A vacina Nuvaxovid, da norte-americana Novavax, foi esta segunda-feira aprovada pela Agência Europeia do Medicamento, estando prevista a sua entrada no mercado já em março. Afinal, o que tem de diferente das quatro já comercializadas na Europa?
É a quinta vacina anticovid-19 a entrar no mercado europeu e as expectativas são altas: não usa material genético e prevê-se que seja um escudo protetor eficaz contra a disseminação do vírus.
A aprovação por parte da Agência Europeia do Medicamento (EMA) aconteceu na segunda-feira e o professor e investigador Miguel Castanho, do Instituto de Medicina Molecular da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, explica em que consiste a Nuvaxovid, vacina da norte-americana Novavax.
Que técnica usa a vacina da Novavax?
A Nuvaxovid “não usa nenhuma das técnicas das outras quatro vacinas”, começa por explicar o investigador. Ou seja, é diferente da Comirnaty (BioNTech/Pfizer) e da Vaccine Moderna (Moderna), que usam uma tecnologia conhecida como ARN mensageiro, em que através da introdução no organismo de um ácido ribonucleico (mRNA na sigla em inglês), é dada informação genética sobre o Sars-CoV-2. Mas também se diferencia da Vaxzevria (AstraZeneca) e da Vaccine Janssen (Johnson&Johnson) que usam vírus alterados e que não provocam doença. A primeira usa um adenovírus de chimpanzé não replicativo e a segunda recorreu a um adenovírus humano (tipo 26). Já a vacina da Novavax “usa algo que é mais próximo de uma vacina convencional, trata-se de um componente do vírus que é usado em separado”, explica. De uma forma mais simples, diz, “o componente não é exatamente extraído do vírus, é sintetizado artificialmente do vírus, é uma réplica da proteína S [spike]”.
Como é que o sistema imunitário reage a esta nova vacina?
Esse componente do vírus, que é usado em separado, como esclarece Miguel Castanho, é reconhecido pelo sistema imunitário “como um estranho”. Isto leva o organismo da pessoa inoculada a criar “anticorpos contra esse componente estranho” e “vai guardar em memória a necessidade de fazer anticorpos caso esteja de novo em contacto com esse mesmo componente”, ou seja, o vírus.
Na prática, explica Miguel Castanho, o componente presente na Nuvaxovid vai desencadear um “mecanismo imunológico” sempre que a pessoa for infetada pelo vírus, uma vez que o organismo consegue reconhecê-lo e, a partir daí, reagir, criando anticorpos.
A Nuvaxovid consegue impedir a transmissão do vírus?
Esta é a grande expectativa relativamente à vacina aprovada pela EMA na segunda-feira. Miguel Castanho mostra-se otimista, mas com alguma prudência, uma vez que é necessário tempo e mais estudos para perceber o quão eficaz poderá ser na hora de travar a transmissão do vírus.
“Há esperança que seja mais eficaz no bloqueio da transmissão”, considera Miguel Castanho, sublinhando que é preciso ter mais conhecimento para se poder dizer sem margem para erro de que é eficaz contra a contaminação.
De acordo com os dois estudos que estiveram na base da decisão do regulador europeu, a Nuvaxovid mostra uma eficácia de cerca de 90% na redução dos sintomas associados à infeção por Sars-CoV-2, colocando esta vacina lado a lado com as já existentes e que têm como principal função reduzir a probabilidade de doença grave.
“Temos a expectativa de maior eficácia de bloqueio de transmissão, mas não é uma conclusão que esteja diretamente relacionada com o seu modo de ação [da vacina], é uma característica que se acredita que venha a acontecer”, explica Miguel Castanho.
Esta vacina está pronta para fazer frente à Ómicron?
Mais uma vez, estima-se que sim. Com o crescimento acelerado de casos um pouco por toda a Europa, as atenções centram-se agora na nova variante de Sars-CoV-2, que poderá passar a dominante nos próximos dias, e a eventual eficácia desta nova vacina contra a Ómicron é um dos aspetos de destaque da Nuvaxovid.
Além de não usar material genético, esta é “uma vacina adaptável, por ser uma vacina mais recente espera-se que esteja atualizada para as variantes Delta e Ómicron”, refere o especialista, esclarecendo: “Tem um mecanismo de ação novo, diferente e isso é sempre uma mais-valia, porque a vida vai continuar e pode vir a descobrir-se que este tipo de vacina é mais adequado para determinados tipos de pessoas”.
Segundo a EMA, os dois estudos levados a cabo para analisar a eficácia e segurança da vacina da Novavax tiveram as variantes Alfa e Beta como dominantes, porém, atualmente, existem já “dados limitados sobre a eficácia do Nuvaxovid contra outras variantes preocupantes, incluindo o Omicron”.
Poderá ser administrada a menores de 18 anos?
A Agência Europeia do Medicamento aprovou a administração da vacina em pessoas com mais de 18 anos, mas isso não quer dizer que, no futuro, não possa ser administrada em menores de idade, seja na sua formulação completa ou adaptada. “É destinada a pessoas maiores de 18 anos porque foi testada nessa faixa etária, mas nada impede que seja usada em pessoas mais novas, mas tem de ser testada primeiro”, refere o especialista.
Quais os efeitos secundários da Nuvaxovid?
Tal como qualquer outra vacina, a Nuvaxovid não está imune a efeitos adversos, embora isso não queira dizer que sejam graves ou generalizados a todas as pessoas que são inoculadas.
Diz a EMA que os efeitos secundários observados com Nuvaxovid são “geralmente ligeiros ou moderados e desapareceram alguns dias após a vacinação”.
Os efeitos comuns foram “sensibilidade ou dor no local da injeção, cansaço, dores musculares, dor de cabeça, uma sensação geral de indisposição, dores nas articulações e náuseas ou vómitos”, escreve o regulador no seu site.
A vacina da Novavax poderá convencer quem ainda tem dúvidas?
Miguel Castanho acredita que sim. Para o especialista, “há um aspeto que pode ser relativamente importante” na vacina da Novavax, que é o facto de esta vacina não usar material genético. “Há pessoas que têm reservas em relação à vacina de mRNA e às que usam adenovírus e há pessoas que mantêm reservas relativamente à natureza das vacinas por utilização de fragmentos de material genético, mesmo com toda a segurança da vacina em questão”, diz Miguel Castanho. Segundo o cientista, “como esta vacina não tem qualquer componente de material genético, tendo antes uma réplica da proteína do vírus, pode ser uma ajuda para ultrapassar as reservas de algumas pessoas em relação à vacinação”, algo que, acredita, “pode levar à adesão”.