Ordem dos Médicos retira confiança a Diogo Ayres de Campos

27 jun 2023, 10:57
Médicos (imagem Getty)

Numa carta enviada esta terça-feira a Graça Freitas, o bastonário pede o afastamento do médico como coordenador dos grupos de trabalho da DGS em que exista colaboração com a OM. Em causa está a norma sobre os partos que permite que os de baixo risco fiquem ao cuidado de enfermeiros

É mais um episódio a revelar o caos que está instalado na obstetrícia e ginecologia no País. A Ordem dos Médicos acaba de retirar a confiança institucional a Diogo Ayres de Campos - que lidera a Comissão de Acompanhamento da Resposta em Urgência de Ginecologia/Obstetrícia e Bloco de Partos da DGS - e exige o seu afastamento como coordenador dos grupos de trabalho em que estão envolvidos elementos da Ordem.   

Numa carta enviada na manhã desta terça-feira à diretora-geral de Saúde, Graça Freitas, o Bastonário dos Médicos alega que a forma como a norma sobre os partos foi aprovada põe em causa a “segurança” das grávidas e dos recém-nascidos e exige o “afastamento“ de Diogo Ayres de Campos – o especialista que foi também recentemente demitido do cargo de diretor de Obstetrícia, Ginecologia e Medicina de Reprodução do Centro Hospitalar Lisboa Norte, depois de colocar em causa o plano de obras previstos para o serviço e a consequente colaboração com o Hospital de São Francisco Xavier.

No documento enviado esta manhã a Graça Freitas, o bastonário Carlos Cortes explica que o “Conselho Nacional da Ordem dos Médicos” decidiu “retirar a confiança institucional ao médico Diogo Ayres Campos” por este ter “ignorado” a opinião dos elementos destacados pela Ordem dos Médicos para integrar o grupo de trabalho que elaborou a norma da DGS sobre os partos.

Segundo a OM, o texto final da orientação sobre partos contém procedimentos que não tiveram o aval dos especialistas. Entre eles a definição de duas equipas, uma só de enfermeiros, e a possibilidade de os profissionais de enfermagem em casos de menor risco terem poder para internar grávidas. Os responsáveis da OM consideram que esta situação não é aceitável por implicar uma tabela de prescrição que cabe só ao pessoal médico.

“Pretendemos que a Orientação 2/2023 da DGS seja alterada”, escreve Carlos Cortes avisando que “a mesma põe em causa todo um histórico de sucesso de colaboração entre os diversos grupos profissionais envolvidos no trabalho de parto, a segurança das grávidas e dos recém-nascidos”.

A nova orientação da DGS prevê que o internamento hospitalar, nas situações de baixo risco, pode ser realizado por enfermeiros especialistas em enfermagem de saúde materna e obstétrica.

Segundo a OM , “houve um completo e total desrespeito por parte do Senhor Coordenador do Grupo de Trabalho” pela opinião dos médicos destacados pela OM para integrarem o grupo, “o que conduziu a que tivessem solicitado que os seus nomes fossem retirados da Orientação, o que, lamentavelmente, ainda não sucedeu”. Carlos Cortes alega que a OM tem “vindo a fazer diversos pedidos de esclarecimento sobre este assunto, sem que até à data tivéssemos merecido qualquer resposta esclarecedora”.  

Esta polémica tinha surgido já em maio quando a norma foi aprovada, tendo a OM pedido a sua revogação. Nessa altura, a OM fez um comunicado a contestar o conteúdo da orientação, alegando que não refletia a posição dos representantes da OM. Mas Diogo Ayres de Campos garantiu publicamente que o documento tinha a colaboração e consenso de todos os especialistas.  

Situação que Carlos Cortes desmente na carta que enviou esta terça-feira a Graça Freitas.

“A Ordem dos Médicos está a ser completamente ignorada”, conclui o bastonário , explicando que a carta foi também encaminhada para o ministro da Saúde, Manuel Pizzaro.

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