Estreia viu a hora ser alterada para permitir que os atores estivessem presentes para promover o filme e falar com os fãs. Greve arrancou à meia-noite e junta-se à greve dos argumentistas que já dura há dois meses
É um dos filmes mais aguardados do ano e a antestreia no Reino Unido aconteceu esta quinta-feira, no cinema Odeon Luxe Leicester Square, em Londres. O evento ficou, no entanto, marcado pelo anúncio da greve do sindicato dos atores de Hollywood, que começou esta sexta-feira, à meia-noite.
O elenco do filme do realizador Christopher Nolan mostrou-se empenhado em apoiar a paralisação do SAG-AFTRA (Screen Actors Guild) e, depois de terem comparecido na passadeira vermelha - antes de a greve ser oficialmente anunciada - , atores como Cillian Murphy, Emily Blunt, Matt Damon, Florence Pugh e Robert Downey Jr. despediram-se do público que estava junto à passadeira vermelha como forma de protesto.
Na passadeira vermelha, Matt Damon, um dos atores que participa do filme, afirmou que foi importante alterar a hora da estreia do filme para permitir que os atores estivessem presentes para promover "Oppenheimer" e falar com os fãs.
"Queremos definitivamente falar sobre o assunto enquanto ainda podemos. Se entrarmos em greve, fazemos as malas e vamos para casa", afirmou.
Uma declaração que foi corroborada por Emily Blunt em declarações ao Deadline, antes de ser conhecido o anúncio da greve. A atriz afirmou que esperava que "todos fizessem um acordo justo", mas que, caso a greve fosse convocada, sairiam "juntos como um elenco em união com todos".
"Se eles convocarem (a greve), vamos sair juntos como um elenco em união com todos. Vamos ter de o fazer. Portanto, veremos o que acontece. Neste momento, o que importa é a alegria de estarmos juntos".
"Foram escrever os cartazes de piquete"
Segundo a CNN Internacional, a decisão viria a ser explicada depois pelo realizador ao público presente no cinema Odeon Luxe Leicester Square antes do início da sessão do filme.
"Temos de reconhecer (que) os viram aqui antes na passadeira vermelha", afirmou Nolan, revelando que "infelizmente foram escrever os seus cartazes de piquete para o que acreditamos ser uma greve iminente do SAG".
O realizador revelou ainda que os atores que abandonaram a estreia do filme se juntaram a uma das suas organizações, a "Associação de Escritores da América, na luta por salários justos para os membros trabalhadores do sindicato, e nós apoiamo-los". A Associação de Escritores da América (WGA) está em greve desde maio.
Em declarações aos jornalistas na passadeira vermelha, o ator Kenneth Branagh afirmou que "este é um momento crítico", uma vez que existe "uma ameaça existencial para o sector que tem de ser resolvida".
"Estamos completamente solidários com os nossos colegas, por isso estaremos com eles e com os nossos companheiros - sou membro da WGA há 33 anos. Penso que este é um momento crítico e que estão a trabalhar arduamente para tentar chegar a um acordo justo para todos. Trata-se de uma ameaça existencial para o sector que tem de ser resolvida. Está a ser tratada. É um processo doloroso, mas tem de ser feito", afirmou.
O Sindicato de Atores dos Estados Unidos e os principais estúdios de cinema e televisão terminaram, na quarta-feira, sem sucesso, quatro semanas de negociações sobre um novo acordo de trabalho. Em causa estão negociações entre o SAG-AFTRA (Screen Actors Guild), que representa cerca de 160 mil trabalhadores, e a Aliança de Produtores de Cinema e Televisão (AMPTP), em representação dos principais estúdios de produção, como Disney, Paramount, Warner, Sony, Netflix e Amazon.
O sindicato representa quase todos os atores de televisão e cinema, que votaram a favor da greve, juntando-se assim à paralisação dos argumentistas que já dura há dois meses. Desde 1980 que os atores americanos não faziam greve e desde 1960 que não o faziam ao mesmo tempo dos argumentistas.
Como funciona a paralisação de Hollywood?
A coordenação do sindicato decidiu que os atores não poderão representar nem promover nenhum título, seja um filme ou uma série, não podem participar em conferências de imprensa, antestreias, tapetes vermelhos e divulgações em eventos como a San Diego Comic-Con ou mesmo promover os seus trabalhos nas redes sociais.
Mas os profissionais poderão participar em convenções desde que não integrem painéis que promovam títulos recém lançados ou trabalhos futuros. Isso quer dizer que um ator pode participar num painel sobre um tema geral como diversidade e história, mas não pode subir ao palco para falar de um filme.
Os estúdios de Hollywood já realizaram reuniões sobre vários filmes que serão lançados em julho e agosto, como “Barbie”, da Warner Bro., e “Gran Turismo”, da Sony Pictures, para decidir como poderão tratar estes casos.