A Netflix anunciou finalmente aos investidores aquilo que eles queriam ouvir. Agora vem a fase mais complicada

CNN , Julia Horowitz
22 jul 2022, 16:00
Netflix (Phil Barker/Future Publishing via Getty Images)

Não foi há muito tempo que a bolsa de Wall Street se espantou com tão sombrias notícias provenientes da Netflix: Entre abril e junho, a empresa perdeu 970.000 assinantes.

Mas os investidores não estão incomodados com o número de clientes que desistiram do serviço. Na verdade, estão até satisfeitos.

O que está a acontecer: as ações da Netflix (NFLX) subiram mais de 6% em antecipação ao mercado de valores, na quarta-feira, depois de a empresa ter comunicado os seus últimos resultados. A fundamentação será linear? Podia ter sido muito pior.

“Foi um trimestre em que ‘notícias menos más são boas notícias'", afirmaram os analistas do Bespoke Investment Group numa nota aos clientes.

A Netflix luta para delinear a sua curva no mercado - As ações da empresa caíram 62% nos últimos 12 meses

O que está a acontecer: a Netflix já tinha reduzido as expetativas ao máximo, projetando que perderia 2 milhões de assinantes no último trimestre após ter perdido 200.000 nos primeiros três meses do ano. Isso abriu espaço para surpreender, inesperadamente, pela positiva.

“Estamos a falar de perder 1 milhão em vez de perder 2 milhões”, afirmou o presidente Reed Hastings numa comunicação aos analistas. “Portanto, o nosso entusiasmo fica atenuado pelos resultados menos maus.”

A perda de assinantes mais substancial da Netflix ocorreu no seu maior mercado, os Estados Unidos e o Canadá, onde o serviço de streaming confirmou ter perdido 1,3 milhões de utilizadores no segundo trimestre.

Isto foi compensado pelo aumento de subscrições noutros locais, um sinal de que o investimento da empresa na programação em língua estrangeira está a dar os seus frutos. O lançamento da quarta temporada da série muito popular “Stranger Things” também proporcionou um impulso.

Perspetivas futuras: a Netflix ainda tem de desenvolver muito trabalho para convencer os investidores de que está no caminho certo. O seu stock desceu quase 67% até à data. Outras empresas de tecnologia, como a Alphabet, que controla a Google, e a Meta do Facebook estão em baixa 21% e 48%, respetivamente. O S&P 500 está 17% mais baixo.

Isto implicará proceder a grandes mudanças no negócio. A Netflix, em parceria com a Microsoft, está a trabalhar no sentido de desenvolver uma nova opção de preços mais baixos que será suportada por anúncios, uma tentativa de conquistar clientes que ficam mais preocupados com as suas despesas quando a inflação aperta. Espera-se o seu lançamento no início do próximo ano.

Para além disso, está também a tentar acabar com a partilha de senhas. A empresa estimou que 100 milhões de lares utilizam a Netflix, mas não estão a pagar diretamente pelo serviço.

“Sabemos que isto implicará uma mudança para os nossos membros associados”, disse aos acionistas. “O nosso objetivo é encontrar uma oferta de partilha paga que seja fácil de usar e que acreditamos poder funcionar bem para os nossos membros e para as ofertas que possamos vir a lançar em 2023.”

Rich Greenfield, um analista da LightShed Partners, acredita que há um espaço significativo para que a viragem da Netflix para a publicidade seja um sucesso.

“A oportunidade publicitária da Netflix é real e está diretamente ligada à quantidade de tempo usado neste serviço de streaming em comparação com todos os outros serviços”, acrescentou numa publicação do Twitter.

Mas a projeção desta grande mudança não vai ser fácil. A entrada da Netflix no espaço publicitário será complicada. A competição por espetadores entre os serviços de streaming é complexa. E se um grande lote de assinantes optasse pela versão de menor custo para poupar dinheiro, isso prejudicaria as receitas, mesmo quando novos utilizadores se inscrevem.

“Pedimos cautela na crença de que a Netflix poderá usar a publicidade para aumentar a receita a partir do nada”, afirmaram analistas do Bank of America num relatório publicado no final do mês passado. “O ecossistema publicitário é grande, complexo, dispendioso, e os seus concorrentes que utilizam anúncios têm uma vantagem de vários anos sobre eles.”

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