O medo, a paranoia e as ligações à Rússia. NRA, o lóbi das armas a que ninguém faz frente

25 mai 2022, 16:29
National Rifle Association (GettyImages)

Apesar das polémicas e dos debates, este lóbi vai-se mantendo no tempo e continua a ser apoiado por milhares de norte-americanos, muito à custa de uma cultura do medo

É um dos maiores lóbis dos Estados Unidos e a cada ano fatura mais de 20 milhões de dólares, cerca de 18,6 milhões de euros. A National Rifle Association (Associação Nacional de Armas - NRA na sigla em inglês) é bem conhecida de todos e o seu papel é questionado sempre que acontece um tiroteio. Foi o que aconteceu nas últimas horas, no Texas, com o presidente norte-americano a questionar, em conferência de imprensa, após mais um massacre numa escola, quando é que este lóbi iria acabar.

"Quando é que vamos fazer frente ao lóbi das armas? Estou farto e cansado disto. Temos de agir. Quando, em nome de Deus, vamos fazer aquilo que sentimos que tem de ser feito?". O tema é complexo e é discutido em todas as presidenciais norte-americanas. 

Apesar das polémicas e dos debates, este lóbi vai-se mantendo no tempo e continua a ser apoiado por milhares de norte-americanos. Não se trata apenas de nacionalismo ou de um simples gosto por armas, segundo os analistas. Trata-se, sobretudo, de uma cultura do medo. É nesta realidade que estes apoiantes vivem. Uma realidade na qual o perigo está ao virar da esquina e o horror e a inquietação estão sempre presentes.

Nos encontros anuais da NRA defendem-se coisas como: se for sozinho de férias para um hotel peça sempre um quarto com cama de casal, porque assim os criminosos vão pensar que não está sozinho; puxar a cortina do chuveiro para trás assim que chegar ao quarto para ter a certeza que não há nenhum assassino; proibir a entrada de qualquer funcionário do hotel no quarto, nem para fazer a cama ou mudar as toalhas. 

Há mais armas do que telemóveis nos EUA. Por dia são vendidas 45 mil 

Com milhares de sócios, a NRA tem uma anuidade que varia entre os 25-30 dólares (23-27 euros) e por 1.500 (1.250 euros) qualquer pessoa pode tornar-se membro vitalício, com direito a um blusão de cabedal com o logótipo da associação.

De acordo com o El Mundo, os lucros são de milhões por ano e, para além disso, existem várias empresas do setor que fazem doações generosas. A norte-americana Crimson Trace, por exemplo, entrega à NRA 10% do valor bruto de cada venda. A Taurus, uma empresa com sede em São Paulo, no Brasil, paga a cota anual da NRA a cada pessoa que comprar uma arma. 

O peso do setor é tão grande que, nos Estados Unidos, existem mais armas do que telemóveis. Segundo dados do Morgan Dempsey Capital Management, a que o jornal espanhol teve acesso, existem no total 455 milhões de pistolas, espingardas e metralhadoras no país. Por dia vendem-se cerca de 45 mil armas. 

O envolvimento no caso Russiagate

Em 2018, o financiamento da NRA esteve envolvido no famoso caso Russiagate, que apontava interferências russas nas eleições norte-americanas a favor de Donald Trump. Um dos principais pontos da investigação tinha como objetivo apurar se a NRA tinha servido de fio condutor para o Kremlin financiar e manter contactos ilegais e secretos com a equipa de Trump. 

De acordo com o El Mundo, quem fazia esta ponte era Aleksandr Torshin - um importante aliado de Vladimir Putin, que chegou a ser diretor-adjunto do Banco Central da Rússia e presidente da Câmara Alta do Parlamento russo. Em 2013, ia sendo preso em Maiorca por suspeitas do crime de lavagem de dinheiro, mas alguém o informou que isso iria acontecer e conseguiu fugir do país. 

Torshin é membro vitalício da NRA e pode ter feito doações elevadas para a associação que, por sua vez, podem ter sido gastas na campanha de Donald Trump. A NRA chegou a admitir que recebia doações do estrangeiro e que para se ser sócio não era obrigatório ser-se norte-americano ou sequer viver nos Estados Unidos. 

Para além de tudo isto, Torshin mantinha uma relação próxima com a família de Trump, com quem se encontrou em 2014 e 2015 nas assembleias da NRA.

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