É um drone, mas também é um míssil: eis o Palianytsia, a nova arma 100% ucraniana que promete "mudar radicalmente" o campo de batalha

29 ago, 15:39

Tradicionalmente, Palianytsia é um tipo de pão ucraniano assado no forno, mas a palavra já serviu para identificar agentes russos nas frentes de combate, por ser tão difícil de pronunciar por falantes não nativos. Agora, é o nome do novo drone-míssil misterioso que promete revolucionar o campo de batalha

É “mais rápido” do que um drone convencional, tem um alcance superior a 650 quilómetros e capacidade para transportar “mais explosivos”. Foi assim que a Ucrânia apresentou o novo drone-míssil Palianytsia, de fabrico 100% ucraniano, não fosse o nome atribuído uma palavra impossível de dizer por um falante não nativo. Tanto que, no início da invasão russa, era utilizada no terreno pelos ucranianos como um teste para identificar agentes russos nas regiões ocupadas. 

Palianytsia é um tipo de pão ucraniano assado no forno, símbolo da identidade ucraniana, como descreve a revista Forbes, pelo que a atribuição deste nome ao novo drone-míssil não foi por acaso: esta nova arma é o resultado dos esforços ucranianos para contornar as limitações a que estão sujeitos na utilização de armas fornecidas pelos aliados, que não estão autorizadas a serem usadas para ataques de longo alcance no território russo.

“Apresentamos o Palianytsia, um drone-míssil de longo alcance ucraniano. Tudo sobre ele é confidencial”, refere-se no vídeo de apresentação da nova arma, divulgado na conta oficial da rede social X do presidente Volodymyr Zelensky.

Apesar do secretismo, a Ucrânia revelou alguns detalhes sobre este novo drone-míssil, que foi desenvolvido “num período incrivelmente curto” - em apenas um ano e meio, revela-se no mesmo vídeo. Trata-se de um drone movido a jato e “está mais próximo de um míssil de cruzeiro do que de um míssil balístico”, descreve à CNN Portugal o major-general Agostinho Costa, explicando que, enquanto este último faz “uma trajetória em elipse”, ganhando uma “velocidade hipersónica” antes de atacar o inimigo, os mísseis de cruzeiro fazem “uma leitura do terreno” a baixas altitudes, fazendo uma trajetória “rasante”.

Com um alcance superior a 650 quilómetros, esta arma é capaz de atingir aeronaves russas no solo antes mesmo de elas descolarem para o lançamento de mísseis. Na prática, isto significa que o drone-míssil Palianytsia tem capacidade para atingir “duas dezenas de bases aéreas militares russas”, assinalam as autoridades russas.

Além disso, acrescenta o especialista militar, “é muito mais rápido” do que um drone a hélice, atingindo velocidades que podem superar os 900km/h - “um drone a hélice anda na casa dos 100km/h”, compara. Por isso mesmo, as defesas aéreas do inimigo “têm muito menos tempo para reagir” assim que detetam o drone. A somar a tudo isto, o motor, movido a jato, consegue transportar “mais explosivos”.

“É, sem dúvida, um avanço tecnológico para a Ucrânia”, assinala o major-general Agostinho Costa, acrescentando que, não obstante estas “vantagens”, “há um senão - é muito mais caro” do que um drone convencional. Mas, segundo os ucranianos, esta arma tem “um custo muito mais reduzido” em comparação com os restantes. A título de exemplo, um drone Bayraktar TB2, muito utilizado pelas tropas ucranianas no terreno, custa entre 1,8 milhões de euros a 4,5 milhões de euros. O Palianytsia “custa menos de um milhão de dólares” (cerca de 900 mil euros), segundo o ministro da Transformação Digital ucraniano, Mykhailo Fedorov, citado pela Ukrinform.

Tanto que a Ucrânia já está a trabalhar na produção de novos Palianytsia. "O número de drones-mísseis vai aumentar tanto quanto aumentou a nossa produção de drones de ataque de longo alcance, cuja eficácia verificamos quase todos os dias", escreveu Zelensky.

Em resumo, esta nova arma, que, segundo o presidente ucraniano, já foi usada no campo de batalha, tem como missão “proteger a população civil, destruindo o potencial de ofensiva do inimigo”.

“Acho que isto vai mudar radicalmente a situação [dos combates], pois vamos ser capazes de atacar onde a Rússia não está à espera”, observou Mykhailo Fedorov.

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