COVID-19 e algumas ideias

11 mar 2020, 09:31
Covid-19 no desporto

«A Técnica da Força»

A Técnica da Força é um espaço de opinião quinzenal de Francisco David Ferreira, jornalista da TVI. Todas as terças-feiras.

Os jogos do campeonato vão ser realizados à porta fechada, o que faz todo o sentido. Mas é possível acrescentar medidas em cima desta para precaver situações complexas.


O anúncio de que as partidas dos campeonatos profissionais se vão realizar sem adeptos nas bancadas por questões de saúde pública é lógica e aplaude-se. É verdade que os números do novo coronavírus em Portugal ainda são residuais (e muito), mas o exemplo italiano deve ser olhado com preocupação. O que se percebe é que a doença está sob controlo quando há condições para isso. Ou seja, quando o número de infectados começa a disparar, os hospitais começam a ter problemas em mantê-la sob controlo devido à falta de meios, e nesse caso a situação passa a ser alarmante.

É por isso perfeitamente natural que se opte por evitar grandes aglomerados de adeptos nos estádios portugueses, e aplaudem-se também as medidas concretas no Campeonato de Portugal (com jogos também à porta fechada). A saúde pública assim o exige, e como se sabe, mais vale prevenir que remediar.

No entanto, parece-me pertinente abordar sucintamente mais duas questões relacionadas com este assunto.

Li nas redes sociais um militante de um partido político (que eu muito respeito e valorizo) fazer uma sugestão que eu subscrevo na íntegra: para «compensar» o facto de os jogos serem à porta fechada e sem adeptos, a SportTV poderia ter a iniciativa de transmitir os mesmos em sinal aberto. E defendo-o por dois motivos: primeiro, porque se pede, e bem, um conjunto de «sacrifícios» aos cidadãos portugueses, apelando à colaboração para evitar um cenário como o de Itália. E, por isso, ficaria bem a um dos principais players do futebol português mostrar que também está do lado dos adeptos nesta fase de alguma indefinição e receio social.

Ao mesmo tempo, é evidente que, ao fechar os jogos ao público, poderá existir uma concentração acima do habitual de adeptos em cafés, bares e restaurantes, numa tentativa de não deixar de ver o jogo da sua equipa. É expectável que nos jogos dos três grandes, de clubes como o Vitória (Guimarães e Setúbal), Boavista, Braga ou Marítimo, nas respectivas cidades exista também uma procura acima do habitual em espaços comuns para assistir aos jogos. E esse é um cenário que deve ser precavido: a colaboração do detentor dos direitos de transmissão seria fundamental e nobre.

Ao mesmo tempo, não me parece descabido optar por adiar os jogos para as próximas semanas. É verdade que os riscos seriam mais baixos, mas uma competição sem adeptos é uma competição entristecida, com pouca chama, e nas imagens daqueles jogos à porta fechada, ficaria evidente uma ferida que resulta de uma preocupação generalizada com a saúde de todos - e também com a memória a apontar para o que se passa em Itália e noutros países. Se for necessário adiar o Euro 2020 para o próximo ano, de forma a permitir paragens nos campeonatos, assim seja. Volto a frisar, o futebol será sempre a coisa mais importante… entre as coisas menos importantes. Sem alarmismos, sem histeria, mas a olhar objectivamente para o que poderá ter corrido mal noutros pontos do globo, e estar um passo à frente. Todos compreendem, seguramente.

PS - partilho aqui um documento muito completo, elaborado por vários especialistas da Organização Mundial de Saúde, que analisaram de forma detalhada e aprofundada os doentes com COVID-19, de forma a fazer um retrato mais preciso desta doença. Aqui fica o link para download e leitura: https://www.who.int/docs/default-source/coronaviruse/who-china-joint-mission-on-covid-19-final-report.pdf 

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