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Presidente da Delegação Regional do Sul da Ordem dos Psicólogos Portugueses

O Psicólogo Responde: a meditação e o mindfulness realmente ajudam a melhorar a saúde mental?

15 jun, 10:00
Meditação

O Psicólogo Responde é uma rubrica sobre saúde mental para ler todas as semanas. Tem comentários ou sugestões? Escreva para opsicologoresponde@cnnportugal.pt

Vivemos momentos de agitação constante, numa sociedade cheia de compromissos e demandas que, muitas vezes, nos impedem de nos percebermos a nós mesmos e a tudo o que está ao nosso redor. Muitas vezes, acionamos o piloto automático e não sabemos como sair dele, atrapalhamo-nos no meio das inúmeras solicitações.

O mindfulness convida a perceber a vida como ela é, sem julgamentos, com aceitação e abertura. A meditação e o mindfulness podem ser grandes aliados na nossa saúde mental.

O que é o mindfulness?

Mindfulness, ou atenção plena, é uma prática que nos permite estar completamente presentes no momento, conscientes de nós mesmos e do que está a acontecer no meio envolvente, sem nos deixarmos levar por pensamentos ou emoções que não estejam relacionadas com o momento (passado ou futuro). É um estado mental de foco intencional e atenção no agora, alcançado através da prática da meditação e de outras técnicas como por exemplo a respiração consciente ou o "scan” corporal e que envolvem a observação dos pensamentos, sentimentos e sensações físicas, sem julgamento, ou seja, com uma atitude de curiosidade e abertura à experiência, aceitando-a tal como ela é no aqui e agora.

De onde surgiu?

O conceito de mindfulness tem suas raízes no oriente mais precisamente no Budismo Zen, onde faz parte central das práticas meditativas que visam alcançar clareza mental e paz interior.

O mindfulness foi adaptado para a psicologia nos anos 70, através do trabalho de Jon Kabat-Zinn, que investigou estas práticas e as adaptou criando o programa de Redução de Stress Baseado em mindfulness (MBSR). Essa abordagem secular transformou o mindfulness numa ferramenta acessível e eficaz para lidar com os desafios da vida contemporânea, como o stress e a ansiedade.

O que necessitamos para praticar?

A prática de mindfulness carece da capacidade de observação para notar as experiências internas e externas, tais como emoções, cognições, sensações, sons, sabores, cheiros, o que vai permitir descrever e nomear as características da experiência interna e agir com consciência. Para a prática devemos permitir-nos estar atentos às atividades do momento, abandonando o piloto automático, adotando uma postura de não julgamento e permitindo aos pensamentos e sentimentos fluírem sem nos deixarmos levar por eles. O mindfulness é uma prática que requer intenção, persistência e regularidade.

É necessário muito tempo para a prática de mindfulness?

Não, o mindfulness é uma prática que requer pouco tempo, mas beneficia de regularidade. Podemos começar por despender de 2 a 5 minutos por dia, de preferência no mesmo horário para melhores resultados na capacidade de foco, melhoria do sono, redução do stress e maior autoconsciência das emoções.

Quais os benefícios associados à prática de mindfulness?

A prática de mindfulness está associada a uma maior capacidade de regulação das emoções, pensamentos e sensações à medida que estas surgem no fluir das nossas vidas. O treino regular potencia a capacidade de modificar as reações automáticas e, por vezes, ineficazes, que temos face às dificuldades do dia- a -dia, permitindo-nos responder aos desafios da vida de forma mais adaptativa e equilibrada. Esta prática permite aumentar a consciência do que está a acontecer nas nossas mentes, no nosso corpo, no mundo e à nossa volta, de forma desapegada e sem julgamento, desacelerando a experiência do tempo e reconectando-nos ao momento presente. A prática de mindfulness contribui para a redução do stress, tornando o pensamento mais positivo, reforçando a atenção, concentração e memória, aumentando a flexibilidade cognitiva, fortalecendo a saúde física e mental, os relacionamentos interpessoais, melhorando o conhecimento de nós mesmos e do que nos rodeia.

Quais são as maiores dificuldades na prática de mindfulness?

A prática de mindfulness apresenta várias dificuldades para principiantes, mas também oferece muitos benefícios, como já foi referido, especialmente para quem persiste e consegue ultrapassar a barreira inicial. Uma das dificuldades é a crença de que para prestar atenção plena e realizar um “scan” interno e externo é necessário parar os pensamentos. Este conceito é incorreto, pois a prática requer aceitar os pensamentos sem julgamentos e sem esperar resultados rápidos. É uma prática que se cultiva gradualmente. Outra dificuldade comum é o autojulgamento excessivo, levando à crença de que não se é capaz de praticar, quando o que se requer é aceitar com compaixão e sem julgamento, ser gentil consigo mesmo. A prática de mindfulness requer aceitar com abertura inclusive a distração e a impaciência.

É uma atividade estática?

Há quem considere que a prática é demasiado parada, sem perceber que podemos praticar mindfulness, por exemplo, durante uma caminhada ou corrida.

A caminhada ou corrida consciente é uma ferramenta poderosa para melhorar a saúde mental e física, e pode ser adaptada para atender às necessidades e objetivos individuais. Ao incorporar a atenção plena na rotina de corrida, permanecendo presente, focado e consciente, podemos melhorar o foco, reduzir o stress e melhorar o bem-estar geral.

Em que áreas pode ser aplicado?

A prática de mindfulness pode ser aplicada em inúmeras áreas como: saúde mental e física, educação, desenvolvimento profissional, desenvolvimento pessoal, gestão de ansiedade e stress, depressão, dor crónica, entre outras.

Existem limitações à prática?

A prática de mindfulness é segura e benéfica para a maioria das pessoas, no entanto existem casos em que o acompanhamento com um profissional de saúde mental é essencial para adaptar a prática às necessidades e limites da pessoa.

Sugestões:

  • Encontre o seu lugar especial, a forma, a hora e o momento para si mesmo para estar consigo atento a tudo o que o envolve sem julgamentos;
     
  • Sente – se, ou fique em pé, sentindo o ar a entrar e a sair das narinas, concentre-se em cada inspiração e expiração, não se prenda a nenhum pensamento deixe passar deixe ir sem julgar;
     
  • Faça um scaneamento” do seu corpo, comece pela cabeça e de forma consciente perceba o que está a sentir sem pressas sem julgamentos;
     
  • Caminhe na natureza e sinta os seus pés a tocar no chão, sinta a envolveria e observe;Corra e foque-se em si e na natureza à sua volta;
     
  • Coma devagar sem pressa focando a atenção nas cores, nos cheiros, nos sabores;
     
  • Crie o seu jornal do dia em que anota sem julgamentos as suas sensações, ajudando no seu autoconhecinento e regulação emocional;
     
  • Sem julgamentos seja verdadeiro consigo mesmo e com as sensações que o rodeiam foque -se em si mesmo foque-se no aqui é agora.

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