Kvaradona: em Nápoles o talento simplificou o nome

25 out 2022, 08:16
Nápoles-Ajax

Khvicha Kvaratskhelia, o talento georgiano que apaixonou Nápoles de rompante

P.S. (Para Seguir) é um espaço assinado pelo jornalista Nuno Travassos, que pretende destacar jogadores até aos 21 anos.

Conhecido ‘scout’ italiano, com um passado de jogador e dirigente, Carlo Jacomuzzi reconheceu recentemente que nunca tinha ouvido falar de Khvicha Kvaratskhelia, até este aparecer no Nápoles.

Dito isto por um profissional, para início de conversa, já não me sinto tão mal por assumir que também desconhecia este talento georgiano até ao início da presente temporada. Sem querer desculpar tamanha falha, parece-me justo dizer que Kvaratskhelia passou de anónimo a fenómeno viral em poucos meses, e por isso tornou-se impossível ignorar aquilo que tem feito.

Recrutado do modesto Dinamo Batumi por cerca de 10 milhões de euros, Khvicha conquistou de imediato os exigentes adeptos napolitanos. Não é para menos, quando um jogador contribui para a liderança da Serie A com sete golos e seis assistências em 15 jogos.

O talento revelou-se tão cativante que até ajudou a descomplicar o nome: Kvaratskhelia já era Kvara, para simplificar, e agora tornou-se… Kvaradona.

«Não penso nisso. Nem quero pensar. Não é possível. Maradona é demasiado grande. Kvara está bem», resiste o georgiano, em entrevista ao Corriere dello Sport.

Embora tenha nascido em Tiblíssi, o jogador do Nápoles viveu os primeiros anos no Azerbaijão. O pai, Badri, jogou lá entre 1997 e 2005, e chegou mesmo a internacional azeri.

Só mais tarde é que Kvara foi viver para a Geórgia, e cresceu na academia do Dinamo Tiblíssi. Fez a estreia na equipa principal com apenas 16 anos, em 2017/18, mas na temporada seguinte foi para o Rustavi.

Emprestado ao Lokomotiv de Moscovo no primeiro semestre de 2009, fez apenas 10 jogos (e um golo), mas o carismático Yuriy Semin queria comprá-lo. Queria tanto que chorou quando se despediu de Kvara.

Voltar a casa para fugir da guerra, antes da grande mudança

No Rubin Kazan esfregaram as mãos, e o esquerdino cresceu sob o comando de Leonid Slutsky. Só saiu em março de 2022, na sequência da guerra na Ucrânia e das sanções às equipas da Rússia. A FIFA abriu exceções ao mercado de transferências e Kvara voltou à Geórgia, para representar o campeão, Dinamo Batumi.

Foi daí que saiu para o Nápoles. A equipa que perdeu Insigne, Mertens, Fabian Ruiz ou Koulibaly, mas que, ainda assim, está na frente da Serie A. Que alimenta o sonho de uma cidade apaixonada, que não festeja um scudetto há 32 anos.

Embora já tenha apontado Cristiano Ronaldo como uma referência, Kvara diz que Guti foi o primeiro ídolo que teve. Joga preferencialmente a partir da ala (esquerda), embora possa também aparecer como segundo avançado. Com uma presença em campo que aparenta mais do que 21 anos de idade, o georgiano combina qualidade técnica, capacidade física, inteligência e maturidade.

Um jogador muito forte no drible e em combinações curtas, que está constantemente à procura do momento certo para acelerar o jogo. Não é fácil encontrar um criativo que saiba definir tão bem os tempos de jogo, que seja tão equilibrado a dar «esticões».

Embora seja destro, utiliza o pé esquerdo com enorme naturalidade, o que reforça a imprevisibilidade.

E mesmo com uma postura consideravelmente altruísta no último terço, tem assumido uma influência incontornável na definição, medida em golos e assistências.

Um jogador muito completo, sobretudo para a idade, que tem tudo para marcar o futebol georgiano nos próximos anos, mas também com qualidade mais do que suficiente para intrometer-se entre os grandes valores do futebol europeu.

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