Indígenas brasileiros denunciam ouro ilegal com estatueta alternativa para vencedores do Oscar

Agência Lusa , DCT
11 mar 2023, 08:06
Óscares

A mineração ilegal causou uma crise humanitária nesta comunidade de 30.400 habitantes, localizada numa reserva de 96 mil quilómetros quadrados entre os estados de Roraima e Amazonas, no norte do Brasil

Os indígenas brasileiros Yanomami anunciaram que vão apresentar aos vencedores do Óscar uma estatueta alternativa no domingo, como símbolo da luta contra a extração ilegal de ouro na Amazónia.

A associação Yanomami Urihi disse que vai presentear aos vencedores do maior prémio de cinema - feito de bronze sólido e coberto com ouro de 24 quilates - uma figura de Omama, o deus da comunidade, feita sem metal.

"Na vossa cultura, o ouro é sinónimo de êxito. Para o meu povo, para a selva e para as criaturas que permanecem na Amazónia, significa morte e destruição", disse o chefe da associação Yanomami Urihi, Junior Hekurari Yanomami, num vídeo divulgado na sexta-feira pela agência de publicidade DM9 e enviado para cerca de 20 nomeados ao Oscar.

Os nomeados incluem Austin Butler, Brendan Fraser, Ana de Armas e Cate Blanchett.

A mineração ilegal causou uma crise humanitária nesta comunidade de 30.400 habitantes, localizada numa reserva de 96 mil quilómetros quadrados entre os estados de Roraima e Amazonas, no norte do Brasil.

O vídeo faz parte da campanha "Custo do Ouro", que visa utilizar os holofotes de Hollywood para aumentar a sensibilização para o problema à escala global.

"O ouro é extraído com mercúrio e cada vez mais litros são despejados nos nossos rios, matando os nossos animais, as nossas florestas e o nosso povo", advertiu Junior Hekurari.

"Têm a oportunidade de se erguer perante milhões de pessoas e apelar ao mundo para que acabe com o ouro ilegal", acrescentou, dirigindo-se diretamente aos atores.

Em 2021, cerca de 54% do ouro comercializado no Brasil mostrou sinais de origem ilegal, de acordo com a Associação Yanomami.

A extração ilegal aumentou particularmente durante o mandato do ex-Presidente brasileiro Jair Bolsonaro (2019-2022), defensor da abertura de terras indígenas a esta atividade.

Além disso, a desflorestação média anual aumentou em 59,5% nos últimos quatro anos.

No final de janeiro, o atual Governo de Luiz Inácio Lula da Silva declarou o estado de emergência sanitária nas terras Yanomami, devido às graves condições de desnutrição e doenças que atingem grande parte deste povo.

A crise humanitária tem como causa, em parte, os produtos tóxicos utilizados pelos mineiros, como o mercúrio.

Lula da Silva autorizou também uma operação conjunta das forças armadas e outras instituições para expulsar os invasores do território limítrofe da Venezuela.

Entretanto, a presidência brasileira anunciou, na sexta-feira, que Lula da Silva vai participar, na segunda-feira, da 52.ª Assembleia Geral do Povos Indígenas, em Roraima, juntamente com cerca de duas mil lideranças de Roraima, incluindo representantes dos povos Yanomami, Wai Wai, Yekuana, Wapichana, Macuxi, Sapará, Ingaricó, Taurepang e Patamona.

Este encontro pretende “aprofundar as discussões sobre a proteção de terras, a gestão de recursos naturais e a agenda do movimento indígena para 2023”, indicou a presidência brasileira.

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