Pedro Strecht admite ter "dúvidas de que um ano possa ser suficiente" para investigar abusos na Igreja

2 dez 2021, 18:12

O coordenador da comissão nacional que irá estudar os abusos sexuais de menores ao longo das últimas décadas na Igreja Católica garantiu ainda que o financiamento desta investigação não caberá ao Estado

O pedopsiquiatra Pedro Strecht, que foi nomeado pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) coordenador da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos de Menores na Igreja, admitiu, esta quarta-feira, ter dúvidas de que "um ano possa ser suficiente" para a investigação da comissão. 

Para o pedopsiquiatra, que falava em conferência de imprensa na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, a definição do tempo deste estudo é algo "extremamente difícil", tendo em conta que em França esta investigação durou "dois anos e meio e contou com um financiamento de 2,5 milhões de euros".

 "Eu também tenho dúvidas que um ano possa ser suficiente, mas num ano podemos produzir o suficiente para dizer se chega ou se vale a pena, a partir daí, haver outros estudos e sobre que temas", admitiu Pedro Strecht, concordando, assim, com Carlos Farinha, director nacional Adjunto da Polícia Judiciária (PJ), que, esta quinta-feira, em entrevista ao Público e à Rádio Renascença, considerou o tempo como "um factor de desculpabilização que promove o apagamento judiciário".

Por outro lado, Pedro Strecht acrescentou que "não gostaria nunca de fazer parte de uma comissão igual a tantas outras que começam os seus trabalhos sem um prazo definido", levando, depois, a um período de espera demorado, que acaba por "diluir o objeto de estudo".

"Por isso, tentei delimitar um tempo, que obviamente é arriscado, (...) estamos sem um a priori", apontou. 

Além disso, o líder da comissão independente considerou que "vão ser precisas mais pessoas" além das seis que atualmente compõem a equipa de investigação. 

Financiamento da investigação ficará a cargo da CEP

Questionado sobre o financiamento da investigação, Pedro Strecht adiantou que não estará a cargo do Estado português, mas sim da Conferência Episcopal, garantindo que tal não irá interferir na "independência" do estudo.

Na terça-feira, o pedopsiquiatra foi nomeado coordenador da comissão  que vai estudar os abusos sexuais de menores ao longo das últimas décadas na Igreja Católica. O anúncio, em novembro, da criação desta comissão nacional surge dois anos depois de os bispos portugueses recusarem ou adiarem continuamente a implementação de uma medida deste género, como já foi implementada noutros países, nomeadamente França - cujo relatório estimou em mais de 300 mil as vítimas de abusos de menores na Igreja ao longo dos últimos 70 anos.

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