Há vários fatores que apontam para um investimento maior em ouro. Entre eles, o receio de uma recessão das economias mundiais e de um menor retorno de instrumentos dependente dos juros. Mas é sobretudo a queda do dólar que confirma a tendência. Saiba quais são as melhores estratégias e as mais arriscadas
Ativo de refúgio. Quando se fala em ouro ouve-se sempre esta expressão, mostrando que ele é uma aposta segura para investir em tempos de instabilidade e subida da inflação. Porque este metal precioso, apesar de não lhe dar rentabilidade com juros, tem outras vantagens: o seu valor não tende a desvalorizar e pode ser facilmente vendido em caso de emergência.
“Em momentos de incerteza, é comum os investidores aplicarem uma parte das suas poupanças neste metal precioso”, atesta Bárbara Barroso, especialista em Finanças Pessoais e fundadora do projeto MoneyLab. E Henrique Tomé, analista da XTB, reforça esta ideia: “tende a beneficiar de períodos de maior incerteza, como o clima de guerra”.
“Estamos num momento em que o investimento em ouro pode fazer sentido”, confirma Ricardo Evangelista, diretor executivo da Activtrades Europe, destacando a desvalorização do dólar: “O preço do ouro é negociado em dólares. Existe uma correlação invertida entre os dois”.
Desde o início do ano, clarifica este analista, o ouro registou uma subida próxima dos 3%.
Os fatores favoráveis ao investimento em ouro
O clima atual é favorável para quem quer investir no metal amarelo. E há vários fatores a indicar que sim. Porque a valorização do ouro, simplifica Henrique Tomé, está dependente “do comportamento das obrigações, do valor do dólar e das políticas monetárias”. “Temos fatores que dão algumas evidências de que o ouro pode subir”, aponta.
Às inflação elevada e perspetivas de que a economia global se encaminha para uma recessão, limitando a política monetária dos bancos centrais, junta-se o facto de “as yields [juros das obrigações da dívida pública] e o dólar estarem a ficar mais fracos”, diz o analista. São tudo fatores que tendem a beneficiar o investimento em ouro. De uma forma simples, com menor retorno em instrumentos dependentes dos juros, o ouro fica mais atrativo.
Prova disso é que, nas últimas semanas, o metal precioso tem recuperado terreno. E a expectativa de vários analistas é de que ele chegue a negociar, ainda em 2023, acima dos dois mil dólares por onça, atingindo máximos históricos.
Investir, com cautelas
O cenário é favorável, sim, mas são necessárias cautelas. “Com isto, não quer dizer que todos devam investir. Irá sempre depender do perfil de risco de cada investidor, objetivos, horizonte temporal e também exposição que aloca a este metal”, avisa Bárbara Barroso. Se quer investir e não sabe como, o melhor é pedir ajuda especializada, para não correr riscos.
Até porque há várias formas de investir em ouro, incluindo a compra de ações de empresas ligadas à mineração de ouro.
Mas há um modelo que tem sido aconselhado por vários especialistas no assunto, inclusive pela Deco Proteste: os ETF. Os Exchange Traded Funds são fundos de índice que negoceiam em bolsa como ações.
“Será a melhor alternativa em termos de custo-benefício. É um instrumento que diversifica o risco. E o custo das comissões também é mais acessível”, reage Henrique Tomé.
A Deco Proteste chegou a aconselhar que não tenha aplicados mais de 5% dos seus investimentos em ouro.
“O ouro não desvaloriza, mas também não gera rendimento”, atesta Ricardo Evangelista. O analista financeiro confirma ainda que é possível perder dinheiro ao investir em ouro: por exemplo, quando, numa situação de urgência, o investidor vende a sua posição em ouro para cobrir outros investimentos. Foi o que aconteceu, diz, no início da pandemia, em 2020.
Comprar ouro físico? Evite ir por aí
Há uma maneira de investir em ouro que pode parecer mais intuitiva: comprando barras de ouro, moedas de ouro bem como artigos de joalharia ou outros produtos em ouro. Mas esta poderá não ser a melhor forma de o fazer. Até porque acarreta vários riscos e custos.
Por exemplo, se for comprar ouro a uma ourivesaria para investimento, terá de contar que o preço pago contará com a margem do vendedor, geralmente mais acentuada do que investindo diretamente num título deste ativo. E também o IVA, que não conseguirá reaver se vender a joia.
Depois, há sempre o risco de o ouro físico ser roubado. Pode até colocá-lo no cofre do banco, mas isso implica custos adicionais.
Maior procura
Dados do World Gold Council mostram que os bancos centrais também estão na corrida ao ouro: em 2022, compraram 1136 toneladas, o valor anual mais elevado desde 1968. Grande parte do investimento foi feita na segunda metade de 2022, coincidindo com a queda do dólar. A regra é simples entre o dólar e o ouro: se um desce, o outro tende a subir.
“Foi um fenómeno que até me deixou um pouco perplexo, porque não era comum os bancos centrais comprarem ouro. Penso que, em alguma parte, isso terá a ver com o apertar das políticas monetárias. Andavam a comprar muita dívida. E ao acabarem com esses programas de compra de dívida, quando a divida atinge a maturação, têm ali capital para investir. Poderá ser, em parte, isso”, explica Ricardo Evangelista.
Também a procura de ouro aumentou 18% a nível global no ano passado, para 4741 toneladas.
Portugal é o 14º país do mundo com as maiores reservas de ouro, com 382,6 toneladas, avaliadas em 25 mil milhões de euros. Não há mexidas nestas reservas desde 2006. O Banco de Portugal tem conseguido ganhos associados a este património: 109 milhões em quatro anos.