Mapas, cores e "verão normal". Negacionistas espalham informação falsa sobre ondas de calor

20 jul 2022, 11:27
Calor no Reino Unido (Neil Hall, EPA)

Mapas falsos e difundidos nas redes sociais tentam mostrar que os cientistas estão a exagerar. A agência noticiosa AFP, que usou uma ferramenta de verificação de factos, aponta várias publicações em inglês, alemão, espanhol, francês, húngaro e polaco

O mundo está a braços com uma crise climática, mas há quem tente negar que as ondas de calor que assolam, neste momento, a Europa sejam reais. De acordo com a AFP, nas últimas semanas, os negocionistas do clima têm espalhado nas redes sociais vários mapas fora do contexto tentando fazer acreditar que os cientistas estão a exagerar quando falam em aquecimento global.

Utilizado mapas de vários países e em vários idiomas, que são sobrepostos e muitas vezes de organizações e datas diferentes, as publicações seguem a mesma linha e incluem mensagens que sugerem que a cor dos mapas foi alterada para vermelho pela imprensa ou pelas autoridades para gerar pânico. 

Segundo a AFP, que usou uma ferramenta de verificação de factos, várias publicações foram apresentadas em inglês, alemão, espanhol, francês, húngaro e polaco. 

“Quando não havia necessidade de deixar as pessoas com medo do aquecimento global, colocavam sóis. Agora têm de colorir o mapa como se estivéssemos no próprio inferno”, pode ler-se numa publicação partilhada em castelhano e catalão, durante a onda de calor da primeira semana de julho, e em que dois mapas - um branco, com símbolos do sol; o outro vermelho escuro - mostravam o clima quente em Espanha.

A investigação digital da AFP revelou que se tratava de dois mapas de fontes diferentes e não, como o post alegava, de um único meteorologista que teria manipulado o esquema de cores.

Também em inglês e alemão várias reivindicações semelhantes circularam durante a onda de calor de junho.

“Em 1986 era chamado de verão normal. Agora, pintam o mapa de vermelho e chamam de calor extremo”, pode ler-se num post no Facebook e no Twitter.

Apresentados lado a lado, os dois mapas mostravam temperaturas semelhantes na Suécia com as datas de 1986 (num mapa verde) e em 2022 (num mapa laranja). A investigação digital revelou que as datas nos mapas estavam incorretas, para além de que os mapas eram de diferentes meios de notícias que usam códigos de cores diferentes.

As imagens acabariam por ser amplamente partilhadas, tendo mesmo sido traduzidas para francês para ampliar as provas de "golpe de aquecimento global". 

A Suécia, França e Inglaterra, seguiram-se publicações na Alemanha, que comparavam mapas verdes de 2009 a mapas vermelhos de 2019, mais uma vez falsos, e depois Espanha, com a partilha de uma fotografia de um jornal de 1957 que dava conta do recorde de temperatura de 50 graus Celsius.

Apesar de o artigo ser verdadeiro, os meteorologistas espanhóis afirmam que aquela temperatura nunca foi certificada ou medida de forma oficial.

Há semanas que vários países europeus enfrentam temperaturas acima do normal - em Portugal, por exemplo, já morreram mais de mil pessoas por causa da vaga de calor em julho e vários incêndios têm destruído milhares de hectares de floresta, património e vidas em vários países.

Especialistas do clima alertam que o aquecimento global aumentou a frequência de eventos climáticos extremos, com estudos a mostrar que a probabilidade de, por exemplo, as temperaturas no Reino Unido atingirem 40º C é, atualmente, 10 vezes maior do que na era pré-industrial.

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