“Diziam que os espiões portugueses eram muito mauzinhos”

2 dez 2021, 07:00

A historiadora Irene Flunser Pimentel, autora do livro “Espiões em Portugal Durante a II Guerra Mundial”, conta como o País se tornou num ponto de passagem de agentes internacionais. E explica porque a espionagem nacional não tinha boa reputação.

É durante a II Guerra Mundial que Portugal se torna um cenário real de espionagem. A historiadora Irene Flunser Pimentel , que escreveu o livro “Espiões em Portugal Durante a II Guerra Mundial” conta como o País se tornou num ponto de passagem de agentes ingleses e alemães. “Tivemos cá muitos espiões devido ao facto de Portugal ser neutral. Estavam cá pessoas da Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos, de França. Ao não estar em guerra, era fácil a alguns entrarem pela via diplomática e ouviam-se uns aos outros”. 

Segundo explicou a investigadora à CNN Portugal, a decisão de “Salazar ter declarado a neutralidade no próprio dia em que começou a guerra” foi determinante. Mas, diz, existiam mais motivos: “Ser um país atlântico também foi importante, porque o Atlântico era importante do ponto de vista estratégico. O que os Ingleses e os alemães queriam mesmo saber era que mercadorias partiam do porto de Lisboa, que pessoas partiam e por aí fora”.

A historiadora lembra que Portugal “não tem uma tradição de espionagem” e, por isso, “durante a II Guerra Mundial, as pessoas eram “recrutadas na rua, nos clubes de dança e nos portos”. Por não existir uma escola de serviços secretos, a imagem nacional nesta área era negativa. “Os alemães e os ingleses diziam que os espiões portugueses eram muito mauzinhos porque iam logo contar à família toda que tinham sido recrutados. Era assim que nos viam” conta Irene Flunser Pimentel.

E numa viagem do tempo, recorda uma história que lhe ficou na memória, enquanto escrevia o livro: um episódio que envolve Walter Schellenberg, que era dos serviços secretos nazis e que em 1940 foi incumbido de raptar os duques de Windsor, que estavam em Portugal. “Acabou por não o fazer”, diz, mas a dada altura, ele próprio recrutou os seus espiões entre os portugueses. “Uma das coisas que conta é que um deles lhe apresentou uma conta muito grande de sapatos. Aproveitou para calçar toda a família, dizendo que tinha gasto os sapatos todos, a seguir os alvos que o Schellenberg tinha dito para seguir”.

No seu livro, Irene, nomeia alguns dos agentes secretos mais conhecidos desta época, que passaram por território nacional como, por exemplo, Juan Pujol, conhecido por ‘Garbo’ e Dusko Popov, nome de código ‘Tricycle’. Em Portugal esteve também o escritor e agente secreto inglês Ian Lancaster Fleming, o criador de James Bond. E terá mesmo sido o ambiente de guerra e espionagem deste tempo que o inspirou a criar o agente secreto mais famoso do mundo, mas que nunca passou de uma personagem.

Do mundo da espionagem fazem também parte muitos objetos  As imagens cedidas à CNN Portugal pelo ©German Spy Museum Berlin mostram o que tem sido usado pelos espiões ao longo da história.

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