"Os três R" da revolução e uma nova bandeira, hino e escudo na capital. Maduro anuncia nova fase cívico-militar na Venezuela

Agência Lusa , BCE
14 abr 2022, 07:02
Nicolás Maduro

O chefe de Estado venezuelano frisou que tal fusão vai permitir estar sempre na vanguarda, lutando nas tarefas do presente e do futuro

O presidente da Venezuela anunciou, na quarta-feira, que o país vai iniciar uma nova etapa de fusão entre o povo e as forças armadas do país.

“Vamos passar a uma fase superior de união cívico-militar (…) de fusão entre o povo e as Forças Armadas Nacionais Bolivarianas”, disse Nicolás Maduro.

O chefe de Estado venezuelano falava, em Caracas, para milhares de simpatizantes que marcharam para assinalar o 20.º aniversário dos acontecimentos de abril de 2002, que afastaram temporariamente do poder o então presidente Hugo Chávez (1999-2013).

O governante frisou que tal fusão vai permitir estar sempre na vanguarda, lutando nas tarefas do presente e do futuro.

Maduro disse ainda que "uma verdadeira revolução" tem a capacidade de se mudar e adaptar-se aos tempos, no discurso, na política e na ação.

“É por isso que hoje, 13 de abril, 20 anos depois da ‘Revolução de Abril’ (…)  vamos assumir com força e energia todo o espírito revolucionário, mas a Venezuela precisa de grandes mudanças para continuar no caminho da recuperação e prosperidade”, sublinhou.

"Os três R" que definem o caminho até 2030

Maduro explicou que a revolução bolivariana vai abraçar “três R rumo à meta de 2030”: “o R da resistência permanente, dos estudantes, dos jovens, da classe trabalhadora, das mulheres, das comunas, dos ‘Clap’ [distribuição de alimentos a preços subsidiados], dos intelectuais, da cultura”.

O segundo é “o R de renascimento espiritual, de moralidade, de honestidade, de renascimento, de amor pela Venezuela”, e o terceiro “acima de tudo, o R de revolução”, salientou.

O país “precisa de mudar muita burocracia, muita corrupção, que tem infestado importantes instituições do Estado. Temos de mudar tudo o que precisa de ser mudado”, frisou o político.

“Mas a verdade é que quero ver a cabeça dos burocratas e corruptos. E peço o apoio do povo, no espírito da ‘Revolução de Abril’ para ir atrás dos burocratas, dos corruptos, dos indolentes, onde quer que estejam (...) para abrir o caminho a uma nova era de transição ao socialismo do século XXI, o nosso socialismo”, sublinhou.

Nicolás Maduro disse ainda que a milícia bolivariana é a “expressão da fusão”.

“Temos quatro milhões e meio de homens e mulheres milicianos e temos em permanente exercício, com espingarda na mão, 700.000 homens e mulheres prontos para defender o território, para defender a nossa pátria e a sua integridade.  É uma coisa maravilhosa porque as milícias fazem parte das Forças Armadas e do povo”, disse.

Entre 11 e 13 de abril de 2002 e no espaço de 48 horas, a Venezuela teve três Presidentes: Hugo Chávez, o empresário e economista Pedro Carmona Estanga e o antigo vice-presidente constitucional Diosdado Cabello.

A 11 de abril de 2002, depois de fortes protestos contra um pacote de 49 polémicas leis aprovadas por Hugo Chávez e rejeitadas pelo setor privado, a oposição realizou uma marcha até à sede da estatal Petróleos de Venezuela SA, desviada para o palácio presidencial de Miraflores, onde simpatizantes do chefe de Estado estavam concentrados há três dias.

Franco-atiradores dispararam a partir de edifícios próximos contra apoiantes e opositores de Chávez, provocando duas dezenas de mortos e mais de uma centena de feridos.

Na altura, o alto comando militar anunciou, numa alocução ao país, que tinha solicitado a renúncia ao presidente Hugo Chávez e que esta tinha sido aceite.

No entanto e de acordo com a tese oficial, Hugo Chávez não renunciou e foi detido.

Em 12 de abril, Pedro Carmona Estanga autoproclamou-se presidente, dissolveu alguns poderes, revogou as polémicas leis aprovadas por Hugo Chávez, designou novos ministros e anunciou que haveria uma eleição presidencial.

No entanto, 28 horas depois de ter assumido os destinos da Venezuela, Pedro Carmona acabou por se demitir, não resistindo à contestação que continuou nas ruas, a cargo dos apoiantes de Chávez, a exigir o seu regresso, que aconteceu um dia depois, a 13 de abril de 2002.

Capital muda bandeira, hino e escudo

O Conselho Municipal de Caracas aprovou modificar bandeira, hino e escudo da capital da Venezuela para deixar estar representada por um leão a segurar uma cruz de ouro com a Cruz de Santiago.

A aprovação teve lugar na quarta-feira e a nova bandeira, da autoria dos artistas Víctor Hernández e Carolina Jiménez, tem um fundo vermelho sob o qual se aprecia o céu de Caracas e a montanha Waraira Repano, mais conhecida como El Ávila, que divide a norte, a capital do Oceano Atlântico.

Um triângulo, uma estrela branca de cinco pontas sobre fundo azul e vermelho, também presentes na bandeira, simbolizam, segundo as autoridades locais, a paixão e sangue dos compatriotas.

O novo hino “Caracas vencerá”, da autoria de Noel Márquez e Manuel Barrios, destaca a luta de personagens indígenas Apacuana, Tiúna e Carapaica.

O escudo contém as imagens do Cacique Guaicaipuro, de uma mulher afro-descendente e do "pai da pátria", o Libertador Simón Bolívar.

Na parte superior, a mensagem “segui o exemplo que Caracas deu” e vários elementos naturais que caracterizam a cidade, incluindo folhas da “pira”, um turpial, a ave do país, e uma arara, tal como a espada de Bolívar, uma lança e a estrela vermelha de cinco pontas, para simbolizar a revolução bolivariana.

No extremo inferior, do lado esquerdo, podem ver-se as datas 1810 e 1811, o início da luta pela independência do país e a assinatura da ata da independência, respetivamente.

Do lado direito, aparece o ano de 1989, uma referência a “El Caracazo”, os violentos protestos de 1989 contra as medidas económicas aplicadas pelo falecido presidente Carlos Andrés Pérez (1974-1979 e 1989-1993).

E também o ano de 2002, em memória dos violentos acontecimentos que, em abril desse ano, afastaram temporariamente o então presidente Hugo Chávez (1999-2013) do poder.

Os novos símbolos omitem a data da fundação da cidade de Santiago de León Caracas, em 1567, pelo espanhol Diego de Losada.

Historiadores, cronistas e políticos consideraram que estas alterações estão "a apagar a tradição histórica da capital", bem como a "atacar a identidade dos caraquenhos", numa violação da legislação local e da Constituição.

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