“Deixará sempre legado. A obra dele sobrevive a ele”. Mundo da música lamenta a morte de Sakamoto

Daniela Costa Teixeira , com Lusa, atualizado às 06:53 de dia 3 de abril
2 abr 2023, 16:37
Ryuichi Sakamoto (AP Photo/Masaaki Nakajima, Japan Pool)

Era um fim esperado, mas que muitos queriam não assistir. Artistas e críticos musicais lamentam a morte do maestro japonês

“Deixará sempre legado, a obra dele sobrevive a ele”. Manuel Moura dos Santos, crítico musical e manager de vários artistas nacionais, é fã assumido de Ryuichi Sakamoto, maestro que faleceu no passado dia 28. “É com muita tristeza” que nos fala do artista que não hesita em classificar como “extraordinário”. 

“Têm desaparecido grandes músicos. Há pouco tempo foi David Crosby”, lamenta. Mas Manuel Moura dos Santos sabe que a obra permanecerá, assim como a de Sakamoto. “Embora as novas gerações sejam menos ligadas a este tipo de música, ele era extraordinário, um pianista maravilhoso”, diz-nos, lembrando quando o viu “no Coliseu em piano a solo”.

Manuel Moura dos Santos diz que o músico japonês se destaca facilmente, sobretudo por ter explorado vários estilos musicais: “música popular, jazz, contemporânea”, enumera alguns. “Navegou em vários mares, era um músico extraordinário”, enaltece, mostrando-se fã. “Acompanhei a carreira dele, tenho muita coisa dele. Era um fã, um ouvinte interessado, sempre gostei muito daquilo que ele fazia”.

Luís Jardim, percussionista, professor e produtor musical, diz que a morte de Ryuichi Sakamoto é uma “perda muito grande para o mundo da música”. Alinhado com Manuel Moura dos Santos, diz que “hoje em dia a juventude procura outro tipo de coisas” a nível musical, mas crê que a marca de Sakamoto estará sempre presente no que se ouve, sobretudo na Sétima Arte, onde se destacou.

“Nunca trabalhei com ele, mas trabalhei com David Bowie e através dele fiquei a saber algumas coisas do homem. É um grande maestro. É um homem que deixou uma marca e nestes anos todos não apareceu mais ninguém com o nível dele, soube combinar a música e trouxe uma coisa nova para este lado do Ocidente”, destaca.

“A morte faz parte da vida, sabia que estava doente, era das coisas que já se esperava, mas esperava-se que fosse o mais tarde possível. A obra está feita e é incontornável”. Martim Sousa Tavares, maestro, olha para Sakamoto como um “artista que cumpriu a sua missão”, uma vez que a a sua obra “torna-se quase do domínio público, que é aquilo que um artista aspira”.

As bandas sonoras, onde se destacou, “são todas muito características”, diz o maestro português. “A música dele é extraordinária, vive muito à base de melodias à moda antiga”, descreve. “Gosto muito da música dele que está no filme ‘Babel’ [‘Bibo No Aosora’] e é incontornável a música ‘Merry Christmas Mr.Lawrence’, que virou um standard”, tendo “viajado” para todo o mundo “com a voz de David Bowie”.

Nas redes sociais começam também a surgir as primeiras reações à morte de Sakamoto. Nuno Gonçalves, pianista na banda The Gift, recorreu ao Facebook para um “último adeus”, partilhando um vídeo de uma das obras de Sakamoto.

Lá fora, Ahmir Khalib Thompson, conhecido profissionalmente como Questlove, agradeceu os “presentes” a influência que o japonês deixa na música. “É triste ver outra força deixar este planeta”, escreveu.

Gilles Peterson, DJ e radialista, lamenta a morte de mais uma “verdadeira lenda”. 

"Mestre, espero que a sua longa viagem seja pacífica", escreveu nas redes sociais Suga, da 'boysband' sul-coreana BTS, horas depois de a agência do compositor, commmons, ter anunciado que Sakamoto morreu a 28 de março.

Outras vozes do mundo da música juntaram-se às mensagens de pesar, como foi o caso de Yojiro Noda, da banda de rock japonesa RADWIMPS. "Tive a oportunidade de o ver duas vezes e ainda me lembro da sua forma amável de falar. Vou continuar a ouvir a sua música", escreveu nas redes sociais.

"Estou em dívida para com Sakamoto de várias formas, tanto profissionalmente como em privado. 'Senhor Iwai, continue a desempenhar um papel ativo', disse-me. Estas palavras calorosas acabaram por ser as últimas que me dirigiu. O seu impacto é imensurável", notou o realizador japonês Shunji Iwai, autor de filmes como "Fireworks" (2017) e "Hana e Alice" (2004).

Já o parceiro de Sakamoto no trio Yellow Magic Orchestra (YMO) Haruomi Hosono também lamentou a morte do pianista ao publicar uma fotografia cinzenta no Instagram. O mesmo gesto de Sakamoto a 11 de janeiro quando o terceiro membro da YMO Yukihiro Takahashi sucumbiu a um cancro.

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