As ilhas mediterrânicas de Espanha tornaram-se um símbolo de estilo de vida e lazer.
É provável que já conheça o arquipélago das Baleares. Todos os anos, milhões de pessoas rumam às ilhas de Maiorca, Menorca, Ibiza e Formentera para passear por vilas caiadas de branco, desfrutar de praias imaculadas, abraçar o ambiente descontraído — e, para alguns, aproveitar um pouco da vida noturna.
Um pouco mais a sul, existe outra ilha espanhola que capta grande parte desta magia mediterrânica, mantendo-se, no entanto, quase totalmente desconhecida.
Se olhar para um mapa de Espanha, ampliando o canto sudeste, e se prestar atenção, verá uma pequena mancha alongada de terra ao largo da cidade de Alicante.
A ilha plana e minúscula de Nueva Tabarca estende-se por 1.800 metros — pouco mais de um quilómetro e meio — e tem apenas 400 metros no seu ponto mais largo. Cerca de 50 pessoas vivem na ilha durante todo o ano, tornando-a a menor ilha permanentemente habitada de Espanha.
O que Tabarca não tem em tamanho, compensa em património natural e cultural. O seu isolamento protegeu-a do desenvolvimento descontrolado que marcou grande parte da vizinha Costa Blanca.
Ainda assim, Tabarca está longe de ser remota. Oficialmente parte de Alicante, situa-se a apenas alguns quilómetros da costa. Várias vezes por dia, ferries com fundo de vidro transportam visitantes através do estreito braço de mar que a separa do porto piscatório de Santa Pola.
Mesmo este grau mínimo de separação geográfica conferiu a Tabarca uma personalidade própria.
O seu carácter distinto deve muito a um notável episódio do século XVIII. Os habitantes da ilha traçam as suas origens não às margens próximas, mas a centenas de quilómetros de distância — numa saga histórica que liga Tabarca a Itália e ao Norte de África.
De Tabarca Velha a Nova Tabarca
O “Nueva” no seu nome dá uma pista sobre a história.
Entre 1500 e 1800, o coral vermelho da então ilha de Tabarka, na costa norte da Tunísia, era uma mercadoria preciosa.
No século XVI, a família genovesa Lomellini obteve uma concessão dos governantes locais para explorar o coral na região. Em meados do século XVIII, o povoado contava com cerca de 2.000 habitantes, a maioria de origem genovesa.
Depois, o Bei otomano de Tunes, governante do que é hoje a Tunísia, tinha outros planos.
Em 1741, as suas forças invadiram Tabarka, escravizando muitos dos residentes e lançando ondas de choque por todo o Mediterrâneo ocidental. Os reis de Espanha e da Sardenha ofereceram refúgio aos que escaparam e pagaram resgates para libertar os que permaneciam cativos.
Os que chegaram a Espanha receberam um local para reconstruir as suas vidas — numa pequena ilha árida. Então conhecida como Illa Plana, ou ilha plana, foi rebatizada de Nueva Tabarca em memória da sua antiga casa.
O novo assentamento não foi improvisado. De acordo com as ideias iluministas da época, engenheiros militares foram encarregados de desenhar uma malha urbana precisa que ainda hoje é visível. Ruas largas e retas cruzam-se em ângulo reto, convergindo numa praça central. Um perímetro fortificado protegia a comunidade dos piratas berberes que regularmente atacavam a costa espanhola.
Entretanto, nem todos os tabarquinos chegaram a Espanha. Alguns encontraram refúgio na Sardenha, onde o rei Carlo Emanuele III de Saboia os reassentou nas ilhas de San Pietro e Sant’Antioco, fundando as aldeias de Carloforte e Calasetta. Os seus descendentes ainda falam o dialeto “tabarchino” e mantêm uma cultura distinta.
Nos últimos anos, têm sido feitos esforços para reconectar as três comunidades tabarquinas após anos de separação. Em 2024, cerca de 75 representantes reuniram-se em Pegli, perto de Génova, a terra natal dos seus antepassados. Há até quem fale em propor a saga tabarquina à lista do Património Cultural Imaterial da UNESCO.
Embora esse reconhecimento ainda pareça distante, a Tabarca espanhola desfruta de outras proteções oficiais. Em 1986, tornou-se a primeira reserva marinha de Espanha. Dois terços da ilha permanecem intocados e praticamente selvagens. As suas águas circundantes e os rochedos e ilhotas adjacentes servem de refúgio para a vida marinha.
O terço urbanizado da ilha adaptou-se ao turismo, com muitas casas tradicionais convertidas em alojamentos de curta duração para o crescente número de turistas que fogem do bulício da Costa Blanca.
Ilha de visitantes de um dia
Os encantos de Tabarca não passaram despercebidos, nem mesmo fora das fronteiras de Espanha.
María del Mar Valera, restauradora em Tabarca e presidente da APEHA, uma associação de empresas de hotelaria de Alicante, conta à CNN que os visitantes internacionais representam entre 80 a 90% das chegadas.
A maioria dos turistas são excursionistas de um dia. Cerca de 20 pequenos negócios atendem aproximadamente 200 a 250 pessoas, embora a atividade seja estritamente sazonal, apesar do clima ameno durante todo o ano. “Ninguém vem cá no inverno”, acrescenta.
Numa sexta-feira tranquila, no início do outono, as ruas de Tabarca estavam quase desertas. Gatos, a apanhar sol da tarde, superavam em número os humanos. (Um estudo revelou que, em 2023, havia cerca do dobro de gatos em relação às pessoas na ilha). As ruas largas e bem cuidadas — algo incomum numa localidade mediterrânica — amplificavam a sensação de tranquilidade.
Algumas semanas antes, o cenário seria bem diferente.
“No pico do verão podemos receber seis ou sete mil visitantes, e já chegámos a atingir 10 mil num dia de maior afluência”, afirma Valera.
Alguns habitantes queixam-se de que, quando os turistas partem, a ilha cai no esquecimento — sobretudo no que toca aos serviços públicos.
A falta de opções de transporte entre novembro e março, quando a frequência dos ferries cai drasticamente, é uma das principais queixas, segundo Carmen Martí, presidente da associação de residentes de Tabarca.
“É muito difícil ter uma vida normal quando mal se consegue ir e voltar do continente no mesmo dia”, conta à CNN. Alguns residentes idosos chegaram mesmo a abandonar a ilha devido à dificuldade em aceder a cuidados médicos regulares.
A associação está a lutar para que os habitantes da ilha tenham benefícios semelhantes aos dos residentes de outras ilhas espanholas, como transporte público garantido e viagens com desconto para o continente.
Martí também apoia a introdução de um sistema eletrónico de bilhética para aceder à ilha. Isto, afirma, permitiria às autoridades locais e regionais obter uma ideia precisa do número de visitantes e planear infraestruturas e serviços públicos de forma mais adequada.
Tal como muitos destinos mediterrânicos, Nueva Tabarca tenta encontrar o equilíbrio certo entre preservação e turismo. Em maio de 2025, a cidade de Alicante aprovou nova legislação para proteger ainda mais o património arquitetónico de Tabarca.
“Estamos a trabalhar para preservar vários elementos arquitetónicos de valor que existem na ilha”, afirma José Manuel Pérez, responsável pelo património municipal da cidade de Alicante, em declarações à CNN. “Além do centro histórico, estamos também a avaliar possíveis usos futuros para o forte da ilha”, acrescenta, referindo-se a uma das estruturas singulares da ilha, uma torre fortificada que, até há pouco tempo, abrigava uma pequena guarnição militar.
A torre do forte ergue-se como um sentinela solitário numa extensão de meio quilómetro de mato, numa parte desabitada da ilha, tendo como únicas companhias um farol e um cemitério.
Dali, os arranha-céus de Alicante despontam no horizonte, um lembrete oportuno de que Tabarca oferece algo cada vez mais raro no Mediterrâneo: um lugar construído à escala humana.