Sim, “Top Gun: Maverick” e “Avatar: O Caminho da Água” - dois dos maiores sucessos de 2022, estão entre os 10 nomeados para o Óscar de Melhor Filme a entregar este domingo, 12 de março, em Los Angeles. Mas não, os respetivos fenómenos comerciais não deverão ter força suficiente para contrariar a tendência que vem dos outros prémios do Cinema e que, este ano, se transformou numa surpreendente unanimidade.
Nas últimas semanas, “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo” foi celebrado pelos sindicatos dos atores, produtores, realizadores e argumentistas norte-americanos; uma coincidência muito rara, mas estatisticamente determinante sobre o que está para acontecer. Para a consagração total desta comédia desconcertante sobre um inesperado multiverso, já só faltam os Óscares.
Mesmo que não se confirmem todas as nomeações (são 11, o recorde deste ano), é o talento asiático que está a ser reconhecido como nunca foi na história da Academia de Hollywood. A nomeação de Michelle Yeoh para Melhor Atriz, Ke Huy Quan para Melhor Ator Secundário e Stephanie Hsu para Melhor Atriz Secundária refletem esse reconhecimento. Uma das rivais de Hsu é Hong Chau de “A Baleia”. É a primeira vez que há tantos atores asiáticos na lista.
Depois da entrega do Óscar de Melhor Realização a duas mulheres nos últimos dois anos (Chloé Zhao com “Nomadland” em 2021 e Jane Campion com “O Poder do Cão” em 2022), só há homens nomeados, desta vez. Reabriu o Clube dos (Bons) Rapazes? Nas redes sociais, a hashtag #oscarssomale ganhou expressão em menos de nada. Mesmo com Steven Spielberg na corrida com “Os Fabelmans”, o filme mais pessoal que já fez, os favoritos são Daniel Kwan e Daniel Scheinert que partilharam a realização de “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo”. Se ganharem, serão a terceira dupla a consegui-lo e os mais novos de sempre; ambos têm 35 anos.
Entre as nomeadas para Melhor Atriz, Cate Blanchett já arrecadou o Bafta e o Globo de Ouro com o papel de uma maestrina em “Tár”. Se também ganhar o Óscar, será o terceiro da carreira, depois de “Blue Jasmine” (Melhor Atriz - 2016) e “O Aviador” (Melhor Atriz Secundária - 2005). Mesmo que não ganhe, já reforçou o recorde de participações em candidatos a Melhor Filme: “Tár” é o décimo. A maior adversária? Michelle Yeoh na primeira nomeação da carreira e em grande forma aos 60.
Entre os nomeados para Melhor Ator, há um facto histórico: desde 1934 que não havia só estreantes na lista. Nesta edição, porque a Academia gosta de premiar atores que interpretam personagens reais (especialmente se forem lendas da música), a maior probabilidade parece estar do lado de Austin Butler com a encarnação de “Elvis” no biopic do rei do rock ‘n roll. Mas o mais votado pode ser Brendan Fraser com “A Baleia”, o filme que marca o renascimento do ator em Hollywood já reconhecido com o prémio do Screen Actors Guild.
Quem não se pode queixar de esquecimento - antes pelo contrário, é John Williams que já ganhou 5 Óscares e, agora, pode ganhar mais um com a banda sonora de “Os Fabelmans”. Aos 91 anos, o compositor é o nomeado mais velho de sempre e esta é já a 53ª nomeação, um recorde absoluto para alguém que ainda está vivo.
Angela Bassett também está a viver um momento especial: é com ela que um filme da Marvel entra nas categorias de representação pela primeira vez. “Black Panther: Wakanda Para Sempre” é o passaporte eventual para o Óscar de Melhor Atriz Secundária; a primeira nomeação aconteceu em 1994 com o papel de Tina Turner em “What’s Love Got to Do It”. Será desta? Só se a “nepo baby” Jamie Lee Curtis ficar pelo caminho com “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo”; é a primeira nomeação para a filha dos lendários Janet Leigh e Tony Curtis.
Nas contas para o Óscar de Melhor Filme Internacional, é quase certa a vitória de “A Oeste Nada de Novo”, a produção da Netflix que adapta o mesmo livro que inspirou o vencedor do Óscar de Melhor Filme em 1930. Mais de nove décadas depois, o retrato realista da Primeira Guerra Mundial está à frente da concorrência, desde logo porque também está nomeado para o Óscar de Melhor Filme e, sempre que houve essa dupla nomeação, o prémio mais pequeno está garantido.
O novo “Pinóquio” de Guillermo Del Toro, também da Netflix, é o mais forte candidato a Melhor Filme Animado. A história contada com a técnica stop-motion e ambientada na Itália fascista de Mussolini já ganhou quase tudo o que havia a ganhar até agora (Bafta, Annie, Globo de Ouro). A confirmar-se, será o terceiro Óscar para o realizador mexicano, depois da dupla distinção como realizador e produtor de “A Forma da Água” em 2018.
Este ano, o momento mais aguardado em Portugal será o anúncio da Melhor Curta-Metragem animada porque, pela primeira vez, há um filme português na lista da Academia de Hollywood. Desde que se estreou em Cannes, “Ice Merchants” já ganhou 17 prémios; o mais recente e um forte indicador para o Óscar é o Annie. Ao realizador João Gonzalez e ao produtor Bruno Caetano, bastaram 14 minutos para contar a história de um pai e filho que ganham a vida como mercadores de gelo. Com ou sem Óscar, já são 14 minutos de ouro na história do Cinema português.