Escritora Nélida Piñon deixa quatro apartamentos de luxo de herança às cadelas

Cláudia Évora , com Lusa
23 dez 2022, 09:21
Nélida Piñon

Filha única, sem filhos e sem familiares próximos, Nélida Piñon preocupou-se em garantir que o estilo de vida e bem-estar das suas cadelas se mantinha mesmo depois de morrer

A escritora brasileira Nélida Piñon - que morreu no passado dia 17 - deixou quatro apartamentos de luxo como herança para as cadelas, Suzy Piñon e Pilara Piñon. Segundo o Folha de S. Paulo, Nélida deixou essa vontade expressa num testamento, no qual explicou que o objetivo era permitir que os animais continuassem a viver na própria casa. 

Os quatro apartamentos pertencem todos aos mesmo prédio, um edifício de luxo em frente à Lagoa Rodrigo de Freitas, na zona sul do Rio de Janeiro, no Brasil. 

"Elas são as verdadeiras herdeiras. O que está lá escrito é que os apartamentos não podem ser vendidos enquanto as cadelas estiverem vivas. É a casa delas, propriedade delas", explicou amiga e assistente Karla Vasconcelos ao Folha de S. Paulo.

Lagoa Rodrigo de Freitas (AP)

Nélida, filha única, sem filhos e sem familiares próximos, preocupou-se em garantir que o estilo de vida e bem-estar das suas cadelas se mantinha mesmo depois de morrer. Nomeadamente, que estas pudessem continuar a viver na suas casas. As duas cadelas - Suzy, uma pinscher de 13 anos, e Pilara, uma chihuahua de apenas três - têm ainda passaporte europeu. 

A escritora, de 85 anos, chegou a pedir, através da assistente, ao Hospital CUF Descobertas, em Lisboa, onde esteve internada desde o dia 1 de dezembro, que as suas cadelas pudessem ir visitá-la ao quarto. Esse encontro aconteceu precisamente no dia 17 de dezembro. Poucas horas depois, acabou por morrer. 

Autora de mais de 20 livros, entre novelas, contos, literatura infanto-juvenil, ensaios e memórias, em 1996/97 Nélida Piñon tornou-se a primeira mulher, em 100 anos, a presidir à Academia Brasileira de Letras, para a qual foi eleita em 1989 na sucessão de Aurélio Buarque de Holanda.

Estreou-se com o romance "Guia-mapa Gabriel Arcanjo" publicado em 1961, recebeu o Prémio Internacional Juan Rulfo de Literatura Latino-Americana e do Caribe, em 1995, o que aconteceu pela primeira vez para uma mulher e para um autor de língua portuguesa, assim como o prémio Bienal Nestlé, na categoria romance, pelo conjunto da obra, em 1991, e o da APCA e o Prémio Ficção Pen Clube, ambos em 1985, pelo romance "A república dos sonhos".

A Academia Brasileira de Letras destaca precisamente este romance no percurso da escritora, uma obra sobre uma família de imigrantes galegos no Brasil, em que "faz reflexões sobre a Galiza, a Espanha e o Brasil".

Igualmente assinalada pela Academia Brasileira de Letras é a sua obra de 1972 “A casa da paixão”, que recebeu o Prémio Mário de Andrade, “um de seus melhores e mais conhecidos romances”.

A sua mais recente obra, “Um Dia Chegarei a Sagres”, lançada em 2020, ganhou o Pen Clube de Literatura.

Nélida Piñon licenciou-se em jornalismo em 1956 pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, tendo colaborado em jornais e revistas literários e sido correspondente no Brasil da revista Mundo Nuevo, de Paris, e editora assistente de Cadernos Brasileiros.

A escritora tinha um vínculo estreito com Espanha, já que os pais e avós foram emigrantes galegos no Brasil, e foi-lhe concedida no início deste ano a nacionalidade espanhola.

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