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Por um futuro + verde, repensa nuclear

4 set, 20:37

“Ambientalismo sem o apoio da energia nuclear é jardinagem”, disse-me um amigo sábio. Discordo. A jardinagem tem utilidade.

Por causa da guerra, uma parte da Europa voltou a pensar em energia seriamente. O luxo de brincar às transições energéticas já não existe. Em paralelo, a evolução da aceitação pública da energia nuclear nos últimos dois anos é enorme. Era um assunto praticamente tabu em 2022. Em 2024, haverá um evento público em Lisboa de apoio a esta tecnologia de baixíssimo carbono. O caminho percorrido em tão pouco tempo é fascinante!

É já no próximo 14 de Setembro que irá decorrer em Lisboa, no Rossio, a primeira demonstração pública de apoio à energia nuclear (a partir das 15 horas). O evento é organizado pelo Nuclear Vision Portugal, um grupo maioritariamente composto por estudantes universitários.

Esta manifestação aparece enquadrada num ciclo muito interessante de eventos. Na Alemanha, pela primeira vez, um ativista acorrentou-se a uma das torres de arrefecimento de uma central nuclear desativada.

As torres estavam previstas serem demolidas nesse mesmo dia. O protesto contra o encerramento do nuclear alemão recebeu um apoio como nunca visto nas redes sociais e quase 100% positivo. O ativista, Andreas Fichtner, foi detido pela polícia, mas é visto internacionalmente como um verdadeiro herói climático. Andreas virá a Portugal participar no evento supracitado e contar a sua experiência. O evento contará ainda com a presença de Ia Aanstoot, a ativista Sueca que há um ano atrás decidiu ir a tribunal defender a energia nuclear contra a Greenpeace. “O novo movimento climático é pró-nuclear”, diz Ia.

Já no plano industrial Europeu, as coisas estão lentamente a mudar pela positiva. Ursula von der Leyen acaba de nomear Jozef Sikela, ministro Checo da Indústria e Comércio, para comissário da energia da União Europeia. Dias antes, Ursula von der Leyen afirmava que “a Europa necessita de mais nuclear” perante uma audiência Checa. A referência ao nuclear é breve, e von der Leyen afirmava também a necessidade de mais eficiência e mais renováveis, o que é também válido. No entanto, a afirmação acerca da energia nuclear sobressai pois é fora do comum no discurso político corrente. Jozef Sikela é visto como uma boa escolha por muitos. Sikela é agnóstico aos meios tecnológicos a empregar, tendo dito “os nossos objectivos europeus devem basear-se em todas as fontes de baixas emissões disponíveis e, por conseguinte, as condições para o desenvolvimento da energia nuclear devem ser asseguradas ao mesmo nível que outras fontes de baixo carbono”. Por cá, o nome de Paulo Carmona é apontado à liderança da super-agência que irá concentrar tudo o que refere ao tema da energia. Carmona é também visto como uma boa escolha por muitos. Desejo-lhe todo o sucesso nesta tarefa hercúlea.

Noutros assuntos correntes, a frota nuclear francesa reviu a sua produção de eletricidade em alta para 2024, podendo produzir adicionalmente, no máximo, uma quantidade de eletricidade equivalente a 90% do consumo anual elétrico Português. É uma recuperação interessante, já que as exportações de eletricidade nuclear francesa têm ido principalmente na direção da Alemanha. Com o desastre em curso que é a transição energética Alemã, a Energiewende, a melhor maneira da Alemanha reduzir emissões é mesmo importando nuclear francês. Para o atual ministro da economia e vice-chanceler, Robert Habeck, a receita da transição energética alemã é para manter. A aposta é exclusivamente em eletricidade de origem solar e eólica, mas com muitos milhares de milhões investidos em gás para que as luzes não se apaguem. Um estudo recente indica mesmo que uma política nuclear alemã seria muito mais barata do que a Energiewende. Habeck, que vai concorrer contra Scholz nas próximas eleições para chanceler, recomenda mesmo à indústria alemã para produzir apenas quando houver vento e sol. Seria cómico se não fosse trágico. A Volkswagen planeia fechar fábricas e eliminar postos de trabalho europeus. A Thyssenkrupp, o gigante de produção de aço, vê o seu valor ser negativo. O custo da energia para a indústria alemã é apontado como um dos fatores principais que a afeta negativamente. Já a Indiana Tata Steel considera a produção do seu aço com o apoio da via nuclear.

Mas há esperança. Há toda uma nova geração de engenheiros, economistas, artistas, e outros de todos os campos de conhecimento, com os olhos nos verdadeiros objetivos: reduzir emissões, reduzir o impacto humano na natureza, e ter uma indústria sustentável que seja o garante do estado social e de boa qualidade de vida. Este é um movimento positivo e que recebe toda a gente de braços abertos.

Espero ver-vos em breve no Rossio.

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