«DRIBLE DA VACA» - Opinião de Bruno Andrade
Geovany Quenda continua eufórico. Está radiante. Não dormiu. Tentou, chegou a fechar os olhos por alguns poucos minutos, mas propositadamente evitou cair no sono profundo.
Preferiu ficar acordado até o sol nascer para garantir que tudo aquilo que havia acontecido na noite anterior era mesmo verdade. Não queria confundir o sonho com a realidade. E vice-versa.
Aos 17 anos e 202 dias, entrou em campo diante da Croácia e superou o recorde do icônico Paulo Futre. Passou a ser o mais jovem de sempre a estrear-se pela seleção principal portuguesa.
No raiar do novo dia, ainda na gélida Split, faz um esforço para recordar os mínimos detalhes do momento histórico. Foi chamado por Roberto Martínez aos 80 minutos. Respirou fundo. Ergueu a cabeça e levantou confiante.
Ouviu do selecionador espanhol que estava ali para desfrutar. Portugal estava garantido na fase final da Liga das Nações. O ambiente era mais do que favorável.
Pensou prontamente na família. Nos amigos. Nos diversos obstáculos superados. Nas alegrias e nas tristezas. Na chegada a Portugal. Nos primeiros passos no Sporting. Na consolidação de leão ao peito.
Fotografou mentalmente o estádio lotado. Cerrou os punhos. Agradeceu. Substituiu Nuno Mendes e, assim que pisou dentro das quatro linhas, lembrou de Cristiano Ronaldo.
«Faça aquilo que está acostumado a fazer. Seja você mesmo. Aproveite cada segundo e boa sorte», escreveu o ídolo, na véspera do jogo, por mensagem.
O duelo acabou empatado: 1-1. Não conseguiu mudar o cenário da partida, mas teve tempo suficiente para interiorizar mais um grande feito de uma surpreendente - e já vitoriosa - trajetória que começou na Guiné em 2007.
Deitado na cama do hotel, abre o telefone. Fica assustado. Perde facilmente a conta do número de mensagens que recebeu. De Ruben Amorim a Frederico Varandas. Foi parabenizado até mesmo por Futre.
Começa a responder uma a uma. Tudo ao pormenor. Quer partilhar a emoção com todos os intervenientes daquela conquista. De repente, surge uma chamada especial, porém nada inesperada.
«Parabéns, meu filho! Você mereceu! Te esperamos em casa para comemorarmos todos juntos. Amamos você!».
*Bruno Andrade escreve a sua opinião em português do Brasil