Nobel da Paz para o bielorrusso Ales Bialiatski, uma organização russa e outra ucraniana

CNN Portugal , MJC
7 out 2022, 10:04

O Comité Nobel quis "homenagear três destacados defensores dos direitos humanos, da democracia e da coexistência pacífica nos países vizinhos Bielorrússia, Rússia e Ucrânia"

O Prémio Nobel da Paz foi, esta sexta-feira, atribuído ao bielorrusso Ales Bialiatski, e as organizações de defesa dos direitos humanos Memorial (russa) e Centro para as Liberdades Civis (ucraniana). Com estes laureados, o Comité Nobel da Noruega quis "homenagear três destacados defensores dos direitos humanos, da democracia e da coexistência pacífica nos países vizinhos Bielorrússia, Rússia e Ucrânia".

"Os laureados representam a sociedade civil nos seus países de origem. Durante muitos anos, eles promoveram o direito de criticar o poder e proteger os direitos fundamentais dos cidadãos", disse Berit Reiss-Andersen ao anunciar a distinção pelo Comité Nobel Norueguês, em Oslo. "Eles fizeram um esforço notável para documentar crimes de guerra, abusos dos direitos humanos e abuso de poder. Juntos, demonstram a importância da sociedade civil para a paz e a democracia."

"Com os seus esforços consistentes a favor dos valores humanistas, antimilitarismo e princípios do direito, os laureados do Nobel da Paz deste ano revitalizaram e honraram a visão de paz e fraternidade entre as nações de Alfred Nobel – uma visão mais necessária no mundo de hoje."

Ales Bialiatski foi um dos iniciadores do movimento democrático que surgiu na Bielorrússia em meados da década de 1980 e dedicou a sua vida a promover a democracia e o desenvolvimento pacífico no país. Fundou a organização Viasna (Primavera), em 1996. A Viasna evoluiu para uma ampla organização de direitos humanos que documenta e protesta contra o uso de tortura pelas autoridades em presos políticos. As autoridades governamentais tentaram repetidamente silenciar Ales Bialiatski. Ele está detido, desde 2020, ainda sem julgamento. "Apesar das enormes dificuldades pessoais, Bialiatski não cedeu um centímetro na sua luta pelos direitos humanos e pela democracia na Bielorrússia", sublinha o Comité.

A organização russa de defesa dos direitos humanos foi criada em 1987 por ativistas de direitos humanos na antiga União Soviética que queriam garantir que as vítimas da opressão do regime comunista nunca fossem esquecidas. A ação da Memorial baseia-se na ideia de que enfrentar crimes passados é essencial para prevenir crimes futuros. "A organização também tem estado na vanguarda dos esforços para combater o militarismo e promover os direitos humanos e o governo baseado no estado de direito", sublinha o júri do Nobel. 

Durante as guerras da Chechénia, a Memorial reuniu e verificou informações sobre abusos e crimes de guerra perpetrados contra a população por forças russas e pró-russas. Em 2009, a líder da filial do Memorial na Chechénia, Natalia Estemirova, foi assassinada por causa desse trabalho.

O Centro para as Liberdades Civis foi fundado com o objetivo de promover os direitos humanos e a democracia na Ucrânia. Tomou posição para fortalecer a sociedade civil ucraniana e pressionar as autoridades para tornar a Ucrânia uma democracia de pleno direito. Após a invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022, a organização empenhou-se em identificar e documentar os crimes de guerra russos contra a população ucraniana. Atualmente, o centro luta pela responsabilização dos criminosos de guerra.

No Twitter, o Centro reagiu, manifestando o seu orgulho por receber o prémio que "é um reconhecimento do trabalho de muitos ativistas pelos direitos humanos, na Ucrânia e não só".

Em 2021, o galardão foi atribuído aos jornalistas Maria Ressa, das Filipinas, e Dmitry Muratov, da Rússia, pela defesa da liberdade de imprensa e de expressão. Dmitry Muratov, o diretor do jornal russo Novaya Gazeta, um dos laureados com o Prémio Nobel da Paz em 2021, leiloou a medalha que lhe foi entregue pelo Instituto Nobel, para apoiar a Ucrânia. O leilão decorreu esta noite em Nova Iorque e a medalha foi arrebatada por 103,5 milhões de dólares, o equivalente a 98 milhões de euros.

O anúncio do prémio Nobel da Medicina, atribuído esta segunda-feira ao sueco Svante Pääbo, marcou o arranque da temporada Nobel de 2022, que culmina a 7 de outubro com a atribuição Nobel da Paz, categoria este ano muito aguardada, em tempo de guerra na Europa. 

Pelo meio, foram já atribuídos os galardões de Química (Carolyn R. Bertozzi, Morten Meldal, Barry Sharpless), Física (Alain Aspect, John F. Clauser e Anton Zeilinger) e da Literatura (Annie Ernaux).

A 10 de outubro será ainda conhecido o vencedor do prémio Sveriges Riksbank (o banco central sueco) em Ciências Económicas, em memória de Alfred Nobel, o patrono dos prémios, segundo o respetivo ‘site’ da internet.

 

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