Governo antevê crescimento económico abaixo do previsto no programa eleitoral da AD

9 out, 22:00
Ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento  (Lusa/ José Sena Goulão)

Ainda é possível chegar às metas definidas no programa que Luís Montenegro levou às últimas legislativas, mas Portugal fica, agora, dependente do que acontecer lá fora

A economia portuguesa deverá crescer abaixo do esperado pelo Governo, quando comparado com as projeções inicialmente apresentadas nos programas eleitorais da Aliança Democrática (AD) para os anos de 2025 e 2026. Ainda assim, economistas ouvidos pela CNN Portugal acreditam que a economia ainda pode crescer 3,0% em 2028, conforme previsto pela coligação liderada por Luís Montenegro, aquando das legislativas no início deste ano.

Segundo o ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, que apresentou esta quinta-feira o Orçamento do Estado (OE2026) na Assembleia da República, o Executivo estima que a economia portuguesa deverá crescer 2,0% em 2025 e 2,3% em 2026.

Os números ficam aquém das expectativas delineadas no último programa eleitoral da AD para as eleições legislativas de 2025, que previa um crescimento económico de 2,4% para este ano e de 2,6% para 2026. Numa perspetiva mais alargada, a coligação estimava um crescimento económico de 2,9% em 2027; 3,2% em 2028; e 3,2% em 2029.

Números que, tendo em conta a revisão em baixa perspetivada agora pelo Governo, podem ficar comprometidos, dependendo da conjuntura externa.

Economistas ouvidos pela CNN Portugal explicam que, apesar destas metas mais moderadas estabelecidas pelo Governo, a economia ainda pode crescer 2,9% em 2027 e superar os 3%, conforme previsto no programa eleitoral da AD.

“Possível é, agora vai depender muito do andamento da conjuntura externa”, observa o economista Ricardo Ferraz, professor no ISEG e na Lusófona. “Se melhorar é possível. Agora, se os principais motores do euro continuarem a patinar como até aqui, será certamente difícil”, antevê, em alusão, por exemplo, à economia alemã, que deverá crescer 0,2% este ano, segundo previsões do Ministério da Economia alemão, ou o caso de França, onde a crise política pode espoletar uma crise económica e financeira, que teria impactos na Europa.

Também o economista Pedro Braz Teixeira acredita que a economia portuguesa pode vir a crescer até aos 3,0% previstos pela AD para 2028, “dependendo das reformas que sejam feitas” pelo Governo e, também, pela conjuntura externa. “Acho que o Governo pode conseguir ainda fazer reformas, e ter resultados a médio prazo. Neste momento, a conjuntura está pior, mas reformas estruturais são possíveis ainda”, admite o economista à CNN Portugal.

O economista Ricardo Ferraz ressalva, contudo, que os cenários macro que constam nos programas eleitorais dos partidos “não são construídos com o objetivo de antecipar a realidade, mas sim de credibilizar os seus programas eleitorais e de procurar convencer o eleitor do mérito das propostas apresentadas”. Daí que evite “comparar projeções de partidos políticos com a realidade verificada”, sobretudo com projeções para vários anos, “num contexto de elevada incerteza”.

Esta semana, o Banco de Portugal (BdP) reviu em alta o crescimento económico deste ano, mantendo, ainda assim, previsões de crescimento mais moderadas em comparação com as projeções do Governo. Assim, segundo o BdP, a economia deverá crescer este ano 1,9%, acima dos 1,6% previstos pela instituição em junho. Em 2026, o BdP prevê um crescimento económico de 2,2% e 1,7% em 2027.

Esta quinta-feira, o Governo explicou que o desempenho da economia no primeiro semestre deste ano foi sustentado pela “dinâmica do consumo privado, beneficiando do crescimento do rendimento real”, com um aumento de 3,7% em termos homólogos, e pelo investimento, que cresceu 6,7%.

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