O discurso de mea culpa de Guterres sobre o Oceano. "A minha geração foi demasiado lenta a reconhecer que as coisas estavam piores"

26 jun 2022, 15:20
Guterres

No encerramento do Fórum da Juventude e Inovação da Conferência dos Oceanos da ONU 2022, Guterres comparou a indústria dos combustíveis fósseis à do tabaco e pediu ajuda aos mais jovens para salvar os oceanos. "Faz-me lembrar a indústria do tabaco, que fez exatamente o mesmo ao dizer que o tabaco não tinha nada a ver com cancro".

António Guterres, ao lado de Marcelo Rebelo de Sousa, apelou às gerações mais jovens que desfaçam o mal provocado por vários anos de decisões políticas e económicas, feitas pelos líderes da sua geração, para salvar a biodiversidade, atenuar os efeitos da poluição e reabilitar os oceanos.

Num discurso de mea culpa, na sessão de encerramento do Fórum da Juventude e Inovação da Conferência dos Oceanos da ONU 2022, o secretário-geral da ONU começou por pedir desculpa "da minha geração para a vossa" pelos impactos que teve no meio ambiente, garantindo que a sua própria pegada ecológica foi durante anos "demasiado grande". "Aqueles que foram politicamente responsáveis por isto, foi o meu caso, foram demasiado lentos e com pouca vontade de reconhecer que as coisas estavam cada vez piores".

Garantindo que ainda "hoje continuamos a andar demasiado devagar para reabilitar o oceano e resgatar biodiversidade", Guterres nomeou as indústrias petrolíferas como responsáveis por colocar "os lucros à frente da sustentabilidade, querendo apenas saber do valor de mercado das suas empresas". Guterres denunciou também que as exploradoras dos combustíveis fósseis, durante décadas, têm gasto "milhões e milhões em ciência falsa e em relações públicas", para tentar dar a impressão de que "não estavam realmente a contaminar o globo".

Depois, o secretário-geral da ONU comparou as suas estratégias às das empresas produtoras de tabaco. "Faz-me lembrar a indústria do tabaco, que fez exatamente o mesmo ao dizer que o tabaco não tinha nada a ver com cancro".

"É tempo de estes comportamentos serem condenados", assinalou, num momento em que foi largamente aplaudido pela audiência que se reuniu na praia de Carcavelos - e onde Marcelo garantiu que ia dar um mergulho.

Também presente nesta sessão de encerramento, a ministra da Energia do Quénia, Monica Juma salientou que, no seu país, que coorganiza Conferência dos Oceanos com Portugal, são sobretudo as novas gerações que lutam pelo desenvolvimento sustentável.

“Através dos vossos olhos, conseguimos olhar para o ambiente de forma diferente, não podemos continuar a viver como se os efeitos sobre o ambiente não existissem”, salientou.

Monica Juma desafiou os participantes neste Fórum a transmitir a “pelo menos cinco pessoas o que aprenderam”, e apelou a que mantenham a persistência, perante “um mundo de negação das alterações climáticas”.

O ministro da Economia e do Mar, António Costa Silva, e o presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras, foram outros dos presentes nesta iniciativa, que acontece na véspera do arranque oficial da Conferência dos Oceanos.

A Conferência dos Oceanos das Nações Unidas (UNOC, sigla em inglês) vai realizar-se este ano em Lisboa (no Altice Arena), copresidida por Portugal e pelo Quénia, entre segunda e sexta-feira, e contará com a presença de chefes de Estado e de governo de todos os continentes.

São esperados mais de 7.000 participantes de mais 140 países, 38 agências especializadas e organizações internacionais, mais de mil organizações não governamentais, 410 empresas e 154 universidades.

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