A TVI, do mesmo grupo da CNN Portugal, entrevistou o jovem identificado como o agressor do ator Adérito Lopes, que nega ter qualquer ligações a grupos de extrema-direita. Garante que foi convidado por um amigo para ir a um almoço e só foi por causa dos "copos grátis"
O ator Adérito Lopes, foi agredido na última terça-feira à noite, por um grupo de indivíduos, com alegadas motivações neonazis. Um jovem acabou identificado como sendo o autor da agressão que culminou com a ida do ator para o hospital. A TVI, dos mesmo grupo da CNN Portugal, conseguiu uma entrevista com o jovem em causa. Este garante que não faz parte "de nada de extrema-direita" e só foi ao almoço que organizado pelo movimento Blood and Honour, a convite de um amigo e porque havia "copos grátis".
Deixamos-lhe aqui a entrevista, com todas as perguntas feitas e as respostas dadas pelo jovem.
Vamos então começar pelos factos. Gostava de lhe perguntar, recuando umas horas no tempo, em relação aos factos em concreto que aqui nos trazem, o que é que decidiu fazer no feriado de dez de junho, porquê e com quem?
Certo. Eu na noite anterior tinha passado com uns amigos, nos Santos Populares, uma noite de copos, que se estendeu até de madrugada, e depois numa ideia de continuação de copos, houve a ideia de ir beber para o Museu dos Combatentes, ali para o café.
E fui lá acompanhado com um amigo. Fomos para lá, continuámos a beber e depois houve a ideia de ir a um almoço com bar aberto e que estava a ser pago.
Mas quando me diz um amigo, que amigo é? É um grupo de amigos, é um amigo só?
Não, é um amigo só.
Apenas um amigo... mas depois encontraram-se com mais gente.
Inicialmente não e depois só apenas no restaurante em questão. No dito almoço, no Tunel de Santos.
E aquilo que eu lhe pergunto é, este amigo e ali só tinha um... mas foram ter com mais pessoas que estão conotadas com movimentos de extrema-direita, nomeadamente o movimento Blood and Honour, certo?
Certo, mas essas pessoas eu não conhecia e a única ideia que eu tive era de continuar a estupidez.
Mas recusa da sua parte qualquer ligação a este tipo de grupo?
Recuso, nego, não faço parte de nada de extrema-direita.
Não tem qualquer ligação a estes movimentos de extrema-direita?
Não, eu fui imigrante em África, vivi em Moçambique durante um ano. Tenho família e tudo o que tem que ser. Não me identifico com essa ideologia e fui no intuito de beber.
E esse seu amigo, aquele que o acompanhava, tem ligações a estes movimentos?
Não, acho que a ideia era exatamente igual, que era beber.
Mas se não tem qualquer ligação a estas pessoas e o seu amigo também não tem, como é que vocês acabam a almoçar com estas pessoas e a passar o dia, enfim, com elas?
Pois é, é uma boa questão, eu não sei, eu só fui convidado por ele. E fui.
Pelo menos o seu amigo seguramente terá ligações a estas pessoas, não é?
Não sei.
Mas ele está conotado com a extrema-direita e com este movimento Blood and Honour?
Não, não, não.
E como é que acabou? E como é que foi parar? E porquê? Ao teatro A barraca?
Depois do almoço estendido, de comida e bebida à descrição, os grupos foram-se afastando, foi tudo andando para a sua vida.
Mas quantas pessoas estavam no vosso grupo?
Cerca de 70 pessoas. Nesse almoço não conhecia ninguém, só o meu amigo.
Mas apercebeu-se de que eram pessoas que estavam ali com um determinado propósito associado ao 10 de junho, e que estariam ligadas a estes movimentos…
Poderiam estar, mas eu como também não estava dentro de mim, eu estava num estado completamente lastimável
Alcoolizado?
Exatamente.
Não se apercebeu de que havia ali um movimento de extrema-direita?
Não me apercebi de onde estava, estava simplesmente alcoolizado, sem noção das coisas. Pronto, depois, acho que foi cerca das oito da noite saímos. Pelo menos foi o que eu vi nas notícias. Saímos lá e estou a passar pelo teatro. E o que eu ouvi, e na altura assumi que tinha sido para mim, tinha sido 'filhos da p***, ou filho da p***.
E, num acto de impulso, estupidez e álcool, agredi. Pronto, depois descobri que era o actor, com um soco na cara. E foi uma estupidez.
E isso é algo de que se arrepende?
Imenso. Não só das repercussões, mas da pessoa... Eu não sou essa pessoa. Não sou uma pessoa de agressões, não sou uma pessoa desse tipo de atitudes.
Mas porquê que este grupo que integrava procurou o teatro A Barraca? Ou foi uma coincidência?
Foi uma coincidência. Estávamos a ir para outro restaurante.
Mas por algum motivo houve essa troca de insultos, nomeadamente...
Não sei. O que eu ouvi foi um insulto dirigido à minha pessoa, pelo que eu percebi.
Mas não houve provocações da vossa parte, anteriores?
Não, da minha parte não houve nada.
Da sua ou do grupo?
Não, que eu saiba do meu grupo, no estado onde estava, também não me recordo de tudo. Mas da minha parte não houve insulto nenhum dirigido para a pessoa e fui insultado. Eu percebi que tinha sido para mim, na altura, e agi de forma impulsiva e ridícula.
E automaticamente agrediu o ator?
Sim.
Como é que o agrediu?
Dei-lhe um soco na cara.
Apenas? Embora seja uma situação grave. Mas sem recurso a quaisquer armas?
Não, nunca usei nenhum tipo de armas brancas, nem uso anéis, não uso nada disso. E foi apenas um soco na cara.
Como é que se justificam os ferimentos que o ator sofreu?
Não sei. Eu sei é que por mais perdido que esteja... Esta parte eu sei e eu garanto porque nem no pior estado possível eu alguma vez usaria algum tipo de armas brancas.
E a seguir, o que é que se passou? Depois dessa agressão, o que é que se passou?
Depois desta agressão, isto foi uma situação de segundos e eu afastei-me da situação. Havia lá outra pessoa que também queria ir embora e fomos em direção à estação do Cais do Sodré. E depois eu fui interceptado pela polícia, fui identificado e revistado.
Por agentes da PSP?
Por agentes da PSP.
E depois disto, seguiu?
Depois disto, segui.
Há uma questão com a qual as pessoas se vão confrontar, que é tentar perceber se esse seu arrependimento foi espontâneo ou se se deveu ao facto de se ter apercebido das consequências?
Não, eu quando estou a falar com a PSP, logo no momento, admiti o que tinha feito e disse logo que tinha sido uma estupidez que não corresponde com a minha pessoa e que estava arrependido.
E só depois, no dia a seguir, é que percebi da maneira como isto tinha escalado e que, de facto, tinha sido um ator e que me estavam a conotar como neonazi, que isto tinha sido um ataque de neonazis. Quando foi apenas, a meu ver, uma altercação devido a uma coisa que me disseram.
Pode garantir que, em qualquer investigação que agora surja, a Justiça não vai encontrar quaisquer antecedentes seus, nem qualquer conotação sua com estes movimentos que professam, nomeadamente, e que incentivam ao ódio?
Eu, quando fiz 18 anos, estive num almoço destes e rapidamente percebi que não me enquadrava na situação e nunca mais fui. E desta vez fui pela cena dos copos. E, da última vez, pela cena dos copos.
Portanto, a sua única ligação a estes movimentos foi um almoço quando fez 18 anos e agora este almoço no 10 de junho. Nada mais lhe poderá ser imputado, nem será encontrado na sua vida, no seu historial, de ligações a estes movimentos?
Não.
Diga-me uma coisa, já fez referência também à homenagem às vítimas da guerra colonial e aos ex-combatentes. Estiveram presentes também nessa cerimónia?
Estive presente no café. Apenas no café. No café que tem ali no Museu dos Combatentes.
Mas o grupo em que estava inserido fez parte dos insultos que também foram feitos na cerimónia...
Não sei, não sei. Não estava lá.
Nomeadamente ao Almirante Gouveia e Melo, ao o sheik David Munir...
Isso não sei, porque eu como não estava lá... eu estava em outra zona.
Não tem conhecimento disso?
Não tenho conhecimento.
Portanto, será uma coincidência o facto de vocês também terem estado ali nas imediações...
Provavelmente, eu não sei. Eu não estava lá.
Já fez referência à sua situação de imigrante? Pertence a uma família de imigrantes? Portanto seria, efetivamente, um contrassenso?
Somos portugueses, mas que vivemos um ano em Moçambique.
E, portanto, nada o move contra as comunidades imigrantes?
Não.
E quaisquer ideologias, nomeadamente de esquerda?
Não.
Portanto, eu pergunto-lhe o que é que representa para si este grupo Blood and Honour, que conhecimento tem desta causa?
Não conheço, apenas sei que são neonazis, é só isso. Eu, de resto, não sei nada.
Tem noção das consequências e do alarme social que provocaram estes atos?
Tenho noção. E por isso é que quis vir aqui, para esclarecer também os meus factos, porque todas as histórias têm duas versões. E até agora só tínhamos ouvido uma versão. E eu também, que estou a ser acusado, também mereço ser ouvido. E de explicar que isto não teve nenhuma motivação ideológica. Foi uma estupidez do álcool que nunca deve ser repetida, como é obvio.
Teme uma ação da justiça daqui para a frente, tendo em conta um inquérito que inevitavelmente nasceu destes atos?
Não temo uma ação. Eu admito os meus atos e queria reforçar essa questão de que não faço parte de grupo nenhum neonazi e que a minha motivação não foi ideológica. Foi uma motivação de momento, de estupidez por uma frase que eu percebi que tinha sido dirigida para mim.
E que consequências é que espera deste seu ato?
Não sei. Não consigo dizer agora.
Mas está preparado para enfrentar eventuais consequências penais?
Claro. Por isso é que admito o que fiz.
Está socialmente inserido? O que é que faz?
Eu, neste momento, sou estudante.
O que é que estuda?
Multimédia.
E tem 20 anos. Não tem quaisquer antecedentes criminais?
Não.
Há mais alguma coisa que queira acrescentar?
Não, queria só fazer um pedido de desculpas ao ator e ao teatro e que estou arrependido. E que percebam que não houve qualquer motivação ideológica e que o que eu ouvi e achei que tinha sido dirigido para mim foi a motivação dos meus atos estúpidos e que estava fora de mim.