Depois do fracasso da extrema-direita, os Países Baixos voltam a virar-se para o centro 

27 out, 18:17
Geert Wilders (AP)

Países Baixos vão a eleições e o “caos” causado pela extrema-direita está a levar os eleitores de volta ao centro. Querem “estabilidade” e respostas para a habitação, saúde e imigração  

Os eleitores dos Países Baixos preparam-se para regressar ao centro político nas eleições desta semana, após dois anos marcados pela instabilidade sob a liderança da extrema-direita. O Partido pela Liberdade (PVV), liderado por Geert Wilders, conquistou o poder em 2023, mas a coligação governamental colapsou em junho, e leva agora o país de volta às urnas.  

Os dois anos de governação sob a extrema-direita foram marcados por divisões internas e políticas erráticas. O governo caiu quando Wilders exigiu medidas drásticas contra a imigração, incluindo o encerramento de centros de refugiados, o uso das Forças Armadas para patrulhar fronteiras e o repatriamento de muitos refugiados sírios - propostas que foram rejeitadas pelos parceiros de coligação. 

Apesar de o PVV continuar a liderar nas sondagens, dois partidos tradicionais - os Democratas-Cristãos (CDA) e a coligação Verdes-Trabalhistas - comprometeram-se a excluir Wilders de qualquer futura aliança governamental. Ambos empatam em segundo lugar nas intenções de voto e disputam o cargo de primeiro-ministro.  

“É muito difícil prever o resultado, mas os eleitores estão à procura de alguma estabilidade após o caos”, referiu Sarah de Lange, professora de ciências políticas na Universidade de Amesterdão, citada pelo Financial Times

“Temos problemas que, nos últimos dois anos, o governo não resolveu porque estava em conflito interno”, afirmou Tom Berendsen, líder do CDA no Parlamento Europeu, que refere que após dois anos de políticas aleatórias e disputas com a União Europeia, não é de se admirar que os eleitores queiram uma pausa.  

A disputa centra-se entre Frans Timmermans, ex-comissário europeu e líder dos Trabalhistas, que uniu forças com os Verdes; e Henri Bontenbal, líder do CDA, engenheiro e político há apenas quatro anos, mas que conquistou popularidade pela sua postura calma e pragmática.  

Com cerca de 20% das intenções de voto, o PVV lidera por pouco, seguido pelo CDA e pela coligação Verdes-Trabalhistas, cada um com cerca de 15%. Contudo. Os dois podem formar uma coligação, mas a estabilidade continua a ser um desafio num parlamento fragmentado com 150 assentos e mais de uma dezena de partidos representados.  

As principais preocupações dos eleitores são a habitação, saúde e imigração, e são estes os temas que dominam o debate político. Mesmo partidos como o de Timmermans, de centro-esquerda, defendem que sejam impostos limites à chegada de migrantes.  

Cerca de metade dos eleitores ainda se declara indecisa, e as sondagens apontam dois possíveis caminhos para a formação do próximo governo: uma coligação de centro que envolva Verdes-Trabalhistas, CDA, D66 e VVD; ou uma aliança mais à direita com CDA, VVD, D66 e partidos populistas menores. 

"Os eleitores querem, acima de tudo, um regresso à normalidade”, afirmou a professora Sarah de Lange, sublinhando que independentemente do resultado, o sentimento dominante é o desejo por estabilidade após anos de polarização e conflitos políticos.  

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