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Psicóloga e vice-presidente da direção da Ordem dos Psicólogos Portugueses

O Psicólogo Responde: como diferenciar a ansiedade normal de uma perturbação da ansiedade?

29 jun, 10:00
Ilustração O Psicólogo Responde. Imagem: Adobe Stock

O Psicólogo Responde é uma rubrica sobre saúde mental para ler todas as semanas. Tem comentários ou sugestões? Escreva para opsicologoresponde@cnnportugal.pt

Sentir ansiedade faz parte da experiência humana. É uma resposta natural e saudável a situações desafiantes: uma entrevista de emprego, uma mudança significativa (ex: escola, trabalho, casa, estado civil…) ou momentos de incerteza. O nosso corpo e mente estão preparados para reagir a ameaças com sinais de alerta — um aumento dos batimentos cardíacos, maior foco ou vigilância — que nos ajudam a agir. No entanto, quando esta resposta se torna desproporcional, persistente e interfere com a nossa vida quotidiana, podemos estar perante uma perturbação da ansiedade. A distinção entre uma ansiedade adaptativa e uma perturbação clínica é essencial para promover saúde mental, prevenir o sofrimento prolongado e garantir o acesso atempado a cuidados psicológicos.

Quando é que a ansiedade é normal?

A ansiedade “normal” é uma reação proporcional e temporária a uma situação real de stress. Serve uma função protetora e preparatória, ativando mecanismos fisiológicos e mentais que aumentam a nossa capacidade de resposta. Este tipo de ansiedade está geralmente associado a um evento concreto, diminui com o tempo e não compromete significativamente o bem-estar ou o funcionamento social, familiar e profissional. Esta ansiedade mobiliza-nos e aos nossos recursos internos por forma a darmos resposta e adaptarmo-nos aos desafios e exigências do dia a dia — como acontece, por exemplo, quando sentimos ansiedade antes de uma prova de avaliação ou entrevista de emprego.

Como reconhecer uma perturbação da ansiedade?

Quando a ansiedade é intensa, duradoura (habitualmente durante seis meses ou mais), desproporcional ao contexto e compromete áreas essenciais da vida (sono, alimentação, relações sociais, trabalho ou estudo) pode tratar-se de uma perturbação da ansiedade. Especificamente, isto traduz-se em: preocupações persistentes, excessivas e difíceis de controlar; sintomas físicos como tensão muscular, fadiga, insónia, dores ou náuseas; evitamento de situações que ativam a ansiedade; sensação frequente de inquietação, perigo iminente ou pânico; sofrimento psicológico relevante e impacto no funcionamento global da pessoa.

Há, contudo, fatores de risco e fatores protetores que podem precipitar ou evitar o surgimento de uma perturbação de ansiedade. O desenvolvimento desta perturbação resulta de uma interação entre vulnerabilidades individuais (história de vida, genética, personalidade), fatores contextuais (stress crónico, isolamento social, adversidades económicas) e ausência de estratégias eficazes de regulação emocional. Por outro lado, existem fatores protetores, como: estilos de vida saudáveis (sono, alimentação, exercício); suporte social de qualidade; capacidade de pedir ajuda e de partilhar sentimentos; práticas regulares de autorregulação emocional (ex.: respiração, meditação, escrita expressiva); intervenção psicológica precoce.

Essencial, a ansiedade é tratável

A ansiedade não deve ser desvalorizada nem normalizada quando interfere com a vida e funcionalidade da pessoa. O sofrimento emocional pode ser silencioso, mas profundo e duradouro, mas tem tratamento.

É critério fundamental estar atento aos sinais de alerta que são transmitidos pelo corpo e pela mente e procurar informação validada/científica e recorrer a profissionais de saúde, psicólogos e/ou psiquiatras.

A terapia cognitivo-comportamental, utilizada por muitos psicólogos com formação específica, é aquela que tem demonstrado maior eficácia no tratamento das perturbações da ansiedade.

Sugestões

  • Procure ajuda profissional: A intervenção precoce, com psicólogos especialistas, é fundamental na avaliação e tratamento da ansiedade
     
  • Esteja atento aos sinais: Perceba se a sua ansiedade está a interferir com o sono, a concentração, o humor ou os relacionamentos
     
  • Mantenha rotinas saudáveis: Uma boa higiene do sono, alimentação equilibrada e prática regular de atividade física são essenciais
     
  • Fale sobre o que sente: Partilhar preocupações com amigos, familiares ou grupos de apoio pode aliviar o peso emocional
     
  • Aprenda técnicas de autorregulação emocional: técnicas simples como respiração profunda, mindfulness ou relaxamento muscular progressivo são eficazes e podem ser praticadas diariamente

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