O jovem inseguro de 25 anos que lidera o grupo dos GNR agressores

17 dez 2021, 07:00

É ele quem dá muitas das ordens e quem lidera as agressões, ofensas e humilhações feitas aos imigrantes. Solteiro, gosta de agradar e é ansioso, mas todos o viam como bom colega e um profissional dedicado e respeitador. Relatório social e avaliação psicológica ajudam a traçar o perfil do militar que filmou as cenas de violência

Inseguro, sociável e ansioso. É assim que é descrito o militar da GNR que participa em todas os episódios de agressão, tortura e humilhação dos imigrantes, comportando-se como líder do grupo dos sete agentes agora arguidos.

A informação consta dos relatórios sociais feitos pelos técnicos sobre a personalidade do agente, no âmbito de um processo anterior onde já tinha sido condenado por agressões e ofensas a imigrantes, na zona de Odemira. “Ansiedade generalizada e humor deprimido, demonstrando a presença de conflitos/sofrimento psíquicos e acentuada insegurança”, lê-se no documento elaborado pelos peritos.

Agora, o militar voltou a repetir as agressões, com outras vítimas. E nas novas imagens e áudios dos vídeos descobertos pela Polícia Judiciária, em que ele filmava e dava gargalhadas enquanto humilhava os imigrantes, é possível perceber que este arguido protagonizou muitas das ofensas e agressões.

Mas ao mesmo tempo que se comportava assim de forma escondida, aos olhos de quem com ele convivia e trabalhava, no posto da GNR de Vila Nova de Milfontes, era um “bom profissional, disciplinado”, refere aquele relatório.

Inseguro mas sociável

O arguido, de apenas 25 anos, sempre sonhou em entrar para a GNR. Por isso, apesar de ter ainda frequentado o 1º ano da licenciatura em Desporto, decidiu abandonar os estudos para se tornar militar na GNR em 2016. Na família havia outro militar e isso teve influência na sua escolha. Tem um bom relacionamento com os pais, que se divorciaram, quando ele tinha 11 anos.  

Desde sempre viveu em Vila Nova de Milfontes, onde nasceu, tendo mantido ao longo dos anos uma boa relação com os vizinhos, de acordo com a análise dos técnicos.

É solteiro e gosta de conviver socialmente com os colegas, com quem mantém um bom relacionamento, segundo os especialistas que elaboraram aquele documento.  

Nos tempos livres pratica desporto, como canoagem, futebol e jogging. Diz que ficou abalado com o primeiro processo-crime onde foi condenado, tendo sido suspenso temporariamente das suas funções, sanção que ainda decorre, e passou a ser seguido por uma psicóloga. No relatório de avaliação psicológica é dado como enérgico e sociável. Mas sublinha-se ainda que “o estilo de relacionamento interpessoal situa-se entre dois eixos: o inseguro (alguma dependência nas relações levando a alguma submissão) e o modesto ingénuo, ligadas a um estilo amável e sociável”.

É também considerado como uma pessoa que procura “socializar-se” e que “apresenta capacidade em investir nas relações interpessoais”, E mais, refere a avaliação: é “realista, lógico e não tende a tomar decisões impulsivas”.

Murros, bofetadas e shotgun

Nos episódios de agressão que filmou, é o que mais fala e dá ordens às vítimas. Ordena-lhes que digam palavrões, que se ajoelhem, goza com elas, dá-lhes murros e bofetadas e vai filmando, e rindo, mostrando a situação de submissão em que se encontravam.

Foi ele quem sentado no banco de trás do carro de patrulha deixou um dos imigrantes em desespero a chorar. Estava algemado, assustado e enquanto repetia “no português, no inglês”, o militar de 25 anos, dava-lhe murros e encostava-lhe uma espingarda tipo shotgun na cara. Foi também ele, o líder, que no pátio do posto da GNR comandou um outro episódio de agressão a vários imigrantes. E também estava presente quando, fingindo uma operação stop, obrigaram uma das vítimas a inalar gás pimenta num aparelho de medição da taxa de alcoolemia. “O gás pimenta ai, ó animal, filho de uma ganda puta”, dizia o agente que agora está acusado de 11 crimes: quatro de abuso de poder, um de ofensa à integridade física qualificada em autoria, cinco ofensa à integridade física qualificada em coautoria e um de sequestro.

Uma acusação que chega ainda não tinha terminado a pena disciplinar que estava a cumprir do processo anterior.  Agora, segundo adiantou à CNN Portugal fonte do Ministério da AdminIstração (MAI), o fim da história pode ser bem mais pesada para este agente da GNR, que pode acabar demitido.

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