Conselho da Paz norueguês recusa organizar cortejo do Nobel por discordar de prémio para Machado

Agência Lusa , MJC
24 out, 18:42
María Corina Machado (EPA/MIGUEL GUTIERREZ)

“Alguns dos seus métodos não estão em consonância com os nossos princípios e valores e os das nossas organizações membros, como a promoção do diálogo e de métodos não-violentos”, disse o conselho da paz sobre a laureada deste ano, a venezuelana Maria Corína Machado

O Conselho da Paz norueguês anunciou que não organizará o tradicional cortejo com tochas por Oslo no dia da entrega do Prémio Nobel da Paz, por discordar da escolha da venezuelana María Corina Machado.

A entidade, que agrega 17 organizações pacifistas norueguesas e cerca de 15.000 ativistas, declarou ter tomado esta decisão porque os seus membros “não sentem que a laureada deste ano esteja alinhada com os valores fundamentais do Conselho de Paz norueguês e dos seus membros”.

“É uma decisão difícil, mas necessária. Temos um grande respeito pelo Comité Nobel e pelo Prémio da Paz como instituição, mas, como organização, temos de ser fiéis aos nossos princípios e ao amplo movimento pela paz que representamos. Esperamos celebrar novamente o prémio nos próximos anos”, indicou a presidente do Conselho da Paz norueguês, Eline H. Lorentzen, num comunicado.

“Alguns dos seus métodos não estão em consonância com os nossos princípios e valores e os das nossas organizações membros, como a promoção do diálogo e de métodos não-violentos”, disse também Lorentzen ao diário norueguês VG.

A líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, foi distinguida a 10 de outubro deste ano com o prémio Nobel da Paz “pelo seu trabalho incansável na promoção dos direitos democráticos do povo venezuelano e pela sua luta para alcançar uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia” no país latino-americano, segundo a decisão do Comité Nobel norueguês.

O chamado cortejo de tochas pelo centro de Oslo, até ao hotel onde está alojado o vencedor do galardão, é um dos pontos altos do programa de cerimónias do Nobel da Paz, que é entregue a 10 de dezembro, embora não seja organizado pelo Instituto Nobel norueguês.

As suas origens remontam a 1954 e é tradicionalmente organizado pelo Conselho da Paz norueguês, uma das mais importantes entidades para o processo de pacificação neste país nórdico, embora já anteriormente tenha recusado essa responsabilidade, como em 2012, quando a União Europeia foi a vencedora.

A Aliança Norueguesa de Justiça Venezuelana, uma organização não-governamental (ONG) norueguesa que trabalha “pela liberdade, a democracia e os direitos humanos” na Venezuela, anunciou que assumirá a organização do cortejo deste ano.

O vencedor do Prémio Nobel da Paz é escolhido pelo Comité Nobel norueguês, composto por cinco pessoas nomeadas pelo parlamento da Noruega a cada seis anos, de acordo com a correlação de poder naquela câmara.

A escolha de Machado foi apoiada pelos principais partidos políticos noruegueses, embora dois dos aliados externos do Governo trabalhista, o Partido da Esquerda Socialista (o quarto maior) e o Partido Vermelho (o sexto maior), se tenham mostrado críticos.

O Instituto Nobel norueguês ainda não anunciou se María Corina Machado, que vive na clandestinidade na Venezuela, por motivos de segurança, poderá viajar para Oslo para receber o prémio.

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