Apenas as expetativas deixam Benfica e Sporting mais próximos (até ver)

23 nov 2015, 17:49
Sporting-Benfica (Lusa)

O fim de semana trouxe-nos um super-Barça e um Liverpool cheio de Klopp.

Não quero alongar-me muito sobre o dérbi. Foi mais do mesmo
para o Sporting
e também para o Benfica
, e que acentua o que já tinha escrito há algumas semanas.

O Sporting foi melhor
, venceu bem – apesar de ter sentido mais dificuldades do que nos dois embates anteriores – num jogo intenso e polémico como todos.

Se olharmos para as expetativas deixadas pela Supertaça e pelo jogo da Luz
, os dois grandes de Lisboa voltaram a aproximar-se
. Os leões deixaram que os encarnados se aproximassem.

Mais cansado ou não, mas sobretudo bloqueado pela mudança de estratégia de Rui Vitória – que também poderá ter sido causado ou não pelo estado físico de Jonas – o Sporting deixou que o Benfica controlasse a primeira parte
. Não dominou, controlou, o que é diferente, claro.

Depois do cabeceamento de Slimani ao poste, o Leão sentiu dificuldades para construir
. Não são alheios a isso, obviamente, os posicionamentos de Pizzi, Gonçalo Guedes e Gaitán, e o tempo que durou o discernimento de Talisca
. Ideias confirmadas e sustentadas emocionalmente pelo golo de Mitroglou.

As dificuldades obrigaram que Jesus mexesse logo ao intervalo, com Gelson no lugar de Montero, e João Mário – aquele que não sabe jogar mal – a aparecer pelo meio. Isto apesar de ter chegado ao empate já nos descontos – inconcebível a forma como o Benfica sofre o primeiro golo, na altura em que foi e na sequência de erros de abordagem de (menor) Luisão e (maior) Júlio César
.

Gelson foi lá para dentro chatear
– e apesar de só ter conseguido isso na maior parte do tempo, sendo ainda inconsequente na maior parte das ações, ainda conseguiu humilhar Eliseu –, mas o segredo esteve novamente em João Mário
, na voracidade de Slimani 
e na irreverência de Adrien, com a participação decisiva nos dois golos
.

O Benfica não soube aproveitar três ou quatro momentos, um deles que até se poderia ter revelado decisivo, como aquele arrastar de perna de Gaitán à espera da saída de Rui Patrício, com a baliza escancarada
. Sobretudo, não conseguiu deixar o plano A e esticar-se definitivamente em campo, e discutir a vitória com o jogo empatado. Teve a primeira parte do prolongamento, que terá sido algo consentido para um retemperar de forças leoninas antes do assalto final. Que teve frutos.

Apesar do maior equilíbrio desta vez,  Jesus leva três em três, e tem obviamente muito do mérito
. Ganha pelo Sporting ao Benfica, como ganhava pelo Benfica ao Sporting
.

Uma das ideias que ficam, pelo menos até novo embate, é que Rui Vitória voltou a ficar curto
. Foi inteligente como abordou o jogo, baralhou o adversário – até terá descoberto um modelo novo para aplicar em jogos de grau de dificuldade mais elevado –, mas ainda não chega. 

É preciso também contrariar a ideia de que o Benfica foi melhor do que o rival, ou ainda muito melhor do que já tinha sido esta época perante o mesmo. Na verdade, foi melhor porque as expetativas eram baixas de mais
.

É suficiente?

Nos próximos dias vamos andar a discutir a arbitragem, como sempre se discute depois de cada jogo grande ou sempre que um dos grandes não consegue vencer. Apesar de para mim o penálti mais evidente (sobre Luisão) não ter sido marcado – e admito que outras jogadas tenham sido irregulares –, o Benfica cometeu bem mais erros
(Luisão/Júlio César, Gaitán/Rui Patrício, meio-campo defensivo/Adrien/centrais/Slimani no 2-1) do que quem dirigiu a partida, e a derrota aconteceu por culpa própria. 

Será mais importante para todos, e sobretudo para o clube da Luz, discutir como se sofre três derrotas contra quem esteve tão abaixo nas últimas temporadas. 


Foi, ainda, um fim de semana cheio de grandes emoções. E é pela emoção que começo. O Liverpool ganhou uma nova alma e já é capaz de grandes feitos no ano zero da era-Klopp
. Depois de Stamford Bridge, Manchester. Na terra dos Beatles, agora toca-se heavy metal
. O Liverpool andará certamente intermitente por mais uns tempos, mas são bons os sinais para o que resta da temporada e, sobretudo, para a seguinte. E, com isso, o Leicester do eterno perdedor Claudio Ranieri é líder
. Que grande trabalho do treinador italiano, que parece decidido a acabar de vez com a aura negativa que o acompanha.

Em Espanha,
um super-Barça, de um super-Iniesta, um estratosférico Neymar e um cínico Suárez, esmagou o Real Madrid no Santiago Bernabéu. Um Real oco, vazio, sem alma ou paixão, uma soma de 11 jogadores sem filosofia, uma ideia de jogo, foi destroçado por outra que se soube reinventar quando se adivinhava que o prazo de validade do
tiki-taka estava a queimar. Fê-lo com jogadores de alto quilate (Rakitic, Neymar e Suárez), assente num dos melhores médios defensivos de contexto (Busquets) – dificilmente seria tão bom jogador noutro clube – e num dos maiores médios espanhóis de sempre, um tal de Iniesta.

Humilhante e desnecessária – a não ser para esse mesmo efeito – a entrada de Messi com o resultado em 0-3, como se fosse para sublinhar o massacre: «Esperem, ainda temos mais este!»

O tridente mais mortífero da atualidade, com um meio-campo criativo e emocionalmente equilibrado e uma defesa que nem precisa de ser fantástica darão certamente para ganhar internamente e chegar longe, se não mesmo serem coroados de novo, na Liga dos Campeões.

LUÍS MATEUS é subdiretor do Maisfutebol e pode segui-lo no TWITTER. Além do espaço «Sobe e Desce», é ainda responsável pelas crónicas «Era Capaz de Viver na Bombonera» e «Não crucifiquem mais o Barbosa» e pela rubrica «Anatomia de um Jogo».


 

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