Iémen: quase 2.000 crianças recrutadas pelos houthi morreram no campo de batalha

Agência Lusa , AM
30 jan 2022, 08:45
Refugiados no Iémen

1.406 crianças recrutadas pelos houthis que morreram no campo de batalha em 2020. Entre janeiro e maio de 2021 morreram 562

A ONU revelou que quase 2.000 crianças recrutadas pelos rebeldes houthi no Iémen morreram no campo de batalha entre janeiro de 2020 e maio de 2021.

No relatório ao Conselho de Segurança da ONU, divulgado no sábado, os peritos disseram ter investigado alguns campos de verão em escolas e uma mesquita onde os houthis divulgaram a sua ideologia e procuraram recrutar crianças que lutam na guerra, que dura há de sete anos, com o Governo internacionalmente reconhecido do Iémen, apoiado por uma coligação liderada pela Arábia Saudita.

"As crianças são instruídas a gritar o slogan houthi 'morte à América, morte a Israel, amaldiçoar os judeus, vitória ao Islão'", pode ler-se no documento. "Num acampamento, crianças com apenas sete anos foram ensinadas a limpar armas", acrescenta-se.

Os peritos disseram ter documentado dez casos em que crianças foram levadas para lutar depois de lhes ter sido dito que seriam inscritas em cursos culturais ou que já estavam a frequentar tais cursos, nove casos em que foi prestada ajuda humanitária ou negada às famílias "unicamente com base no facto de os filhos terem participado em combates ou a professores com base no facto de terem ensinado o currículo houthi", e um caso em que foi cometida violência sexual contra uma criança submetida a formação militar.

O painel de especialistas disse ter recebido uma lista de 1.406 crianças recrutadas pelos houthis que morreram no campo de batalha em 2020 e uma outra de 562 crianças entre janeiro e maio de 2021.

"Tinham entre dez e 17 anos", disseram.

O Iémen é palco de uma guerra civil desde 2014, quando os houthis tomaram Sanaa, a capital, e grande parte do norte do país, forçando o Governo a fugir para o sul e depois para a Arábia Saudita.

Uma coligação liderada pela Arábia Saudita, que incluía os Emirados Árabes Unidos e apoiada na altura pelos Estados Unidos, envolveu-se na guerra meses mais tarde, em 2015, na tentativa de devolver o poder ao Governo.

O conflito tornou-se entretanto numa guerra regional que matou dezenas de milhares de civis e combatentes. A guerra também criou a pior crise humanitária do mundo, com milhões de pessoas vítimas da escassez de alimentos e de cuidados médicos.

No relatório de 303 páginas afirma-se que as violações do direito internacional humanitário e dos direitos humanos são "a norma e não a exceção" no conflito do Iémen, citando detenções e prisões arbitrárias, desaparecimentos forçados, tortura e maus-tratos "cometidos por todas as partes".

Os migrantes continuam a ser particularmente vulneráveis a abusos e violações dos direitos humanos, disseram os peritos. E, nas áreas controladas pelos houthis, as detenções e o sistema judicial são utilizados "para reprimir qualquer oposição ou dissidência, especialmente por jornalistas, mulheres e minorias religiosas".

No relatório anual, a ONU afirmou que os houthis e as forças paramilitares leais aos rebeldes continuam a violar o embargo de armas internacional.

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