PSP, PJ e Serviços de Segurança Interna. Todos os olhos estão postos nas manifestações de hoje

26 out, 08:30
Unidade Especial de Polícia (Lusa/Mário Cruz)

Segurança será reforçada nas ruas de Lisboa. Mais homens fardados e sem serem fardados. Todos esperam "o melhor" para este sábado, mas preparam-se para o pior. E até drones vão seguir o percurso das manifestações do movimento Vida Justa e do Chega. Autoridades querem evitar violência, destruição de bens e confrontos. Algumas ruas de Lisboa vão estar condicionadas

Os últimos dias e noites mostraram uma violência pouco habitual nas ruas de Lisboa. Para este sábado as autoridades temem que mais violência surja, com duas manifestações - com motivos antagónicos – marcadas para a mesma hora. A morte de um homem na Cova da Moura, segunda-feira à noite, atingido por um agente da Polícia de Segurança Pública (PSP), ainda em circunstâncias pouco claras, incendiou ânimos e trouxa às ruas o descontentamento de uns e o aproveitamento de outros. A PSP já fez saber que irá "garantir o exercício do direito de manifestação por parte dos cidadãos que integrarem estas ações em diversos locais desta cidade", sem, no entanto, esquecer o princípio da segurança.

A primeira manifestação anunciada foi organizada pelo movimento Vida Justa, com o lema “Sem Justiça não há paz”. Esta terá início pelas 15:00 no Marquês de Pombal, em Lisboa, e deveria terminar junto à Assembleia da República. Depois foi a vez do partido de extrema-direita, Chega, convocar, para o mesmo dia, uma manifestação “em defesa da polícia”. Está previsto começar pelas 15:00 na Praça do Município, em Lisboa, e rumar também para a Assembleia da República.

Já esta sexta-feira, o movimento Vida Justa fez saber que ia mudar o percurso, lamentando que a polícia tivesse aceitado a manifestação de um partido a acabar na mesma localização que a sua, sem esquecer que o movimento que representam entregou a informação primeiro. Por isso, o início será o mesmo, mas irão descer a Avenida da Liberdade e terminar nos Restauradores.

A CNN Portugal sabe que o número de elementos no terreno é sempre avaliado com a análise de risco envolvido e, neste caso, ele deverá ser elevado. Há vários aspetos tidos em consideração nesta avaliação como, por exemplo, o número de participantes ou o percurso escolhido. 

Na verdade, esta alteração de percurso, levou a PSP a permitir a realização de ambas as manifestações. "Atendendo às características físicas e sociais dos espaços comunicados para as concentrações e respetivos desfiles, a PSP entende que embora exista algum risco para a ordem e segurança públicas relativamente ao horário das iniciativas ser coincidente, estão reunidas as condições de segurança necessárias para a realização dos eventos", conclui aquela força de segurança.

Sem querer avançar um número certo e agentes no terreno, a PSP "ressalva que continua a recolher informação e a acompanhar os desenvolvimentos referentes às iniciativas agendadas para amanhã, nomeadamente através de fontes abertas. Esta monitorização e recolha contínuas de informação permitem avaliar os potenciais riscos associados às iniciativas e planear a operação policial mais adequada e ajustada às necessidades de segurança de todos os intervenientes e de terceiros".

Fica ainda a garantia que "a ação policial será exercida por polícias de diferentes valências do COMETLIS e terá o apoio permanente de meios da Unidade Especial de Polícia da PSP. A Polícia irá promover constante visibilidade e mobilidade dos meios policiais destacados para esta operação de segurança, de forma a prevenir e evitar a existência de situações de alteração da ordem pública". 

Para uma melhor gestão a PSP fez ainda saber que irá condicionar as seguintes zonas da cidade de Lisboa:

a)    Praça do Marquês Pombal

b)    Avenida da Liberdade

c)    Praça dos Restauradores

d)    Avenida Braamcamp

e)    Avenida Alexandre Herculano 

f)     Rua de São Bento

g)    Praça do Município

h)    Rua do Arsenal

i)     Rua do Comércio

j)     Rua Nova do Almada

k)    Rua Garrett

l)     Praça Luís Camões

m)   Calçada do Combro

n)    Rua Dom Carlos I

Ou seja, uma operação desta dimensão irá obrigar à existência de uma força policial visível e em grande número, mas não só. Muitos serão os que estarão a zelar pela segurança, mesmo sem nada que os identifique. No terreno, sabe a CNN Portugal, também estarão elementos da Polícia Judiciária e dos Serviços de Segurança Interna.

Uma das formas de controlar o desenrolar das manifestações será o recurso às novas tecnologias e o uso de drones. As duas manifestações terão elementos policiais no início, durante o percurso e, principalmente, nas áreas em que vão terminar, com destaque para a Assembleia da República. O objetivo é que se evitem confrontos entre os participantes dos eventos. Mas além dos confrontos, pelo caminho será preciso garantir a segurança de bens e pessoas.

O passado recente das manifestações de extrema-direita e extrema-esquerda

Recorde-se o recente encontro de duas manifestações ligadas à extrema-direita e à extrema-esquerda, também em Lisboa, e que levou a PSP a estar em alerta e a ter nas ruas um dispositivo musculado. Nessa situação, nem havia antecedentes violentos diários espalhados pela cidade como agora, que incluem roubo de autocarros, incêndios em bens públicos, destruição de veículos, ataques a edifícios, bens e pessoas.

E estes incidentes persistem. Desta quinta para sexta-feira, por exemplo, a PSP registou 18 ocorrências de incêndio "em mobiliário urbano" na Área Metropolitana de Lisboa, designadamente nos concelhos de Almada, Amadora, Seixal, Setúbal e Sintra, e um ecoponto na cidade de Leiria.

Houve ainda registo duas viaturas policiais apedrejadas, um autocarro apedrejado, dois rebentamentos de petardos, arremesso de um engenho pirotécnico para o interior de uma Esquadra da PSP e outros atos de vandalismo, designadamente graffiti. E esta foi considerada uma madrugada mais calma.

Mais de 30 gangues controlados na região de Lisboa pela PJ

Por detrás de alguns destes atos estarão alguns dos mais de 30 gangues referenciados na cidade de Lisboa pela Polícia Judiciária. Mesmo sendo um fenómeno antigo o seu crescimento em 2022 trouxe o tema para o radar das polícias com prioridade. Nesse ano, o aumento de homicídios entre os mais jovens surpreendeu as autoridades e o Governo. Devido à atuação no terreno e número de mortes, por exemplo, baixou. 

À pouco mais de um ano a CNN Portugal entrevistou João Oliveira, o responsável pela Diretoria de Lisboa e Vale do Tejo (DLVT) da PJ sobre este assunto: o aumento da criminalidade grave entre os mais jovens. Este responsável afirmou não ter muitas dúvidas de que a pandemia teve um papel importante neste 'boom' de casos. Assumindo ainda que na região de Lisboa, a PJ "controla" mais de 30 gangues e mais de 700 jovens. A mesma fonte confessou ainda estar preocupado com o nível de violência e a facilidade com que os jovens usam armas.

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