Limite o consumo de café a esta janela horária. Vai reduzir o risco de morte precoce

CNN , Kristen Rogers
2 fev, 17:00
Na hora de saber se tomar café afeta a nossa saúde, fique a saber que o momento em que o consome pode fazer a diferença, sugere um novo estudo (PeopleImages/iStockphoto/Getty Images)

Na hora de saber se tomar café afeta a nossa saúde, fique a saber que o momento em que o consome pode fazer a diferença, sugere um novo estudo

Beber café é algo que tem sido, várias vezes, associado a uma melhor saúde cardíaca e a uma vida mais longa. Contudo, os benefícios do café podem variar consoante o momento em que o bebe, segundo descobriu uma nova investigação.

Limitar o consumo de café ao período da manhã, ao que parece, pode ser o ideal. Isto independentemente da quantidade consumida e de outros fatores que podem influenciar a absorção, de acordo com um estudo publicado no European Heart Journal.

“Este é o primeiro estudo que testa os padrões relativos ao horário de consumo do café e os seus impactos na saúde”, explia Lu Qi, presidente do HCA Regents e professor na Celia Scott Weatherhead School of Public Health and Tropical Medicine [Escola de Saúde Pública e Medicina Tropical] da Tulane University, em Nova Orleães, num comunicado de imprensa.

“Normalmente não aconselhamos sobre os horários nas orientações nutricionais que damos, mas talvez devêssemos começar a pensar nisso no futuro”.

A maioria das investigações anteriores, que analisaram o consumo de café ao longo do tempo, apurou que níveis moderados no consumo de café podem estar associados a um risco menor de diabetes tipo dois, de doenças cardiovasculares e de morte precoce, segundo o estudo.

Contudo, as evidências científicas sobre se fatores como a genética, a quantidade consumida ou os adoçantes adicionados afetam ou não esses benefícios têm sido inconsistentes ou, às vezes, contraditórios, dizem os autores.

Os autores estudaram os dados do National Health and Nutrition Examination Survey relativos à saúde e à dieta de 40.725 adultos com 18 ou mais anos. O estudo relativo à saúde e nutrição foi conduzido entre 1999 e 2018.

Durante dez ciclos ao longo dos anos, esses participantes forneceram dados sobre o que alimentos ingeriram no dia anterior.

Os autores também incluíram um subgrupo de 1.463 adultos, que participaram na versão feminina e masculina do Lifestyle Validation Study [Estudo de Validação do Estilo de Vida], que completaram pelo menos um registo alimentar semanal.

Foram incluídos café [com cafeína] e descafeinado. Por sua vez, foram definidas três categorias no que respeita ao horário de consumo: manhã (das 04:00 às 11:59), tarde (das 12:00 às 16:59) e noite (das 17:00 às 03:59).

Os investigadores identificaram dois padrões de consumo de café no que respeita ao horário: manhã e dia inteiro.

Ao fim de quase 10 anos, o período mediano de acompanhamento, houve 4.295 mortes, pelos mais diversos motivos. Destas, 1.268 motivadas por doenças cardiovasculares e 934 por cancro.

Em comparação com as pessoas que não tomavam café, beber café apenas de manhã foi associado a um risco 16% menor de morte precoce e 31% menor de morte precoce particularmente por doença cardiovascular.

Aqueles que costumavam beber café durante o dia inteiro não tiveram uma redução nesse risco.

Estas conclusões mantiveram-se mesmo depois de os autores terem em consideração fatores que podiam afetar os resultados, como horas de sono, idade, raça, etnia, sexo, rendimento familiar, formação, nível de atividade física, qualidade da dieta e condições de saúde como diabetes, hipertensão e colesterol alto.

Para aqueles que beberam apenas durante a manhã, a quantidade de café ou descafeinado também não foi relevante – ou seja, se bebiam menos de uma chávena ou três chávenas.

Beber café pela manhã continuava a ser melhor do que outros padrões de consumo no que respeita ao risco de mortalidade.

“O estudo teve caráter de observação, o que significa que não foi realizado num ambiente experimental, que é o melhor padrão”, refere Vanessa King, nutricionista e porta-voz da Academy of Nutrition and Dietetics, que não integrou o estudo, por email.

Esta natureza do estudo significa também que ele apenas estabelece uma associação, não uma relação de causalidade entre o consumo de café pela manhã e o risco de morte precoce. Contudo, as conclusões são “revelantes, uma vez que a principal causa de morte nos Estados Unidos são as doenças cardiovasculares”, junta King.

Porque é que a janela temporal pode importar

O médico David Kao, que não esteve envolvido no estudo, considera-o “fascinante” e uma das melhores investigações feita sobre este tema há vários anos.

“Destaca-se o facto de utilizarem método que categoriza os padrões de consumo de café e que faz a validação das suas descobertas em mais de uma fonte de dados externas, o que reduz muito a probabilidade de uma conclusão errada”, diz Kao, professor da cadeira de Saúde Cardíaca Feminina na University of Colorado Anschutz, por email.

Contudo, o estudo tem várias limitações: por exemplo, os registos relativos aos alimentos ingeridos estão sujeitos a imprecisões ou desvios que não consideram hábitos de longo prazo, reconhecem os autores.

Além disso, embora os autores tenham considerado múltiplos fatores que poderiam perturbar as conclusões, é possível que muitos outros não tenham sido descartados, dizem.

A equipa “não conseguiu excluir a possibilidade de que o padrão de consumo de café durante a manhã seja um indicador de um estilo de vida saudável em geral”, segundo o estudo. “Isto é, quem consome café pela manhã pode estar mais disposto a fazer exercício e a consumir alimentos que não sejam processados”.

Além disso, não havia informação a nível genético, impedindo os autores de examinar se existiam possíveis efeitos do metabolismo em relação à própria cafeína.

Uma das explicações possíveis para estas descobertas é a de que “consumir café à tarde ou à noite pode interromper os ritmos circadianos e afetar os níveis de hormonas como a melatonina”, diz Qi.

Baixos níveis de melatonina têm sido associados a valores mais altos de pressão arterial e de stress oxidativo, bem como a um maior risco de doenças cardiovasculares.

O café também contém antioxidantes que reduzem os níveis de inflamação no corpo, neutralizando os radicais livres que podem aumentar o risco de doenças cardiovasculares, diz King.

Os radicais livres, que são moléculas vindas de fontes ambientais como o fumo do cigarro ou dos pesticidas, podem danificar as nossas células.

Alguns marcadores inflamatórios no sangue têm os seus próprios ritmos, dizem os autores. E, geralmente, são mais elevados pela manhã. Por isso, “o efeito anti-inflamatório de um padrão de consumo de café concentrado no período da manhã pode ser mais benéfico do que o efeito de um padrão de consumo espalhado ao longo do dia”.

Isto aplica-se tanto ao consumo de café como de descafeinado.

Ajustar o consumo de café

Se quer começar a limitar o seu consumo de café ao período da manhã, mas está a ter dificuldades nessa tarefa, tenha em consideração se tem, de uma forma consistente, um sono de qualidade, diz King.

Procurar um especialista na área do sono, para descobrir se tem alguma condição, como apneia do sono, que está a perturbar o seu descanso também pode ser algo útil, aponta Kao.

Também pode começar por espalhar as suas porções de café durante o dia, diluindo-as em água, para hidratar-se, aconselha King, uma vez que é algo que pode ajudá-lo a sentir-se mais alerta.

Fazer testes para verificar os níveis da tiroide, de vitamina D e de ferro pode ajudá-lo a perceber se o seu cansaço está relacionado com algo mais preocupante, refere Sue-Ellen Anderson-Haynes, nutricionista e porta-voz da Academy of Nutrition and Dietetics.

Se não bebe café e acha que poderia beneficiar por adicioná-lo à sua rotina, considere primeiro “o panorama geral”, adverte Anderson-Haynes, que não participou no estudo.

“Tem um estilo de vida ativo e uma dieta equilibrada, saudável e sustentável?”.

Para concluir: Até que haja mais evidências sobre qual o melhor horário para beber café, o melhor é seguir as recomendações do seu nutricionista sobre a ingestão de cafeína.

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