteza em relação à dimensão da subida, porque não sabemos como se conjugam estes dois factores em simultâneo, mas subida é garantido que vai haver", refere. 

Incerteza nas hospitalizações

Por não haver ainda dados científicos suficientes sobre a severidade da doença causada pela Ómicron, ainda que os primeiros estudos indiquem que a covid-19 causada por esta variante é mais transmissível mas com sintomas menos graves, é ainda prematuro tentar aferir o impacto da subida dos casos nas hospitalizações, avisa Óscar Felgueiras.

"Os dados hospitalares são escassos" sobre as variantes, assinala. E se há cenários em que se ultrapassam as linhas vermelhas do número máximo de doentes em cuidados intensivos - 255 camas - "ao dia de hoje não é garantido", explica o matemático. 

"Mesmo que tenhamos muitos casos, não é garantido que se traduza num aumento insuportável dos internamentos. Em rigor, continuamos a não ter garantia de que haja uma severidade tão grande e que os casos se traduzam em casos graves da mesma forma que aconteceu com a variante Delta", diz Óscar Felgueiras. O matemático admite, no entanto que "o risco é enorme" de voltarmos a ter pressão no SNS. "Mas ao dia de hoje não há informações suficientes". 

Mais definição, só daqui a alguns dias, diz Óscar Felgueiras. Até porque a grande maioria dos dados disponíveis para estimativa de hospitalizações são de África do Sul, onde foi detetada a mais recente variante da covid-19, e "refletem um contexto muito diferente do europeu, uma população mais nova, uma cultura diferente", explica. Só quando os países europeus sistematizarem mais dados, e por haver maiores semelhanças com a nossa realidade, será possível extrapolar cenários mais adequados à realidade portuguesa. 

Madeira com subida repentina de casos

Questionado sobre se a semana de contenção prevista para o início de janeiro poderá ajudar a travar a subida de casos, Óscar Felgueiras dlz apenas que quer "acreditar que sim, mas se isso acontece na prática não é garantido". Recusando falar sobre a possibilidade de aplicação de novas restrições e o seu impacto na disseminação da variante Ómicron, o matemático também não quer pronunciar-se sobre estimativas para uma eventual subida do número de óbitos, ressalvando que "a evidência ainda é escassa". 

Sobre as regiões do país que poderão ser mais afetadas pela disseminação da variante Ómicron, Óscar Felgueiras aponta para a Madeira, que registou nos últimos dias uma "subida repentina" e que pode estar já ligada à nova variante. "A Madeira está com incidência em máximos de sempre", sublinha. Também Lisboa e Vale do Tejo tem registado uma subida significativa, mas ainda não ao mesmo ritmo da Madeira. "O que é expectável é que, durante esta semana, já comecemos a perceber o aumento generalizado nas várias regiões". 

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