Porque é que o meu filho ainda está em casa? Metê-lo a pagar renda até pode ser "excelente", mas há riscos

8 dez 2024, 08:00
Casas (Getty Images)

É-se “jovem” até aos 35. Pelo menos nas contas do desemprego. E o desemprego nos portugueses jovens é grande, por contraponto aos vencimentos: pequenos. Tudo subtraído, os nossos jovens saem da casa dos pais tarde, quase nos “trintas”. Uma discussão no TikTok criou divisão: se vivem na cada dos pais, devem ou não os filhos pagar uma renda?

Oito, número oito. Vinte e três, dois-três. A Internet é uma espécie de tômbola. Não como num bingo, não há números, nem há linhas, mas roda e roda e roda e decide o que se discute - com a mão do algoritmo a empurrar, mas bastante discreta, para que ainda se creia no livre arbítrio. Esta semana saiu carimbadela (como num bingo, afinal) em “parentalidade”. 

A historia é esta, atalhando já caminho: um casal do Texas, Cody e Erika, resolveu cobrar 300 dólares mensais de renda à filha Kylee, de 19 anos, que acabou os estudos e arranjou trabalho. Mas ainda vive na casa dos pais. O anúncio da família Archie foi feito no TikTok. A mãe considera que a medida talvez seja “severa”, mas o pai não foi de voltar atrás e pretendia demonstrar à sua filha que “nem tudo é de graça”. Aquela rede social ficou alvoroçada, num esgrimir de teclados entre quem apoia a decisão familiar, sábia, e quem a considera insensível, quem veja nos dois pais uns facínoras. 

Dois mil e vinte e dois, dois-zero-dois-dois. Calha que isto das tômbolas digitais às vezes dá números repetidos. O caso é de 2022. Kylee até já saiu de casa e vive hoje sozinha. 

Mas a Internet não se cansou ainda da história, reciclou-a (e não é a primeira vez que recicla o caso da família texana do TikTok) e permanece a discussão, se calhar pouco importante diante de guerras e fomes e alterações climáticas, se calhar primeiro-mundista, mas ainda assim uma discussão que muitos querem ter - e teremos: devem os pais ser educadores, rigorosos até, ou devem os pais ser protetores, ultraprotetores até? Mais interrogações se amontoaram por esse TikTok fora: pode este tipo de decisão, de cobrar uma renda aos filhos, gerar uma divisão tal no seio da família que isso vai comprometer o relacionamento presente e futuro? Ou não cobrar faz pior pela descendência, que vai ser dependente, impreparada, vulnerável? Só mais umas quantas dúvidas que assolam a Internet, porque a Internet não se faz só de reels de gatinhos fofinhos: devem os filhos perdurar na casa dos pais até quando? Porque perduram quando perduram? Comodismo ou finanças? Ou ambos? 

A psicologia analisará e responderá, a terapia familiar também, mas há no caso português números que explicam uma permanência mais prolongada na casa dos pais.

Não somos a Grécia (mas quase, vá)

Segundo o Eurostat, os jovens na União Europeia abandonam a casa dos pais, em média, aos 26,3 anos. Portugal está na pior metade da tabela, abandonando mais tarde que cedo: 29,1 anos. Quem fica até mais tarde são os jovens croatas (31,8 anos), os eslovacos (31,0) e os gregos (30,6), enquanto quem sai mais precocemente são hoje os nórdicos: os finlandeses aos 21,4 anos e os dinamarqueses e suecos aos 21,8. 

A situação financeira na UE concorre para esta saída tardia. Dizem-nos os dados da Comissão Europeia que 24,5% dos jovens até aos 29 anos (ou seja, 17,4 milhões de pessoas em todo o bloco) estavam em risco de pobreza ou exclusão social. 

Em Portugal em concreto, o desemprego jovem no ano de 2023 chegou aos 20,3% - e no terceiro trimestre de 2024 estava nos 21,6%. E se falarmos de salários, os jovens portugueses ganham mal, impossibilitando à maioria a compra ou aluguer (sozinhos, pelo menos) de casa nas grandes cidades. Em 2023, 39% dos trabalhadores por conta de outrem, entre os 18 e 35 anos de idade, auferiam menos de 800€ líquidos mensais e 36% auferiam entre os 800€ e 1.000€ mensais. Ou seja, 75% dos jovens em Portugal auferiam até 1.000€ líquidos ao fim do mês.

“A distribuição da riqueza que produzimos não é de forma a que as pessoas acreditem no seu próprio futuro e o pratiquem”, denuncia José Carlos Garrucho, psicólogo clínico experiente. E é assim que os jovens estão de volta à casa de partida, ou nunca saem desta. Mas para ele, Garrucho, não é só “responsabilidade” dos salários e da falta de empregos a permanência prolongada dos jovens nas casas dos pais. Levanta-se a questão do que é um “cidadão por inteiro”. Responsável: sociedade. “Pela forma como a nossa sociedade está organizada, nós verdadeiramente só somos cidadãos por inteiro a partir dos 35 anos de idade. Está na Constituição: ninguém pode ser candidato à Presidência da República se não tiver 35 anos. O que significa que a própria sociedade diz que a maturidade não existe antes dos 35 anos para a plenitude dos direitos sociais. O que significa que a própria sociedade impõe um certo nível de desenvolvimento e etapas que estão vinculadas à afirmação da autodeterminação dos jovens.” O mesmo é dizer que, na visão do psicólogo, a sociedade, e a convenção de maturidade, do que é idade adulta, atrasa também a saída de casa. 

“Antigamente” a saída era mais precoce. Para o bem e para o mal. “Eu tenho 68 anos. Quando cresci, também não havia dinheiro. Mas a verdade é que as pessoas saíam de casa. Porquê? Porque a escolaridade obrigatória era só a 4.ª classe, o que significava que, assim que terminavam a 4.ª classe, iam para a vida adulta. Ajudar as famílias. Ou seja, estamos a falar de crianças de 13, 14, 15 anos e iniciavam-se no mundo do trabalho. Hoje a idade adulta começa efetivamente bem mais tarde. Ainda bem, claro. Mas isto ‘atrasa’ todo o processo e projeta-o mais à frente. Ainda assim, este é o lado bom. Este é o lado dos direitos.” O que parece ter havido, considera José Carlos Garrucho, “é o esquecimento das obrigações”. 

Quererá dizer que esta geração é mais “acomodada” e há dos pais uma “desculpabilização”? Em parte, sim. “Criou-se uma certa ilusão, ou expectativa, de que não temos de fazer nada. E a culpa não é dos jovens; é da comunidade. Adiamos a exigência, adiamos a proatividade.” As palavras podem ser tidas como duras. Mas não são contra os jovens. José Carlos Garrucho entende a frustração que sentirão. “Trabalham e recebem mal, trabalham e continuam pobres, não conseguem ser autónomos.” 

No entanto, parece uma geração “que ficou algo instalada”, palavras do psicólogo. Que recomenda: “Nunca podemos ficar instalados. Sempre que tenho uma expectativa e não a cumpro, ela produz uma frustração. Mas a frustração não pode levar-me, por exemplo, à desistência. O que a frustração me deve fazer é desafiar-me a perceber que tipo de recurso é que eu tenho, que oportunidades é que eu tenho, e tentar outras oportunidades”.

Ficando na casa dos pais, e durante tanto tempo, os filhos podem ver-se numa posição “quase de caçadores-recoletores”. “Aproveitando o que o habitat lhes trouxer. E fazem pouco. Ficam acomodados, falta assombro, falta capacidade de risco, falta ambição. É importante que isto não falte, que isto nos aconteça. Quando nos fechamos demasiado na família, não conseguimos que aconteça. Eu, se estiver muito perto da árvore, só vejo a árvore. E eu preciso de ver a floresta. E por isso que preciso de me afastar de todas as árvores para conseguir olhar para aquela floresta. Ou seja, eu não posso estar demasiado imerso na família porque se não eu não vejo a sociedade. Falta ambição.” É um aviso do psicólogo. Voltaremos já a ele. 

Ouçamos Susana Encarnação, terapeuta familiar, próximas das realidades (e problemas) das famílias que aumentam, não decrescem, e que nos diz que “a concepção familiar mudou - e isso traz-nos desafios novos”.

“Se reportarmos isto à geração anterior, dos nossos pais, recordamos claramente que, antigamente, era comum que tomassem conta dos nossos avós. Há aqui uma certa semelhança. No cuidar. A diferença é que os jovens, jovens adultos, estão na casa dos pais devido a questões financeiras, essencialmente. E aqui é diferente. Afeta de forma diferente as famílias. E é diferente porque não se quer que seja permanente. Dos casos com quem contacto, os jovens dizem que pretendem sair logo que reúnam as condições financeiras necessárias. Os pais criam os filhos para que haja uma autonomização logo de início da criança. Quando o jovem sai de casa, essa autonomização completou-se. Quando isso não acontece, há riscos”, refere Susana Encarnação.

Não será um risco de sobrepopulação da casa. “Se é verdade que os jovens vivem até mais tarde em casa dos pais, também é verdade que os pais trabalham até mais tarde, reformam-se bem mais tarde, pelo que estas famílias não estarão permanentemente juntas, há ‘desencontro’ — o que até vem facilitar o convívio. E da parte da família, dos pais, há como disse uma perspectiva temporária, de auxiliar, de apoiar o jovem adulto nesta fase menos boa, sem propriamente o condicionar na individualidade, na liberdade. Os pais não dizem ‘fica’; os pais dizem ‘podes ficar’. É diferente. É um ‘enquanto precisares, se precisares’. É um ‘tens a porta aberta’”, explica a terapeuta. 

Os riscos são afinal de frustração. De parte a parte. E a terapeuta pede diálogo. “Se a relação for aberta e uma relação positiva, estas frustrações, estas fragilidades existem, mas existe também compreensão. É uma ‘frustração apoiada’. Há aqui uma predisposição dos pais em aceitar a realidade externa. A pessoa usufrui, o filho pode estar a usufruir da casa, mas não por falta de competência adquiridas. Eles foram para a faculdade, eles estudaram. Eles adquiriram competências. O modelo parental não falhou. Os pais sentem que fizeram o melhor. Podem sentir-se também eles frustrados, sim. Mas sabem que as competências estão presentes. E a independência virá. Mas também há crises familiares, é evidente. Tensões. Por causa da privacidade, da intimidade, quer conjugal, quer dos filhos, dos jovens. O lugar da família também é esperar, serenar, apoiar.”, garante.

José Carlos Garrucho concorda quanto às frustrações. Mútuas. “Nem os filhos cumpriram o seu projeto de vida, nem os pais sentem que o seu projeto de vida foi eficaz. E perguntam-se, ‘o que é que eu fiz mal?’,  ‘onde é que eu falhei?’, ‘por que é que o meu filho ainda está em casa?’, ‘por que é que ele já não tem a sua vida?’, ‘por que é que ele não casou ou não partilha vida com alguém ou não tem filhos?’, ‘porque é que ele não consegue emprego?’;  são sempre estas questões que os pais colocam.”

Está assim dado, entre questionamentos, entre frustrações, um tiro de partida para começarem os atritos. A explicação do psicólogo é tão alongada quanto profunda e deita as famílias no divã.

“O que é normal e natural é que as famílias ‘produzam’ os seus filhos e eles prossigam os seus projetos de vida autónoma na sociedade. Numa família temos um conjunto de poderes, um conjunto de regras, de funções, que aparentemente são muito diferentes de família para família, mas tem algumas coisas que são iguais. Por exemplo, cada um tem o direito à sua individuação, ao seu espaço individual. Portanto, quando isto não acontece, isto produz uma espécie de travão à evolução, uma espécie de congelamento das relações. Se sou eu o mais velho da casa, se é minha a casa, os filhos não podem ditar as regras. Mas, por outro lado, para eles [filhos] poderem desenvolver o seu próprio projeto pessoal, têm que construir as suas regras e pôr em causa as minhas enquanto pai e mãe. Como é que se compatibilizam as regras de adultos que não têm as mesmas regras? É difícil. Os pais tendem a ser os conservadores, tendem a ser os botas-de-elástico. Portanto, isto cria conflitos, muitas vezes muito complicados, que produz desvios nos jovens descendentes e produz conflitos com os mais velhos, que às vezes são dramáticos, violentos — e até mortais, nos piores casos”. 

Filhos, filhos, negócios à parte?

Ainda continuamos na psicologia, já chegaremos à sacramental questão das rendas. José Carlos Garrucho explica-nos que a saída dos filhos de casa “traz aquilo a que na psicologia familiar chamamos ‘ninho vazio’”. Ou seja, há um sofrimento associado à partida dos filhos. Pelo que há pais, também há, que encontram “conforto” neste permanecer dos seus filhos em casa. 

“É verdade, acontece. Mas é um conforto ‘doentio’. O excesso de proteção é mau, é negligente. Como a ausência de proteção também é negligente. Eu devo preparar as pessoas para a sua autonomia, e depois dar-lhes a oportunidade de afirmarem essa autonomia. Se o segundo passo não for feito, o primeiro não serviu de nada. Os pais que protegem demasiado os filhos, não os protegem; desprotegem-nos. Não os estão a incentivar à autonomia. É sempre o equilíbrio, o balanceamento, que importa.”, refere Garrucho. 

Para o psicólogo clínico, permanecer demasiado tempo na casa dos pais “é um erro, é evidente que é um erro”. E apresenta o que diz ser “um exemplo bom”. “Nos países da Europa do Norte, chegam os 16 anos e os meninos, terminada a escolaridade básica, o equivalente ao 9º ano, são transferidos de cidade, vão para apartamentos e casas sociais, de autonomia, com um cheque mensal dos pais, que lhes paga a mensalidade, e o Estado fornece a casa e as cantinas para comerem. E vão aprender a ser autónomos.”

Importa ver o que fazem os bons alunos. Mas também importa ver, como vê Susana Encarnação, que existem vários modelos familiares. Ou como nos escreveu Tolstoi, a abrir de chofre “Anna Karenina”:

Todas as famílias felizes se parecem umas com as outras, cada família infeliz é infeliz à sua maneira.

“Há um modelo patriarcal, com pai, mãe e filho, mas também há modelos monoparentais, em que o filho vive só com um dos pais, há modelos de famílias reconstruídas, com padrastos, madrastas, meios-irmãos, às vezes mais novos. Cada situação acarreta riscos e tensões diferentes”, enumera a terapeuta familiar. Diz Susana Encarnação que, em qualquer familiar, seja dos pais, ou seja dos filhos, é importante recusar comodismos. Sobretudo dos segundos. 

“Eu acredito, e entendo, que se nos jovens há conforto — não lhe chamaria só um comodismo mas conforto —, também sentem desconforto. Ou desconfortos. Aquela situação não interessa. Não é boa. Mas quando fazem contas às variáveis todas, entre viver com os pais ou partilhar casa, em situações piores, bem piores, de ainda menor liberdade e individualidade, priorizam a permanência”, explica.

E chegámos à pergunta que aqui nos trouxe: é bom, ou mau, cobrar aos filhos uma renda? Primeiro, do ponto de vista da psicologia. Garrucho não considera só bom o princípio; considera “excelente”. 

“Ora, a partir do momento em que os filhos têm um emprego e uma fonte de receita, estão autodeterminados. Se ainda lá estão em casa, esse é um ‘mal’. Mas são adultos. E, portanto, aí já não se trata de uma família, no sentido tradicional, mas trata-se de um ‘condomínio’ de adultos. E num condomínio de adultos, a partilha de despesas é essencial. Porque se não torna-se injusto. Porque é que hei-de pagar todas as despesas do meu prédio quando há lá outras pessoas que têm fontes de rendimento? Não faz sentido nenhum. ‘Ah, mas são tios, mas são primos, mas são filhos, mas são afilhados…’ Não interessa nada; são adultos”, defende o psicólogo. 

Se os pais, defende também, têm rendimentos suficientes para dispensar o pagamento da renda, “ainda assim os filhos devem pagar uma parte das despesas — devem sentir as despesas da vida”. “Caso contrário, nunca aprenderão a vida em si.”

Recusar uma renda aos filhos é uma “hiperproteção”e uma hiperproteção é uma “desqualificação”. “Os jovens não podem ser desqualificados desta forma. Os pais têm a obrigação de cuidar dos jovens, sim, mas só até à idade da autodeterminação. Não é por acaso que o Estado social, quando as pessoas não têm condições de se autonomizar, porque têm uma deficiência física ou mental, garantem meios de apoio à família, por exemplo um subsídio de invalidez ou de apoio à incapacidade ou à deficiência. Existe isto precisamente para que as famílias não se vejam penalizadas porque os seus descendentes não foram capazes de autonomização. Não faz sentido que os adultos quando já têm autodeterminação, até conseguiram um emprego, tiraram um curso, metam tudo ao bolso, gastem tudo em copos e em moina, ‘e os país que paguem as despesas’. Não pode ser. Não faz sentido nenhum. Não é justo. E não é bom para ninguém, nem para os pais nem para os filhos”, conclui José Carlos Garrucho.

A análise de Susana Encarnação à problemática do pagamento de renda aos pais é diferente — e é terminante a sua resposta: não. Só mesmo em caso de necessidade. E explica, pergunta e explica: “Eu gosto de questionar: é uma necessidade ou é um ‘modelo educativo’? Porque falamos de coisas diferentes. Numa situação de precariedade das famílias, a discussão nem se pode colocar. Não há alternativa. E dividem-se as despesas. Mas, por outro lado, a questão do modelo educativo já nos gera questões. E é importante trabalhar os limites. Passo a passo. Imaginemos um semáforo: não passamos diretamente do verde para o vermelho. Nas relações parentais é igual. Se for algo abrupto, os filhos podem não aceitar”, defende.

Falando de ensinar, da repetida tirada “o que custa a vida”, esta terapeuta familiar relembra que os filhos não se podem sentir “hóspedes” dos pais. E que o “modelo educativo” não ensina, tendencialmente, apenas “infantiliza”. 

“Se se sentirem [filhos] tratados como crianças, quando só estão em casa porque efetivamente precisam, isso pode não ser necessariamente produtivo nas relações. É necessário comunicar, comunicar bem, e de forma clara. Dizer que se vai pagar uma renda ‘para saber o que a vida custa’ pode não gerar maturidade; pode gerar uma insatisfação. Porque o jovem pergunta-se se é só assim que vai saber o que custa a vida. ‘Fazer uma licenciatura de não-sei-quantos anos não é saber o que custa a vida?’ ‘Um mestrado não custa?’ ‘E procurar emprego, trabalhar, andar a fazer estágios não-remunerados, não custa?’ Talvez os pais lhes devessem ter ensinado, antes, bem antes, e de outra forma, o que custa a vida. Não quando precisam de ajuda”, atira em jeito de conclusão terapêutica. 

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