Montenegro, Pedro Nuno e Ventura: como o OE2025 está a transformá-los no "bom", no "mau" e no "vilão"

27 set, 21:00
Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro (António Cotrim/Lusa)

Se este arranque das negociações do Orçamento do Estado para 2025 fosse um filme western, parece ser fácil saber, nesta fase, a quem cabe cada papel

Se não acompanhou a tarde, este é o resumo. O primeiro-ministro reuniu-se com o líder do PS e Pedro Nuno Santos exige que Luís Montenegro abdique na totalidade do IRS Jovem e da descida do IRS. Em alternativa, quer o dinheiro investido em mais casas, na subida das pensões e na fixação de médicos no SNS. Na resposta, Montenegro classificou de “radical e inflexível” a vontade socialista, mas ficou a promessa de uma contraproposta na próxima semana. Do Chega, a terceira parte do problema que é a aprovação ou não do Orçamento do Estado para 2025, André Ventura veio dizer que, se correr mal para o lado socialista, tem as portas abertas para falar com o Executivo.

E quem é quem nesta coboiada em que está transformada a negociação das contas de 2025? Os politólogos ouvidos pela CNN Portugal alinham nos papéis: Montenegro é o “bom”, Pedro Nuno o “mau”, e Ventura o “vilão”.

“O tempo vai dizer-nos quem sai melhor e pior na fotografia. Numa negociação há sempre alguém mais beneficiado e alguém mais prejudicado. Cada um [Montenegro e Pedro Nuno] está condenado a ocupar um desses lugares”, descreve João Pacheco.

Montenegro, o "bom"

Montenegro veio responder à proposta socialista com abertura para continuar a dialogar. Ainda assim, com várias garantias e avisos: “todos temos de ceder”, “não abdicamos daquilo que é a nossa política económica”, “há uma contradição quando quem quer governar é a oposição”.

É, para os analistas, uma postura de moderação típica de um estadista que poderá valer pontos ao primeiro-ministro da parte do eleitorado.

Na hora de falar da proposta socialista, Montenegro usou as palavras “radical e inflexível”. Segundo os politólogos, não é uma escolha inocente de palavras. No fundo, dizem, Montenegro está a descrever o adversário, tirando partido de uma fama de instabilidade que persegue Pedro Nuno Santos. “É uma colagem ao passado”, resume João Pacheco.

Para Paula do Espírito Santo, o primeiro-ministro não estaria “preparado para este braço-de-ferro fortíssimo”, com uma proposta socialista que “foi apresentada publicamente com muito detalhe”. Ainda assim, acaba a demonstrar abertura, com a contraproposta a apresentar na próxima semana. “Estamos já a reescrever o Orçamento com base na proposta do PS”, explica.

Aconteça o que acontecer daqui para a frente, os especialistas lamentam que se continue a discutir pouco o conteúdo do OE2025 e mais o “xadrez político”.

(António Cotrim/Lusa)

Pedro Nuno, o "mau"

Poderia dizer-se que Pedro Nuno Santos entrou a pés juntos na negociação. E daí encarnar o “mau” neste filme: quer obrigar o Governo a abdicar das suas bandeiras eleitorais, sem “qualquer modelação”. O dinheiro previsto para o IRS Jovem e para o IRC, por sua vez, seria para aplicar nas propostas socialistas.

Para os politólogos, o secretário-geral do PS definiu o jogo: deixou de dizer só o que não queria e, pela primeira vez, passou a explicar o que quer. Fê-lo com uma “visão completa, com uma base bastante racional, no sentido de custos e benefícios, bem explicada”, considera Paula do Espírito Santo.

Ao tocar nas áreas mais frágeis da governação, Pedro Nuno Santos é “eleitoralista” e anima a base de militantes, dizem os analistas. Mas poderá não retirar frutos dessa abordagem. “Se as pessoas tiverem a sensação de que o Orçamento do Governo poderia melhorar as suas vidas e o PS o bloquear, o PS perde”, analisa João Pacheco.

Paula do Espírito Santo alerta que, com esta postura, o líder do PS pode acabar a “afugentar o eleitorado que defendia um compromisso” nas negociações. Por agora, diz, Pedro Nuno “dá a impressão de que não quer chegar a um entendimento”, estando numa “posição de força quase inexpugnável”.

(António Cotrim/Lusa)

Ventura, o "vilão"

Mal a reunião no Palacete de São Bento acabou, veio logo André Ventura na Assembleia da República considerar que as propostas socialistas são inaceitáveis e reforçar a disponibilidade para, se as coisas correrem mal do outro lado, existirem negociações com o Chega.

E é por este papel, de quem está sempre pronto a aproveitar as fraquezas dos adversários para assumir protagonismo, que os politólogos atribuiriam o papel do “vilão” ao presidente do Chega.

“É o homem que não lidera a oposição, mas que quer comportar-se como tal, aproveitando o vazio. É quase uma espécie de hipocrisia do Chega, é jogo político”, argumenta João Pacheco.

“Ventura pode mudar de posição a cada hora. Adequa-se às circunstâncias, sobretudo perante um clima de crispação e desentendimento”, completa Paula do Espírito Santo.

(António Pedro Santos/Lusa)

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