Os pais não andam bem. E isto é o que eles podem fazer

CNN , Análise de Kara Alaimo
15 set, 17:00
Pai e filho (Foto: Jens Büttner/Picture Alliance via Getty Images

Conselhos preciosos para gerir o tempo e as expectativas. E para não fazer comparações que só lhe aumentam os níveis de stress

Os pais e cuidadores estão a trabalhar mais horas e a gastar mais tempo a tomar conta dos filhos do que no passado – isto enquanto fazem malabarismos para inscrevê-los em atividades extracurriculares, levá-los a jogos, preencher formulários da escola, levá-los ao médico e mais, muito mais.

Não admira que estejam stressados. E um dos maiores especialistas norte-americanos concorda.

O cirurgião geral Vivek Murthy, que tem dois filhos, deixou um alerta – em forma de comunicado - sobre a pressão que os pais sofrem, considerando que se tornou um problema de saúde pública. Cerca de 41% dos pais reportaram que não conseguem ser funcionais na maioria dos dias por causa do stress. E 48% admitiram que estão completamente assoberbados à custa desse mesmo stress. São dados de 2023 de um inquérito da American Psychological Association.

Os pais estão a debater-se com os custos elevados associados ao cuidado das crianças, à sua educação e aos cuidados de saúde, alertou o comunicado de Vivek Murthy. Os pais estão a esforçar-se para ter tempo suficiente para o trabalho, para cuidar dos filhos e da sua própria saúde mental. No caso dos Estados Unidos da América, estão preocupados com os tiroteios nas escolas e com os desafios de saúde mental que muitas crianças enfrentam.

Os pais têm também o desafio de saber como lidar com o uso das redes sociais pelos filhos, assim como de gerir as suas próprias plataformas. Segundo o comunicado, enfrentam uma “crescente cultura de comparação” encorajada pelos influenciadores digitais que exibem como é ser-se, supostamente, o pai perfeito.

As coisas ficam ainda mais complicadas para os pais que têm lidar com fatores de stress adicionais, como o facto de serem solteiros, terem filhos com necessidades especiais ou se terem divorciado recentemente.

E, se os pais estão stressados, os filhos também o ficam. Um estudo de 2021 mostrou que, se o cuidador tiver uma saúde mental frágil, há o dobro das probabilidades de a criança ter problemas comportamentais, de desenvolvimento ou mentais. E quatro vezes mais hipóteses de terem eles próprios também uma saúde mental frágil.

Não é surpresa nenhuma que as dificuldades dos pais em matéria de saúde mental podem prejudicar toda a sociedade, aumentando os custos dos cuidados de saúde e reduzindo a produtividade económica, vincou o comunicado.

Para concluir: “De uma forma simples, os cuidadores também precisam de ser cuidados”.

Os pais e cuidadores dos nossos dias estão stressados. Um cirurgião geral norte-americano fala num problema de saúde pública. E se os pais estão stressados, os filhos também ficam (Prostock-Studio/iStockphoto/Getty Images/File)

 

Como podem os pais cuidar de si próprios

É verdade que muitos destes problemas exigem uma ação da parte dos legisladores e dos empregadores. Por isso, este alerta deveria servir como uma chamada de atenção a ambos, para que percebam que os cuidados de saúde e os cuidados infantis devem ser mais baratos e acessíveis.

No entretanto, o que podem fazer os pais? Anna Seewald, psicóloga e anfitriã do podcast “Authentic Parenting” [Parentalidade Autêntica, em tradução livre] explica que os pais podem levar a cabo mudanças para conseguirem proteger a sua saúde física e mental no meio de tantos desafios.

Expectativas mais baixas

A nossa sociedade torna a vida extremamente difícil para os pais, nota o comunicado de alerta. Por isso, os pais podem tentar reavaliar as suas expectativas em relação a si próprios.

“Os pais colocam muita pressão sobre si próprios, definem que têm de estar sempre calmos e pacientes, que têm de ter filhos bem-comportados que fazem muitas atividades extracurriculares”, refere Anna Seewald, para vincar que fazer isto não é algo realista. “As expectativas altas e as comparações sociais levam a grandes ressentimentos e frustrações”.

É melhor que os pais se tornem mais realistas sobre aquilo que conseguem fazer dadas as suas próprias circunstâncias.

Faça um balanço de como gasta o tempo

Muitos dos pais que recorrem a Anna Seewald gastam muitas horas nas redes sociais. Só apagar uma aplicação pode ajudar a libertar uma quantidade substancial de tempo e de energia, diz. “Não reparamos como drenam o nosso tempo, mas é um fator de stress para muitas pessoas. E algo que é possível controlar”.

Os pais podem também tirar benefícios se reduzirem a lista de atividades dos filhos. “Não precisamos de ir a duas festas de aniversário com crianças de quatro anos na mesma semana”, exemplifica. “Preservar e proteger o nosso próprio tempo, bem como a nossa energia, é mais importante”. Contudo, se este contacto for algo que lhe dá prazer, “pode tentar contratar uma ama ou mesmo convidar um vizinho para um café”, sugere.

Uma das formas de os pais encontraram mais tempo para si próprios é pedindo ajuda à comunidade em que se inserem – por exemplo, pedindo a um vizinho ou familiar que olhe pelas crianças enquanto fazem uma pausa. Anna Seewald diz também que é importante que os pais avaliem que responsabilidades – como o cuidado da roupa ou as boleias – podem delegar noutras pessoas.

Ter momentos de convívio cara a cara

Parte do tempo que os pais dedicam a si próprios precisa de incluir momentos de conexão e sociabilização cara a cara, diz Anna Seewald. “Muitos pais sentem-se sozinhos e isolados. Ver um amigo ajuda a desabafar e a falar sobre os problemas, obtendo apoio emocional de que precisamos, mesmo que só nos encontremos com essa pessoa uma vez por semana”.

Os pais podem responder a algumas necessidades de cuidado próprio mesmo quando têm as crianças por perto – e com pouco tempo, diz Anna Seewald. “Se puser música e dançar com os seus filhos, e ficarem a fazer palhaçadas durante dez minutos antes do jantar, o estado de espírito muda por causa do movimento”, aconselha. “Pequenos gestos como este fazem uma grande diferente. E são de graça”.

Passar tempo na natureza também ajuda, acrescenta. “Pode ir para o quintal ou para um parque, nem que seja por 15 minutos, mesmo com crianças, para sentir o sol ou ver o por-do-sol. Não custa nada, mas regula o nosso sistema nervoso e dá-nos a sensação de admiração, conecta-nos a algo maior”, argumenta.

Acima de tudo, a psicóloga recomenda aos pais que pratiquem a autocompaixão, o que significa “serem gentis consigo mesmos quando erram, quando gritam com os filhos”. “Sentir-se desajustado ou envergonhado é um caminho para o fracasso”.

O cirurgião geral deixou claro que os pais nos Estados Unidos não estão bem. Apesar de caber aos legisladores e empregadores ajudar a resolver muitos destes problemas, também é essencial que os pais cuidem de si próprios, em vez de esperarem que os problemas se resolvam sozinhos (é capaz de demorar até que isso aconteça). Serem gentil e realista consigo próprios, encontrarem tempo para estarem com os amigos ou rodeados pela natureza ou pedirem ajuda são tudo estratégias que ajudam a lidar com a sobrecarga de stress da parentalidade.

Kara Alaimo é uma professora associada de comunicação na Fairleigh Dickinson University. O seu livro “Over the Influence: Why Social Media Is Toxic for Women and Girls — And How We Can Take It Back” [Acima da influência: como as redes sociais são tóxicas para mulheres e raparigas. E como podemos invertê-lo, em tradução livre] foi recentemente publicado pela Alcove Press.

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